Até tu, Barbosa! Renúncia de presidente de diretório municipal revela o estrago na liderança de Ricardo
O ex-governador Ricardo Coutinho assiste o desmoronamento do seu patrimônio político a cada dia mais reduzido diante das reações que sua intempestividade crônica provocou.
Passados quase um mês da dissolução do Diretório Estadual do PSB, estilhaços da violência cometida ainda atingem o socialista e nesta quinta-feira (19), uma das vigas mestra do partido desabou sobre ele, com a renúncia do presidente do PSB, na capital, Ronaldo Barbosa, que, se não tem densidade eleitoral, tem o peso de sua história dentro da legenda.
Ronaldo Barbosa – alguém sem mandato, sem voto e sem liderança, tinha uma atividade burocrática dentro do PSB, o que lhe emprestava apenas uma importância honorífica, mas, nesse momento ganha uma dimensão maior do que sua pessoa, ressaltada pelas circunstâncias que envolveram a dissolução do Diretório, e que marca com o ferrete da truculência a trajetória e o caráter do ex-governador abandonado até por quem não podia lhe abandonar, hipnotizados pelo magnetismo que flui da caneta oficial.
A renúncia de Barbosa, se não reflete prejuízo eleitoral, já que não possui redutos, provoca um estrago maior porque pendura no governador João Azevedo os adereços de uma nova liderança surgindo dos escombros produzidos por Ricardo ao agir como se o partido fosse uma propriedade privada, onde o proprietário não deve satisfações.
Como já se disse aqui, Ricardo perdeu em duas frentes: a estadual e a nacional, ao ter a sua imagem de líder inconteste pulverizada pelas renúncias e revelando ao presidente nacional que a sua tão decantada liderança tem muito de midiática construída quando o poder emprestava cores e feições de anjo ao mandatário.
A renúncia de Ronaldo Barbosa ganha conotações dramáticas para Ricardo pelas razoes alegadas consolidando sua faceta de desagregador e de pessoa ainda presa a um passado autoritário forjado no arbítrio que inspirava figuras como Trótski cuja lembrança remota sobrevive apenas nos livros de história.
Mas também tem quem comemore sua saída do partido. Para a vereadora Sandra Marrocos, uma das amazonas de Ricardo Coutinho, não surpreende a decisão de Barbosa nem fará falta ao deixar a legenda. Sandra deixa entrever que a renúncia teve sabor de alívio
Pela debandada, Ricardo virou passado.
Abaixo a carta renúncia de Ronaldo Barbosa, agora um fiel aliado de João:
Aos companheiros e companheiras do Diretório do PSB de João Pessoa
Aos filiados e Filiadas do PSB de nossa Capital
Aos socialistas da Paraíba e aos diversos movimentos sociais de nosso estado
CONTRA A INTERVENÇÃO NO PSB!
Diversos companheiros e companheiras têm construído ao longo desses anos um projeto político que se expressa no PSB. Projeto esse que saiu vitorioso em vários pleitos eleitorais e que, baseado na estratégia da hegemonia Gramsciana, buscou na ação eleitoral e nos movimentos sociais a consolidação de sonhos por aqueles e aquelas que acreditam no socialismo!
Na última campanha eleitoral, com a vitória deste projeto na Paraiba, nossa militância compreendeu que a construção do mesmo se consolidava e nos colocava no processo de direção da hegemonia do campo democrático e popular em nosso estado.
De repente, fomos surpreendidos por uma ação de destituir a direção estadual eleita democraticamente e por unanimidade no seu último congresso. Tal ação (de surpresa), ocorreu de forma autoritária e antidemocrática. Esta ação, entre várias outras que se seguiram, demonstrou que não é na calada da noite, com medidas de força e sem nenhuma transparência que divergências são superadas.
Sou prova do pedido de Edvaldo Rosas e de Ronaldo Benício, bem como do Prof. Rubens Freire (Vice-Presidente Municipal de João Pessoa) para que a verdade fosse dita. O presidente Nacional da legenda não responde às solicitações desses companheiros. Uma pergunta sem resposta até agora, mas que o povo quer saber: Aonde está a relação dos que pediram (SIC) renúncia do Diretório Regional? (grifo e destaque nosso).
Com diversos companheiros e companheiras, junto com a população, elegemos João Azevedo. Repito, JUNTOS! Não cabem afirmativas “que eu elegi 22 deputados” ou que eu elegi “o Governador”. O maior problema na política é quando o singular busca substituir o plural. O singular nega a história, nega o sujeito histórico, nega o papel do coletivo. A quem prega este singular tem meu repúdio.
Meus companheiros e companheiras são prova do que este Diretório Municipal de João Pessoa buscou na base social a consolidação de seu projeto político numa íntima relação com os movimentos sociais e com os partidos, cuja compreensão o socialismo nos uniu e possibilitou nossa reação ao Governo Bolsonaro.
É sobre esta questão minha outra preocupação: Em um momento em que se precisa dessa unidade, de nossa luta contra o autoritarismo, eis que alguns acham que o problema está no Governo João Azevedo ou em más companhias e até em Edvaldo Rosas. Não concordo com esta irresponsabilidade e quem a cometeu tem que dizer que errou e pedir desculpas ao povo da Paraíba!
Por estas razões e outras (cujo espaço de uma carta não cabe), peço renúncia da Presidência do PSB de João Pessoa e de seu Diretório Municipal. Fui Fiel ao projeto em 2004, em 2006, em 2008, em 2010, em 2012, em 2014, 2016, 2018, e continuo fiel a esse projeto e ao governador eleito por nós, João Azevedo. Quem quer romper com João Azevedo, que o faça, mostrando as razões, as divergências políticas. Se não o fizerem, a história cobrará!
“Dizer a verdade é sempre revolucionário”.
(Gramsci)
João Pessoa, 19 de setembro de 2019.
RONALDO BARBOSA FERREIRA