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O país da mentira e do hedonismo

Costumo ter um certo trabalho para funcionar como checadora de notícias para alguns familiares, amigos, colegas. Simplesmente porque eles não querem ouvir uma verdade que possa lhes incomodar. Fico, algumas vezes, irritada com a quantidade de mentiras que pessoas que estudaram em bons colégios – e têm acesso a informação – engolem e ainda as repassam.

Pior mesmo é quando detonam o jornalismo profissional, acreditando sinceramente que este, sim, é que é o grande gerador de notícias falsas. Como jornalista, não escondo minha indignação, mas essas pessoas pouco se importam, até acham graça.

Li no jornal Folha de S. Paulo que elas fazem parte de quase metade dos brasileiros que evitam ler ou assistir ao noticiário “às vezes ou sempre”, segundo indica o Relatório de Mídia Digital do Instituto Reuters, divulgado segunda-feira.

Segundo a notícia, a proporção de brasileiros que evitam notícias subiu para 47% em 2024, uma alta de seis pontos porcentuais em relação ao ano passado (41%). Não é pouco. E é preocupante.

Mais preocupante, ainda, é quando se libera e estimula as fake news. Agora, “liberou geral” a mentira na campanha eleitoral deste ano, em nome de uma suposta “liberdade de expressão”. Convenhamos, é muita cavilação desses políticos tentar confundir esse direito com liberdade para mentir.

Está provado, através de estudos científicos na área da comunicação social não só no Brasil, mas em outras partes do mundo, que as fake news podem, sim, ser relevantes na decisão do eleitorado. Este ano vai ser uma festa para os produtores de mentiras com cara de verdade. Afinal, pessoas que se alimentam preferencialmente de “informações” via internet, com destaque para as redes sociais, são levadas a acreditar que determinado fato existiu, existe ou corre o risco de existir.

Segundo a notícia da Folha, a pesquisa do Instituto Reuters ouviu 2.022 pessoas no Brasil por meio de formulários on-line em janeiro e fevereiro deste ano. E segundo a explicação de Rodrigo Carro, autor do capítulo do relatório que trata do Brasil, essa fuga do noticiário teria sido gerada pela “agenda pesada de jornalismo” nos últimos tempos, pautada pelas investigações do envolvimento do presidente Jair Bolsonaro e aliados nos ataques de 8 de janeiro e pelas coberturas das guerras na Ucrânia e Gaza.

Um leitor da Folha resumiu bem esse horror dos brasileiros por notícias confiáveis e checadas: “O Brasil (parece que esqueceram disso!) é o país do futebol, da malemolência e do hedonismo libertador”.

E não é que é mesmo?

 

Por Gisa Veiga

Artigo publicado originalmente no Jornal A União, edição desta quarta-feira, 19/6

2 comentários sobre “O país da mentira e do hedonismo

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