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ColunasGisa Veiga

Horrores na tragédia

O povo brasileiro não aprendeu com a pandemia, que atingiu a todos, de todas as classes sociais, tampouco está aprendendo com a catástrofe do Rio Grande do Sul. O que leva homens a saquear casas atingidas pelos alagamentos? O que os leva a estuprar meninas e mulheres nos abrigos? E as fake news?

A solidariedade passa longe dessa gente, quer esteja perto, quer esteja longe do cenário do desastre climático, o maior já enfrentado por aquele estado sulista. Vi, pela televisão, famílias chorando porque pessoas próximas, que vivem o mesmo terror, invadiram suas casas levando tudo o que havia de valor – televisores, computadores e outros objetos caros. Vi um homem se desesperar por uma moto velha, usada para seu trabalho, que também foi levada por marginais.

Vi famílias se revezarem na vigília de suas casas inundadas, de longe, para que não fossem violadas. Enquanto um grupo dorme, outro desperta, atento a qualquer movimento estranho. Tentam proteger o pouco que ainda pode lhes restar dessa tragédia.

E o que falar do desespero de mulheres e adolescentes vítimas de estupros no meio do caos? Se casos assim, em dias normais, já causam feridas que, muitas vezes, são levadas para toda a vida, imaginem numa situação em que se perde tudo ou quase tudo? É dor sobre dor, lamento sobre lamento, tragédia sobre tragédia.

Não bastassem esses perigos rondando de perto, o povo gaúcho se vê também atingido, indiretamente, por essa gente ruim que em tudo encontra uma oportunidade para se dar bem. Assim, multiplicam-se os casos de pessoas – às vezes usando imagens de famosos – fazendo apelos e arrecadando dinheiro para as vítimas dos alagamentos. Não adianta questionar se essas pessoas temem algum castigo divino, ou se não têm um mínimo de compaixão pelo sofrimento alheio. Tudo o que importa é se dar bem, os outros que se danem.

E as fake news? Ah, essas estão por toda parte, desde o início. São notícias falsas que buscam desacreditar governos e órgãos públicos, mentiras sobre caminhões sendo impedidos de entrar no estado com donativos às vítimas, informações fantasiosas de que empresários estariam atuando mais que instituições, de que estaria havendo desvios de doações e tantas outras. Até mesmo um vídeo antigo com helicópteros atribuídos ao governo de Israel em favor do Rio Grande do Sul foram postados nas redes sociais, além de várias outras fake news politizando uma tragédia que não tem partido nem ideologia, só sofrimento. Tudo isso desestimula doações e prejudica todos os desabrigados. 

Mas, viva!, ainda há gente solidária pelo país inteiro. Em todas as regiões, é comovente o apoio não só de governos estaduais e municipais, instituições e empresas, mas do povo, em geral, que se mobiliza para doações diversas. Bonito de se ver! Pessoas que talvez se imaginem sofrendo algo parecido, longe de suas casas, de seus pertences, de sua vida rotineira.

Como mulher, eu me comovi com a situação de mulheres que clamam por uma calcinha limpa e absorventes. Mulheres, vocês já imaginaram estar menstruadas estando na condição de desabrigadas, sem nenhuma roupa íntima e proteção? Imaginem o transtorno e a dor dessas gaúchas. Por isso é que, entre tantas opções de ajuda, optei por colaborar com o grupo Conectar Mulheres, coordenado por uma advogada de Guaíba. Basta um pix de qualquer valor para conectarmulheresadm@gmail.com

 

Gisa Veiga

Artigo publicado originalmente no Jornal A União

 

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