Euller nega autorização para espionar jornalista e atribui aos subalternos à iniciativa; governador teria mandado recolher 13 carros à disposição dos arapongas
Bem mais grave a situação da Polícia Militar do que se pensava diante da comprovada submissão da corporação as ordens do ex-governador Ricardo Coutinho e insubmissa as diretrizes do atual governo que não comunga com as práticas de espionagem, chantagem e intimidação tão em voga no passado recente e que foram detectadas pelas investigações da Calvário.
O episódio envolvendo o editor do Jampanews, Lelo Cavalcante e familiares, revela toda extensão da rede montada por Ricardo Coutinho para invadir a privacidade alheia como constataram as investigações ao concluir que o avassalador poder de coação do ex-governador estava alicerçado na chantagem e na intimidação de pessoas e instituições.
A denúncia feita por este portal envolvendo o veículo Ford Kar placa QQG-8034 locado pelo Governo do Estado e a disposição da P2 da Polícia Militar causou um rebuliço no Comando da corporação quando foi reunida a cúpula da “inteligência” na manhã desta sexta-feira (17) para identificar de quem partiu a ordem para espionar a residência do jornalista numa exibição de intimidação que chamou a atenção pela desfaçatez, ousadia e extrema estupidez de quem ordenou a missão criminosa, sob todos os aspectos, porque não compete a Polícia Militar fazer ações de investigação principalmente a civis.
A reunião para saber de quem partiu a ordem já que o comandante geral coronel Euller Chaves negou com veemência ter partido dele, resultou em principio no recolhimento de todos os veículos a disposição dos arapongas, que agora terão que voar por conta própria.
Em tom de indignação, o coronel Euller teria cobrado do auxiliar, chefe da P2, um oficial de meteórica carreira, mas de pouca inteligência, a responsabilidade pela missão designada para intimidação a Imprensa num retorno aos tempos sombrios da ditadura, onde esses porões das casernas chafurdavam na vida alheia.
O que se ressalta nesse episódio sombrio tão rotineiro e contumaz na gestão de Ricardo Coutinho é saber que essas excrecências do passado adquiriram autonomia tal que são capazes de realizar missões sem o conhecimento dos superiores hierárquicos como fizeram os ocupantes do Ford Kar QQG-8034, ao resolverem intimidar acintosamente o profissional de imprensa, ameaçando de forma ostensiva e descarada ele e sua família no melhor estilo Gestapo.
Por outro lado, o portal teve acesso a informação que a ordem teria partido diretamente do Governador via secretário de Segurança para que se fizesse um balanço de quantas viaturas estariam a disposição desse setor tão reservado da corporação voltado exclusivamente para elucidar crimes de seus integrantes, mas que hoje tem outra destinação bastante nebulosa supostamente dedicada a levantar dossiês, ameaçar e intimidar pessoas que desagradem o Governo ou o próprio comandante e agora até aos subalternos que utilizam veículos, combustível e tempo de serviço para missões, que fogem as suas atribuições legais, como ficou demonstrado nas incursões pelas redondezas da casa do jornalista.
Na contrapartida de toda essa demonstração de terror oficial a postura equilibrada e sintonizada com a legalidade que assumiu o secretário de Segurança Jean Francisco Nunes.
Ele de imediato mandou que se tomassem as providencias cabíveis, designando um assessor para entrar em contato com o jornalista, comprovando que dentro do Governo existem duas forças em confronto: uma acostumada e treinada para servir a organização criminosa, recorrendo aos métodos mais espúrios e agressivos que emprestaram tanto poder a Ricardo Coutinho; e a outra pautada pela constitucionalidade que deve orientar o Estado.
Mais uma vez a Polícia Militar confirma e comprova que a influência do ex-governador Ricardo Coutinho, dentro e sobre a corporação, não se encerrou com o fim do seu mandato. A fidelidade e a lealdade tão alardeadas pelo comandante nas redes sociais continuam firmes e fortes, alcançando inclusive patentes menores como a do major Tibério, uma dessas nulidades que prosperam nos canteiros da corrupção haja vista sua meteórica carreira durante o Governo de Ricardo Coutinho.