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Abstenções preocupantes

Os brasileiros parecem cansados da política. Ou dos políticos. O alto índice de abstenção no segundo turno das eleições municipais (29,26%) não deixa dúvidas de que o entusiasmo em relação às eleições está num nível bem abaixo do normal. Para se ter uma ideia, só perdeu para o período da pandemia, quando 29,53% dos eleitores deixaram de ir às urnas, a maioria impulsionada pelas restrições impostas durante o período. Naquela época, havia sobejas razões para isso. E o que houve agora? Como explicar?

Foram quase 10 milhões de brasileiros que ignoraram o segundo turno. A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, prometeu um estudo sobre essa situação. Em alguns pontos do Brasil, a ausência dos eleitores pode ser explicada, como no caso do Rio Grande do Sul. Lá as enchentes não apenas dificultaram o deslocamento de eleitores, como também causaram danos na organização da distribuição de urnas e de inúmeras seções que foram obrigadas a mudar de endereço. Tudo muito complicado.

E no restante do país?

Nos últimos anos, a polarização política que atingiu e danificou amizades, a harmonia familiar, o respeito entre os diferentes, a saúde mental de muita gente e produziu uma leva de discursos histriônicos – com ou sem lastro em fatos verídicos -, pode estar apresentando sua “ressaca”. Diante de escândalos que passeiam entre direita e esquerda, talvez os eleitores estejam se perguntando se vale a pena abrir mão de sua tranquilidade mental e pessoal para defender político X ou Y, ou até mesmo brigar ou matar – e morrer – por eles.

Muitos brasileiros alimentam uma ignorância orgulhosa. Eles teriam orgulho, com posturas mimetizadas de professores e especialistas, de suas opiniões sem lastro na verdade. Têm opinião demais sobre fatos de menos. Já ouvi várias vezes o jornalista Reinaldo Azevêdo sacar do termo “fake opinion”, inventado por ele, para caracterizar opiniões sobre fatos sabidamente inexistentes ou distorcidos. É o que mais rola na internet.

Mas, os fatos teimam em aparecer. E aí, a cabeça do eleitor cabeça-dura, arrogante, brigão (seja de que lado estiver, seja de que cor ideológica for) pode ter um insight: “Será que estou dando uma de bobo? Estou exagerando?”. O que não significa que, de uma hora para outra, esses homens e mulheres de opinião desgarrada da realidade tenham um surto de clarividência que os transporte ao mundo real dos acontecimentos. Mas, pode ser um começo.

Seria impensável, nesse curto espaço, arriscar um diagnóstico preciso do fenômeno da forte abstenção do eleitor. Caberá, claro, aos estudiosos da academia um exame acurado do que aconteceu, chegando a preocupar o TSE. A partir do estudo, o tribunal poderá indicar caminhos para a retomada do interesse dos brasileiros pelo voto. Ir às urnas é fundamental para se fazer a vontade do eleitor. Vejam o exemplo de Fortaleza, onde os candidatos do PT e do PL disputaram a eleição voto a voto, e o petista venceu por uma diferença de menos de 1% dos votos válidos.

Parabéns ao TSE pela iniciativa do estudo. E que dele resultem as verdadeiras causas do fenômeno e, em consequência, que as autoridades levem a sério o assunto para também estudar as soluções para barrar esse mal. Sim, a falta de participação dos brasileiros numa eleição é um mal. Faz mal ao país, faz mal à democracia, que já ficou tão combalida nos últimos tempos!

E viva a democracia!

 

Gisa Veiga

 

 

 

 

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