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João da Veiga Júnior

Por José Nunes

 

 

Alguns homens passam pela vida recebendo repouso nas artes, contribuindo para a construção da paisagem humana menos sofrível. A arte sendo o lenitivo para amenizar a sofreguidão que os olhos do coração percebem ao redor do ambiente onde a pessoa vive.

Durante o ano de 2025, haveremos de fazer memória ao historiador João Ribeiro da Veiga Pessoa Júnior pela passagem dos 50 anos de sua morte, ocorrida a 13 de fevereiro de 1975. Esperamos que alguma homenagem lhe seja tributada. Tenho motivos para lembrar da passagem das cinco décadas deste jornalista e historiador, não apenas pela contribuição à cultura da Paraíba, nem por ser avô de minha amiga Gisa Veiga, mas porque foi o primeiro ocupante da cadeira no 12 do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, que tenho a honra de ocupar.

Como guardião da cadeira no IHGP por ele ocupada, em respeito à sua memória, tenho por obrigação não deixar ao esquecimento seus feitos em favor das artes e das letras. A data do seu encantamento ou do seu nascimento devemos recordar com a mais sincera alusão. De João da Veiga Junior e do sucessor Deusdedit Leitão, a quem substituí, serei, naquela Casa da Memória da Paraíba, um provedor da herança cultural de ambos, simbolizada na cadeira a mim reservada.

Não o conheci, mas os amigos com os quais conversei deram testemunhos que me abasteceram para aumentar a minha admiração por ele. Temos algo em comum, que o destino vinculou. Os livros tornaram-se alimento, que os bancos universitários não reservaram para nós dois. Professamos a mesma fé transmitida desde Abraão e abraçada pelos nossos familiares, alimentada pela palavra, no pão e no vinho postos à mesa santa, como também, a devoção mariana apontando caminhos pontilhados de luzes.

João da Veiga Junior foi integrante do grupo fundador da Academia Paraibana de Letras, no ano de 1947, porque era um homem dedicado às letras. Ele consumia-se para guiar e transformar as pessoas pela palavra escrita, pelos gestos caritativos, usando o livro como arma de transformação. Silencioso, como deve ser todos os homens contaminados pelas artes e pela poesia mística dos salmos e dos Cânticos dos Cânticos, projetou-se pela literatura circunstancial.

Sua pequena criação literária foi bastante para notabilizá-lo entre o seleto grupo de intelectuais paraibanos a partir da década de 1920, quando a cidade fervilhava de autores com destacadas produções literárias, notadamente José Américo de Almeida, Celso Mariz, Álvaro de Carvalho, Carlos Dias Fernandes, Rodrigues de Carvalho, José Lins do Rego, mesmo que o autor de Menino de Engenho residisse outra cidade. Calado, como era de seu feitio, não precisou de alvoroço para se destacar no meio cultural na capital da Paraíba. Veiga Junior foi daqueles intelectuais silenciosos que constroem paredões para preservar a cultura e as artes, que somente o tempo reconhece. Pouco aparecia, mas muito ofereceu como contribuição para o engrandecimento da literatura paraibana. Mesmo que seja em pequeno o número de contos que publicou, sua contribuição ainda carece de um olhar crítico, de um estudo mais apurado porque são de boa qualidade estética.

No retrato dele que consegui modelar, a partir das descrições de seus amigos e familiares, percebe-se que se tratava de um homem sisudo, sem ser caturra, que tratava a literatura com seriedade, educado no trato com as pessoas, funcionário público exemplar, dedicado à família, católico fervoroso. Captei dele esses ensinamentos: quando escrever, não conseguindo bem expressar seu pensamento, “é melhor deixar a tinta adormecer no tinteiro”. Seus amigos davam testemunho de seu talento e traquejo na elaboração do texto, mesmo que fosse uma carta que a atividade burocrata no governo exigia.

Cronista brilhante, quando escrevia artigo para jornal ou revista – lembremos que colaborava com a revista Era Nova e o Jornal A União -. era um esmiuçador do assunto abordado, pesquisador paciente ao retratar sua época, a vida da cidade. Intelectual que não gostava de alarde, foi um artista da palavra que escrevia pouco para manter a pureza do texto e proporcionar o gosto da sua leitura. Admirava a música. Tocava flauta. Um homem silencioso que cativava quem dele se aproximava. Talvez a música e a poesia tenham moldado seu modo de viver e de recolher as amizades. É este homem, patrono da cadeira a mim destinada no IHGP, que devo manter viva sua memória.

 

 

Artigo escrito originalmente no Jornal A União desta quinta-feira, 25/7

Um comentário sobre “João da Veiga Júnior

  • Como neto de JOÃO RIBEIRO DA VEIGA PESSOA JÚNIOR (VEIGA JR.) agradeço as palavras e a lembrança do acadêmico JOSÉ NUNES .
    Gostaria de acrescentar que meu avô também escrevia numa revista de circulação nacional (ALMANAQUE EU SEI TUDO) e colaborador de uma revista angolana cujo nome nome não me ocorre agora.

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