“Tal reunião”, perseguição e oração; o que Bolsonaro e filhos disseram após cerco da PF sobre golpe; veja a íntegra da reunião
A operação da Polícia Federal realizada na última quinta-feira (8) contra Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados aumenta a pressão no entorno do ex-presidente.
Caso seja processado e condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, o ex-mandatário poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.
Bolsonaro ainda não foi indiciado por esses delitos, mas as suspeitas sobre esses crimes levaram a Polícia Federal a deflagrar a operação batizada de Tempus Veritatis (que, em latim, quer dizer Hora da Verdade).
O ex-presidente já foi condenado pelo TSE por uso da máquina na última disputa presidencial e por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral e é alvo de diferentes outras investigações no STF (Supremo Tribunal Federal). Neste momento, ele, que tem 68 anos, está inelegível ao menos até 2030.
Em vídeo em que convoca apoiadores para uma manifestação no dia 25 de fevereiro, na avenida Paulista, Bolsonaro diz que estará presente para se defender de todas as acusações imputadas contra ele nos últimos meses.
Veja o que o ex-mandatário e os seus filhos já falaram sobre operação da PF:
‘EU NEM SABIA QUE EXISTIA ESSA GRAVAÇÃO’
Em entrevista à Record, veiculada na última sexta-feira (9), Bolsonaro falou sobre o vídeo em posse da PF de uma reunião ministerial realizada em 5 de julho de 2022, a três meses das eleições, ocasião em que ele e auxiliares discutem claramente cenários golpistas.
Segundo ele, a “a divulgação dela [reunião] não vejo nada demais”. “Tem trechos ali muito importantes que eu vou fazer os recortes e vou divulgar. Eu nem sabia que existia essa gravação. Se alguém tivesse pedido para gravar eu autorizaria.”
‘NÃO TEVE NADA DISSO’
Na mesma entrevista à Record, o ex-presidente responde sobre as acusações de que teria participado de uma tentativa de golpe de Estado.
“Esse termo golpe de Estado, abolição do Estado democrático de Direito, não é nem equivocado, é um crime falar isso daí. O pessoal do 8 de janeiro, no meu entender, foi levado para uma armadilha da esquerda, mas o que aconteceu foi baderna. Ninguém tentou de forma violenta, usando armas, como eles estão sendo condenados a 17 anos de prisão por causa disso, mudar o Estado democrático de Direito.”
“Quando você fala de golpe de Estado, geralmente é algo tramado na surdina. Tem que ter força militar, tem que ter arma e não teve nada disso.”
Ainda segundo ele, nunca existiu tentativa de golpe em seu governo. “Eu discutia tudo com os meus ministros justamente para se precaver.”
Bolsonaro ainda falou que sabia que seria perseguido, mas não tanto.
“EU NÃO TINHA PARTICIPAÇÃO NENHUMA”
O ex-presidente afirmou à Record que não tinha participação em suposto monitoramento de campanha pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e atribuiu ao general Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, decisões referentes ao trabalho de inteligência.
“Em dado momento [de reunião ministerial de 2022], Heleno falou que ia seguir os dois lados, se inteirar dos dois lados. É o trabalho da inteligência dele, que eu não tinha participação nenhuma”, afirmou.
“Eu raramente usava as inteligências que nós temos, das Forças Armadas, a própria Abin, a Polícia Federal. Não vejo nada demais naquilo. O Heleno queria se estender sobre o assunto, eu falei que não era o caso de ficar entrando em detalhes. Vai fazer uma operação, faça. A Abin tem esse poder de fazer operações e preservar as pessoas até”, continuou.
‘PEÇA DE PROCESSO’
Nas redes sociais, o ex-mandatário escreveu, no dia 9, que a “minuta” de estado de sítio encontrada pela PF na sede do PL, “nada mais era que peça de processo fornecida pelo ministro encarregado do inquérito.”
A minuta encontrada pela PF no dia 8 na sala de Bolsonaro na sede do partido em Brasília previa declaração de estado de sítio e decretação de uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) após a derrota nas eleições.
Também nas redes sociais, o senador Flávio Bolsonaro afirmou que “a mesma minuta do ‘golpe’ (que nunca foi cogitado) de Cid foi encontrada na sede do PL porque @jairbolsonaro pediu que a imprimissem para ele tomar ciência do que se tratava, já que nunca a tinha visto. Fim. A montanha pariu mais um rato…”
‘ORAÇÃO PELO BRASIL’
No sábado (10), o ex-presidente publicou um vídeo em sua rede social no qual participa de uma roda de oração em Angra dos Reis (RJ), dias após operação da PF contra ele e aliados e em meio ao avanço das investigações.
O vídeo foi gravado no que ele chamou “cercadinho de Mambucaba” —o ex-mandatário criou o hábito de receber apoiadores em sua residência de praia.
“Uma oração pelo Brasil – Deus, Pátria, Família e Liberdade”, escreveu na postagem. Bolsonaro não fala nada no vídeo, apenas aparece de costas escutando a oração de uma apoiadora.
“TAL REUNIÃO”
Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, usou o Instagram no domingo (11) para falar da reunião. Ele compartilhou um trecho de 35 segundos do vídeo, que tem cerca de uma hora e meia.
“O trecho da tal reunião ‘secreta’ que não querem que você assista. Apenas 35seg. Que golpe é esse, Meu Deus do céu?.”
“SEGUIREMOS RESISTINDO”
Após a prisão do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, por posse ilegal de arma de fogo no dia 8, Eduardo usou as redes sociais para se pronunciar sobre o assunto.
“Minha solidariedade ao Presidente do PL, @CostaNetoPL. O tratamento de quem tenta fazer oposição democraticamente no Brasil é pior do que o dado a um traficante. Seguiremos resistindo.”
O PL é o partido do ex-presidente Bolsonaro. A arma foi localizada pela Polícia Federal durante a ação de busca e apreensão no âmbito da operação que investiga a tentativa de golpe. As medidas ocorreram em seu endereço pessoal e também na sede do PL. A PF também encontrou uma pepita de ouro em posse de Valdemar.
“CORTINAS DE FUMAÇAS”
No dia 2 de fevereiro, Bolsonaro escreveu no X (ex-Twitter) que “o objetivo desde sempre foi me tirar de combate e toda a estrutura formada para abafar a pífia gestão que está no poder funciona como uma engrenagem de relógio. O que o amor não faz?!”
O comentário ocorreu poucos dias após a Polícia Federal cumprir no dia 29 de janeiro mandados de busca e apreensão para avançar na investigação sobre a atuação da chamada “Abin Paralela”.
Um dos alvos foi Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), vereador do Rio de Janeiro e filho do ex-presidente. Na nova ação, a PF mira pessoas que foram destinatárias das informações produzidas de forma ilegal pela agência de inteligência do governo federal.
Já o vereador escreveu no dia 6 de fevereiro que “na falta de ideias, realizações e rumo para o Brasil somente sobram as narrativas para criar cortinas de fumaças desviando o foco do que realmente interessa à nação, então diariamente miram Jair Bolsonaro. Até o mais inocente dos inocentes percebe.”
“PESCANDO EM PISCINA”
O ex-presidente afirmou à coluna Mônica Bergamo que a intenção da operação de busca e apreensão deflagrada em 29 de janeiro pela PF na casa dele de Angra dos Reis era “esculachar” com ele e sua família.
A PF tinha como alvo seu filho Carlos. “Querem me esculachar, me fazer passar por constrangimento”, disse.
Bolsonaro afirma que a intenção era encontrar algo que o envolvesse em algum crime, mas que isso não iria acontecer, já que ele não teria envolvimento com a Abin paralela citada na investigação. “Estão jogando rede, pescando em piscina. Não tem peixe.”
Folha/UOL