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Gerais

Motociclistas somam mais de 79% das vítimas no trânsito paraibano

Na Paraíba, somente de janeiro a junho deste ano, ocorreram 8.204 acidentes e 171 óbitos envolvendo motociclistas, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde. A quantidade de acidente com motos representa 79,2% do total de vítimas (10.346) de Acidentes de Transporte Terrestre (ATT) – que inclui carro, bicicleta e motocicleta.

O número pode ser maior, uma vez que contabiliza apenas os atendimentos feitos no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, na capital, e no Hospital Estadual de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, em Campina Grande. Segundo o especialista em trânsito, com cerca de 40 anos de experiência na área e ex-superintendente Executivo de Mobilidade Urbana de João Pessoa (Semob-JP), Nilton Pereira de Andrade, a combinação entre o grande aumento da frota de motocicletas e a imprudência dos condutores contribuem para essa realidade. (Veja crescimento da frota de motos no quadro).

Nilton Pereira explicou que é comum no Brasil a carência de um transporte público de qualidade. Por isso, a população recorre a meios de transportes como a motocicleta, mais barato e ágil. “O Governo Federal costuma dar vários incentivos para aquisição da moto e a população correu muito para comprar esse veículo, coisa que não se vê em outros países. Há ainda a grande imprudência dos motoristas, que cometem várias infrações. Isso se agravou com a chegada dos trabalhadores de aplicativos que atuam com delivery. O resultado disso é um número grande de acidentes”.

Nas ruas de João Pessoa, não é difícil observar motociclistas circulando sobre o canteiro central da via pública, ultrapassando carros em movimento tanto do lado da direita quanto da esquerda (corredores) e dirigindo em alta velocidade.

Essa combinação entre volume de motociclistas nas ruas e a desobediência ao Código de Trânsito Brasileiro (CTB) propicia o ambiente perfeito para o registro de ocorrências. “Esse tipo de comportamento pode resultar em acidentes que podem causar sequelas permanentes e até mortes”, destacou Nilton.

O presidente do Conselho Municipal de Entregadores de João Pessoa e Região Metropolitana, Leandro Martins, conhecido como Léo, afirmou que, infelizmente, esses trabalhadores se submetem a vários riscos no trânsito, mas que o Conselho não concorda com essa prática. “Não podemos fugir do fato de que esses entregadores adotam certa velocidade no trânsito, mas nós fazemos campanha e orientamos para que eles dirijam com mais cuidado. Tem uma frase que sempre usamos que é: ‘a entrega mais importante é a gente voltar vivo’. Porque temos família que depende dessa volta para casa. Mas, por causa de imprudência, que não é sempre do motociclista, muitos acidentes acontecem”, frisou.

Léo Martins declarou que uma das explicações para os trabalhadores de delivery andarem em alta velocidade no trânsito, cortando, muitas vezes, os carros, é porque alguns aplicativos definem o tempo desse trabalhador chegar até a casa do cliente e retornar ao estabelecimento. “E caso você não cumpra esse tempo, você fica prejudicado dentro da plataforma. Obviamente, tem também o fato de o entregador querer ganhar mais dinheiro, porque eles ganham por entrega, o que também não justifica andar de forma perigosa no trânsito”, ressaltou Léo.

O Conselho Municipal de Entregadores de João Pessoa e Região Metropolitana possui 317 profissionais cadastrados, entre motoboy, motogirl e o bikeboy. No entanto, ele frisou que cadastrados nas plataformas o número é bem maior, chegando a mais de 3 mil entregadores.

 

Crescimento da frota de motos na Paraíba

Dados do Departamento Estadual de Trânsito Paraíba (Detran-PB) mostram que a frota de motocicletas no Estado registrou um aumento de 831,3% nos últimos 20 anos.

-Em 2002 existiam 74.685 transportes deste tipo nos municípios paraibanos e no ano passado o número passou para 695.548.

-De janeiro a junho deste ano, o quantitativo de motocicletas alcançou 713.126 motos no Estado.

 

Alguns casos registrados na Paraíba

O número de acidentes envolvendo motos são noticiados frequentemente na imprensa paraibana. Um dos mais recentes foi a morte do estudante de fisioterapia, Jonas Trajano, que pilotava uma moto na BR-230 na última quinta-feira (27), na capital. Durante o trajeto, o fluxo de veículos onde Jonas estava reduziu e ele colidiu com uma carreta, morrendo no local do acidente.

Mortes com motos ocorrem em vários municípios do estado. No mês de maio, um homem morreu e dois ficaram feridos em um acidente envolvendo duas motos na Alça Sudoeste, em Campina Grande. O jovem Alexandro Silva, que veio a óbito, tinha 35 anos e os dois irmãos dele se feriram e foram levados ao hospital de trauma da cidade.  Na época, a Polícia Rodoviária Federal informou que Alexandro foi atravessar a via quando outra moto, que vinha no sentido contrário, bateu nele.

 

Apenas o Hospital Estadual de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena registrou aumento de 12,7% no número de acidentes com moto entre janeiro a 26 de julho deste ano. Foram 4.795 contra 4.252 no mesmo período do ano passado.

 

Estradas federais

O número de acidentes nas estradas federais da Paraíba, envolvendo motos, motonetas e ciclomotores, saiu de 360, nos primeiros sete meses do ano passado, para cerca de 400 no mesmo período deste ano, segundo a Polícia Rodoviário Federal (PRF). O aumento foi de 11%. Já o número de óbitos saiu de 23 para 34, alta de, aproximadamente, 48%. Um dado que chama a atenção é que, nos dois anos, mais da metade dos condutores envolvidos nos acidente não possuíam Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

De janeiro a julho do ano passado, 52% dos condutores não tinham o documento, e no mesmo período deste ano esse índice foi de 70%. Segundo o policial Rodoviário Federal, Ricardo Diniz, o dado é muito preocupante, porque mostra a falta de preparo destes condutores. “A gente tem percebido que houve um aumento de condutores sem CNH envolvidos em acidentes com óbito. Esse ano, o número foi muito alto. Mesmo sabendo que essa formação é importante, muitos condutores dirigem sem a CNH. Mas, isso não deve ocorrer de forma alguma”.

A multa para o motociclista que dirige sem a CNH é gravíssima, e o condutor ainda paga multa de, aproximadamente, R$ 870. Segundo Ricardo Diniz, a falta de atenção no trânsito – que leva a uma reação tardia do motorista, e também dirigir na contramão na rodovia são outras infrações comuns nas estradas que cortam a Paraíba.

Outra prática bastante discutida pela sociedade e vista, tanto nas estradas federais, quanto estaduais ou urbanas, é o motociclista trafegar no “corredor” da via pública, ou seja, dirigir por entre os demais veículos quando o trânsito está fluindo normalmente. Segundo o policial Ricardo, no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) essa prática pode ser enquadrada no Artigo 29, inciso 2º, que alerta o condutor para “guardar distância de segurança lateral e frontal entre o seu e os demais veículos, bem como em relação ao bordo da pista, considerando-se, no momento, a velocidade e as condições do local, da circulação, do veículo e as condições climáticas”. Neste caso, o condutor estará sujeito à infração grave, com menos cinco pontos na carteira, podendo pagar multa de R$ 195,23.

Para Ricardo, o motorista, seja de carro ou moto, deve respeitar todas as regras do CTB, praticar a direção defensiva e sempre ligar os equipamentos de sinalização do transporte, comunicando aos pedestres e outros motoristas qual será sua ação. “É importante ainda triplicar a atenção nos trechos de maior movimento, evitar excesso de velocidade e checar sempre a manutenção do veículo”.

 

Matéria assinada por Alexsandra Tavares para o Jornal A União

Foto de Markus Winkler: https://www.pexels.com/pt-br/foto/vista-aerea-asia-oriente-tiro-com-drone-12100418/

 

 

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