39ª edição do Salão do Artesanato Paraibano homenageia sete artesãos e a criatividade que transforma papel em obra de arte
39ª edição do Salão do Artesanato Paraibano, que será realizada pelo Governo da Paraíba e Sebrae a partir desta sexta-feira (10), na orla marítima de João Pessoa (no estacionamento do Hotel Tambaú), vai homenagear sete artesãos que trabalham com o papel. Por meio das técnicas da papietagem e do papel machê, eles produzem obras de arte que encantam a alma e fazem muito bem ao meio ambiente. É que toda essa matéria-prima iria parar no lixo se não fosse utilizada na confecção das peças.
Com experiências de vida únicas, Adriano Oliveira, Babá Santana, Carlos Apolônio, Dadá Venceslau, Ednaldo Farias, Geolagens Oliveira e Socorro Souza vão se unir em torno da seguinte reflexão: “Qual o seu papel?”, o tema desta edição do Salão do Artesanato Paraibano. Conhecer um pouco a trajetória de cada um desses homenageados certamente irá ajudar na busca de cada um de nós por essa resposta.
Adriano Oliveira — Nascido em João Pessoa, Adriano Oliveira, de 42 anos, teve o primeiro contato com o artesanato na adolescência, ofício que aprendeu, como ele faz questão de ressaltar, com o mestre Babá Santana.
No pequeno atelier, localizado no Bairro de Mangabeira, na Capital, são criados pelas mãos criativas de Adriano animais, principalmente domésticos, sua grande fonte de inspiração. “Para mim, o artesanato é a oportunidade de fazer, refazer e reciclar”, revela.
Que espera do futuro? Qual o seu papel no artesanato? A essas perguntas, respostas firmes e dadas com expressivo orgulho nos olhos:
“Espero cada vez mais evoluir no artesanato, nessa arte que abracei. Já quanto o meu papel no artesanato, tenho a missão de mostrar um pouco da arte paraibana, da arte nordestina.”
Babá Santana — Manoel Iremar Santana, tão logo entrou para o artesanato, não teve dúvidas: tudo que viria a produzir a partir daquele momento teria o papel como matéria-prima, o sopro de vida de suas criações.
No atelier onde trabalha pela madrugada adentro, Babá, apelido carinhoso dado pela irmã e que se tornaria seu nome artístico, confessa: “Meu mundo é isso aqui. Eu não preciso de mais nada”, ao apontar para o espaço, repleto de personagens do mundo do circo, todos já encomendados.
O gosto pela confecção de palhaços tem um motivo nobre: levar alegria ao coração das pessoas. “O meu papel no artesanato é, através das minhas obras, mostrar que simplicidade deve ser a nossa maior fonte de felicidade”, completa Babá, nascido em Santa Luzia, Sertão paraibano.
Carlos Apollo — Carlos Antônio Apolônio da Silva tem 38 anos dedicados ao artesanato dos 58 que tem de vida. Nascido em Esperança, município do Agreste paraibano, o filho de agricultores, já falecidos, entrou em contato com o artesanato quando começou a trabalhar com adereços e cenografia para o teatro, em São Paulo.
Carlos Apollo, nome artístico que Carlos Apolônio adotou, aprendeu o fazer artesanal praticamente sozinho. “Aprendi com minha própria imaginação”, conta, sem esquecer de agradecer a tantas pessoas que lhe deram dicas preciosas.
Quando perguntado qual o seu papel no artesanato, responde sem titubear: “É ativar a imaginação com criatividade em obras de decoração e utilidades, gerando renda com consciência ecológica”.
Dadá Venceslau — Nascido em pleno domingo de Carnaval, Venceslau de Souza Justino, de 63 anos, logo ganhou um apelido carinhoso e que remete à alegria da época em que nasceu: Dadá, filho de um pai sapateiro e de uma mãe professora.
A relação com o artesanato começou ainda na infância, sendo fortalecida na adolescência, quando passou a viver das peças que produzia. “Em Patos, onde nasci, comecei a trabalhar com pedras, fazendo bonecos e palhaços, tudo que faço hoje, só que com outra tipologia, que é o papel, papelão e muito material reciclado”, conta.
Quando perguntado qual o seu papel no artesanato, a resposta vem no modo serelepe, assim como o personagem: “Eu ressignifico os materiais, minha missão é ressignificar — eu tenho certeza de que o meu papel como artesão é este: recolher o lixo e transformá-lo em arte, que eu costumo chamar de o luxo do lixo”, afirma.
O contato com o público se dá principalmente pela participação de Dadá nos Salões de Artesanato e em outras feiras País afora. Mesmo tendo múltiplas habilidades, inclusive a da interpretação — Dadá também é ator — ele define o artesanato como seu maior ofício.
O que o sertanejo de Patos espera para o futuro? “Não parar de evoluir, de melhorar como artesão e como pessoa cada vez mais.”
Ednaldo Farias —Transformar o que iria para o lixo e, assim, contribuir com um mundo melhor — esse é o papel que Ednaldo Farias Ferreira acredita ser o dele. Aos 42 anos e nascido em Alagoa Grande, no Agreste paraibano, o filho de um casal de agricultores viu no artesanato, lá nos idos de 2011, a oportunidade de mudar um pouco a sua história.
Quando perguntado sobre o que espera do futuro, Ednaldo é enfático: “Tenho procurado me qualificar e melhorar a cada dia, para que eu possa atingir o realismo de cada escultura e, dessa forma, agradar cada vez mais o público. Eu sou apaixonado pelo que faço.”
Para Ednaldo, o artesanato tem sido uma companhia inseparável, resultado de pelo menos dez anos de uma relação diária. O olhar atento no trabalho de tantos mestres foi o grande impulso que teve para o fazer artesanal.
Geo Oliveira — Nascido em São Mamede, no Sertão paraibano, Geolagens Oliveira aprendeu a olhar em sua volta o potencial que tem a cultura popular — observações que, mais tarde, virariam fonte de inspiração. Hoje, o que mais compensa é ele ver o impacto que sua obra provoca no espectador — daí o motivo por já ter presenteado tanta gente.
Do bordado, passando pela Arte Naïf, até chegar ao papel e dar vida a maracatus, folguedos e a personagens do universo sertanejo, como as moças velhas.
“Eu não sei fazer outra coisa a não ser estes personagens imaginários dos folguedos: Birico, Catirina, Mateus… E hoje eu uso o papel para dar vida a esses personagens, que para mim são universais”, revela o artesão psicólogo.
Que espera do futuro e qual o seu papel no artesanato? “Espero continuar brincando, pois utilizar o papel para dar vida a essas personagens é, antes de tudo, uma brincadeira muito divertida, no qual reafirmo minhas raízes”, externa. “Eu acredito que o meu papel no artesanato é contribuir para fortalecer a cultura popular, para me aproximar cada vez mais dessas raízes”, completa.
Socorro Souza — Nascida em João Pessoa, Socorro Souza conheceu as múltiplas possibilidades do artesanato ainda na infância — a menina muito pobre enxergou no fazer artesanal a chance real de atenuar as graves dificuldades financeiras que enfrentava.
Mas, além das dificuldades financeiras, impossível seria se ela não se apaixonasse pelo artesanato, prova disso é que não o abandonou, mesmo tendo conseguido formação superior de enfermagem pela UFPB — os conselhos da mãe e do pai comerciantes para a menina pobre apostar na educação surtiram efeito.
Quando perguntada qual o seu papel no artesanato, a enfermeira artesã é enfática: “É buscar a maior perfeição possível em cada peça que faço. Sempre me coloco no lugar do cliente e me esforço para ele voltar. E sei que, desta maneira, confeccionando minhas peças, estou também contribuindo para um mundo melhor.”