Governo ameaça cancelar patrocínio do BB à Agrishow após mal-estar por convite a Bolsonaro
Ministro da Secretaria de Comunicação diz que evento perdeu caráter institucional e que descortesia a Fávaro pesou na decisão
O governo federal ameaçou cancelar o patrocínio do Banco do Brasil à Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), em Ribeirão Preto, após um mal-estar gerado pela presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no evento. (via Folha de S. Paulo)
“Na medida em que o evento perde sua característica institucional e na medida em que houve essa descortesia com o ministro [da Agricultura, Carlos Fávaro] e com o Banco do Brasil, que iria acompanhá-lo no evento, não se justifica mais o patrocínio”, afirmou o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta.
Mais cedo, o ministro Márcio França (Portos e Aeroportos) contestou o patrocínio da instituição dizendo que, se os organizadores não querem o governo federal na feira, não sabia se o banco deveria continuar incentivando o evento.
Procurado, o Banco do Brasil informou que estará presente na Agrishow por meio de sua atuação comercial para realização de negócios e atendimento aos seus clientes. “O BB tomará as medidas cabíveis se, durante a feira, houver qualquer desvio das fi nalidades negociais previstas.”
A organização da Agrishow, por meio de sua assessora de imprensa, informou que não vai comentar o assunto enquanto não for notificada oficialmente pelo banco.
O Banco do Brasil é um dos principais agentes financeiros que participam como expositores da Agrishow. Neste ano, o banco tem previsão de gerar R$ 1,5 bilhão em negócios na feira agrícola.
Antes mesmo da Agrishow, foram promovidas ações comerciais em 377 eventos, mobilizando produtores rurais e empresas do agro para a realização de negócios, o que é visto como um ponto importante para impulsionar as negociações.
O banco disse ainda que, na safra 2022/2023, liberou R$ 154 bilhões em créditos —29% mais que na safra 2021/2022, com 500 mil operações em mais de 5.000 municípios. Sete em cada dez negócios foram fechados com agricultores familiares (Pronaf) e médios produtores (Pronampe).
Havia expectativa de que o ministro Carlos Fávaro (Agricultura) estivesse na abertura da Agrishow, principal referência em tecnologia agrícola na América Latina —mas o ministro decidiu não participar. É tradição que o titular da Agricultura compareça ao primeiro dia de evento, especialmente no início de novos governos.
Na terça-feira (25), uma conversa entre a direção da Agrishow e Fávaro terminou em impasse. O presidente da feira, Francisco Matturro, informou ao ministro que Bolsonaro participaria da abertura e que isso poderia causar algum tumulto ou constrangimento por manifestações contrárias ao governo —o agronegócio, em sua maioria, apoiou Bolsonaro na eleição do ano passado.
Segundo relato à Folha, Matturro sugeriu que Fávaro participasse da feira na terça (2), quando haverá reunião da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária).
A conversa desagradou ao ministro e, desde então, o governo passou a considerar não participar do evento.
A ausência frustrará o setor, já que havia a expectativa de que o titular da pasta anunciasse linhas de crédito para o agronegócio e desse detalhes da elaboração do Plano Safra 2023/24, que deve ser anunciado em junho.
Perguntado sobre a ida à feira durante um evento da Marfrig em São Paulo na quinta (27), Fávaro manteve a posição. “Desejo muito sucesso, que se repitam os recordes de comercialização e o sucesso de público.”
“O presidente da feira me ligou e perguntou se eu não achava melhor, se pudesse, ir no dia dois. Por que no dia um estariam na abertura o ex-presidente Bolsonaro e o governador Tarcísio. Disse que teria um grande evento no dia dois, mas que eu não fosse no dia um para evitar qualquer constrangimento. Recebi muito bem o recado. Compreendi e disse que não sentiria nenhum constrangimento, e que não iria no dia 1º. E iria repensar se havia possibilidade de ir no dia dois”, completou.
“Entendo que o Brasil precisa avançar. A Agrishow é uma feira de negócios, não é uma feira de palanque político. Mas, se quiserem transformar em um palanque político, é direito dos seus organizadores.”
Foto: Magno Romero/Divulgação