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Vício em apostas oferece risco à renda da população paraibana; “febre” se multiplica

Em sites, outdoors, redes sociais e televisão. As propagandas de apostas esportivas, também chamadas de bets, estão por toda parte, e cada vez mais brasileiros têm se rendido a uma diversão que pode parecer inocente, porém não tanto. De acordo com o estudo “Efeito das apostas esportivas no varejo brasileiro”, realizado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) e pela AGP Pesquisas, 38% dos entrevistados já realizaram apostas online, sendo que mais de 50% deles o fazem ao menos semanalmente e 63% já perderam dinheiro dessa forma.

Para o atendente Jhúlio Fernando de Miranda, as perdas fazem parte da prática. “Acho que todo mundo que aposta já perdeu. Tem que apostar o que se pode perder, que não vai fazer falta para pagar uma conta de água, de luz. O grande problema das apostas é o vício”, avaliou.

Ele contou que leva as apostas a sério desde que a prática foi legalizada no Brasil. “Já perdi bastante no início, mas nunca apostei alto, então eu perdia R$ 5, R$ 10. Mesmo assim, fazia falta. Eu pensava que podia ter saído com meus amigos em vez de ficar apostando”, comentou.

Ainda assim, ele afirmou que sabe se controlar e não insiste nas apostas quando percebe que está perdendo dinheiro. “Hoje em dia eu ganho mais do que perco”, afirmou.

Jhúlio contou que sempre gostou muito de esportes e foi daí que nasceu o interesse pelas bets, pois parecia seguro apostar em algo que ele tinha muito conhecimento. Sua preferência é pelo futebol, mas ele disse que recentemente também começou a apostar em basquete.

Ele disse que consegue ganhar um pouco de dinheiro, mas acredita que muitos influenciadores fazem propagandas irresponsáveis. “Tem gente que divulga ganhos enormes e tem um estilo de vista extravagante e eles até podem ter ganhado o dinheiro apostando, mas pra isso eles fazem apostas muito altas. É uma coisa irreal, mas muita gente acredita e acaba se viciando em aposta achando que vai ficar rico”, atestou.

Investimento ruim

Se a ideia é ganhar dinheiro, apostar é o caminho errado, de acordo com o economista Lucas Milanez. Ele avaliou as bets como “perigosas para o orçamento familiar” e destacou que essas atividades são desenvolvidas de forma a gerar uma ilusão de que sempre se pode ganhar. “O que não é verdade, por se fosse não haveria empresas lucrando com isso”, comentou.

Para ele, se a pessoa está com dinheiro sobrando e quer ganhar mais deve aplicar esse dinheiro em um fundo de investimento para ter uma rentabilidade. “Não em um lazer viciante, que tem um potencial nocivo”, argumentou.

Lucas Milanez lembrou ainda que, embora não seja novidade, esse tipo de aposta só foi regulamentada recentemente e avaliou que a regulamentação ainda muito frouxa, com propagandas em excesso.

Pesquisa

Ainda segundo a pesquisa da SBVC, neste ano 49% dos entrevistados que apostam aumentaram a quantidade de bets realizadas nos últimos meses, contra 35% que diminuíram (principalmente devido ao medo do vício). Esse aumento na realização de apostas esportivas online pode ter um efeito negativo sobre o consumo, uma vez que 64% utilizam a renda principal para apostar.

O estudo mostrou ainda que 63% dos entrevistados já se prejudicaram pelo menos uma vez com o uso da renda principal para realizar apostas, sendo que 24% afirmam ter problemas com certa frequência e 3% sempre.

As categorias mais prejudicadas até o momento têm sido vestuário (23%), itens de mercado (19%) e viagens (19%), embora os efeitos negativos das apostas esportivas online também apareçam até mesmo no pagamento de contas de água, luz e gás (11%). O impacto é mais pronunciado nas classes C (54% dos apostadores) e B (33%). “É um público que experimenta restrições de renda e, movidos pelo desejo de uma renda extra aparentemente fácil de obter, arriscam a sorte”, afirmou o presidente da SBVC, Eduardo Terra.

O estudo “Efeito das apostas esportivas no varejo brasileiro” ouviu 1.337 consumidores de todas as regiões do país, em um painel online quantitativo com um perfil amostral que representa a demografia da população brasileira.

Bolsa Família

Pesquisa do Datafolha revelou que 17% dos beneficiários do Bolsa Família apostam ou já fizeram apostas online. Desses, quase um terço relata gastar ou ter gasto mais de R$ 100 por mês. Seis em cada 10 dizem apostar mais de R$ 50 por mês. A pesquisa apontou também que as apostas têm maior adesão entre homens jovens.

As entrevistas, realizadas com 2.004 pessoas em 135 municípios, ocorreram em dezembro de 2023, mês em que o Bolsa Família havia repassado uma média de R$ 680,61 a mais de 21 milhões de famílias.

Como funciona

Para apostar, primeiro é necessário criar uma conta em algum site de apostas e depositar algum dinheiro para, a partir daí, escolher qual aposta deseja fazer com esse saldo. As mais simples consistem em escolher qual time deve vencer uma determinada partida. Também é possível fazer apostas mais elaboradas, como quantas defesas um determinado goleiro fará ou quantos chutes a gol serão realizados por um certo jogador.

No momento da aposta, o site já informa quais serão os possíveis ganhos. No caso de um 4, por exemplo, significa que quem deu o palpite correto ganhará R$ 4 para cada R$ 1 apostado.

As apostas em futebol são mais comuns, mas muitos sites oferecem a oportunidade de apostar em partidas de vôlei, basquete e tênis, entre outros esportes. Além das apostas esportivas, muitos sites de bets também funcionam como cassinos online, com jogos de cartas, roletas, etc.

Regulamentação

A Lei 14.790/23 foi sancionada no último mês de janeiro e regulamenta as apostas de cota fixa, em que o apostador sabe qual é a taxa de retorno no momento da aposta. Essa modalidade de aposta geralmente está relacionada a eventos esportivos. A lei abrange apostas virtuais, físicas, eventos esportivos reais, jogos on-line e eventos virtuais de jogos on-line.

Pelo texto, as empresas poderão ficar com 88% do faturamento bruto para o custeio da atividade. Sobre o produto da arrecadação, 2% serão destinados à Seguridade Social e os 10% restantes serão divididos entre áreas como educação, saúde, turismo, segurança pública e esporte.

 

Texto de Bárbara Wanderley para o Jornal A União (publicado neste domingo, 7/7)

Foto: Reprodução/Foto: Editoria de Arte de O Globo

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