PRF diz que, de janeiro até final de outubro, houve 712 tombamentos em rodovias da PB
Seu Francisco Azevedo é caminhoneiro há mais de 20 anos e já presenciou bastante coisa em suas viagens. Uma dela foi, há alguns anos, o tombamento de um caminhão que seguia na sua frente na rodovia. Segundo ele, não foi imagem bonita de se ver. “Presenciei na minha frente. Até parei e fui socorrer o cara na época. O caminhão estourou o pneu dianteiro quando eu ia atrás dele. Ele passou por mim e, em fração de segundos, estourou o pneu, ele pegou e virou. O caminhão caiu de lado, o cara ficou preso nas ferragens. Havia duas pessoas, e, com o impacto, um foi lançado para fora e o outro ficou preso nas ferragens. Por sinal, ajudei a regatá-lo, e conseguimos fazer isso antes mesmo do socorro chegar”, conta Azevedo.
De 01/01/2024 a 31/10/2024, a Paraíba teve em suas rodovias e estradas um total de 712 tombamentos, segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Nesse caso, o sinistro “tombamento” pode ser analisado de duas formas. A primeira ocorre quando o veículo propriamente tomba no asfalto, sem maiores intercorrências ou outros sinistros. A outra forma é quando o tombamento acontece após uma sequência de sinistros, como colisão dianteira, lateral ou transversal, por exemplo. Entre os números, 224 foram de tombamentos propriamente ditos, enquanto 488 foram resultantes de uma série de sinistros.
“Tombamento tecnicamente é quando o veículo fica solto e ele tomba sobre sua lateral. Então ele fica lateralizado sobre o lado esquerdo ou lado direito. Quando ele gira sobre o próprio eixo, isso é considerado capotamento. Por exemplo, quando um caminhão tomba e fica com suas rodas lateralizadas, é considerado tombamento. Se ele dá mais um giro e fica com as rodas viradas para cima, é considerado capotamento. Mesmo que o veículo pare na posição final lateralizado, a gente analisa a dinâmica do acidente pra ver se, antes dele parar, ele capotou ou apenas tombou, pelos danos no veículo”, explica o procedimento de identificação do sinistro o policial rodoviário federal Ricardo Munis.
Quando perguntado sobre o que, na sua opinião, seria a causa do número de tombamentos na Paraíba, Seu Francisco, o caminhoneiro, não titubeia. Ele considera que há muito desses acidentes não apenas no estado, mas por todo o Brasil. “O fluxo de veículos é grande e acidentes acontecem, principalmente em relação à falta de foco, muita gente dirigindo, muita gente apressada, todo mundo quer chegar cedo, é isso que provoca acidente. Depende também de quem vai conduzir o veículo, se você está trafegando numa rodovia perigosa, você tem que ter cuidado, tentar se precaver. É assim que se evita acidente. A pressa é inimiga da perfeição. Os acidentes acontecem por causa de pressa, todo mundo agitado e todo mundo tem o que fazer”, opina Azevedo.
A leitura do caminhoneiro a partir de sua experiência vai ao encontro das principais causas de tombamentos de veículos segundo a PRF. No caso dos tombamentos propriamente ditos, as principais causas envolvem principalmente ausência de reação de condutores e reação ineficiente do condutor, ao lado ainda de falhas mecânicas e avarias e desgastes de pneus. Em referência aos tombamentos numa sequência de eventos, as colisões também são causadas por ausência de reação de condutores, acesso a via sem observar demais veículos, não manter distância dos demais veículos e reação ineficiente do condutor.
“As principais causas normalmente são fatores humanos. Normalmente o condutor está distraído ou não presta atenção numa curva ou num objeto que passa pela via, ou vai fazer uma manobra, não consegue desviar e acaba tombando. Quando envolve motocicleta e é uma sequência de eventos, a causa é não manter distância de segurança. Quando o agente principal é somente tombamento, a segunda causa é falha mecânica ou reação insuficiente do condutor, uma avaria dos pneus. E por último, a quinta causa que está relacionada é detrito ou areia no pavimento, que faz com que o veículo tombe. E muitas vezes, vai ser um sinistro com lesão, com gravidade, e normalmente é uma motocicleta”, explica os dados Munis.
Ao contrário da imagem que se tem sobre tombamento de veículos, que geralmente envolve caminhões ou carretas, são as motocicletas que lideram de forma disparada como o veículo que mais registra tombamentos. No caso de sinistros de tombamento propriamente dito, as motocicletas correspondem a 83% dos veículos envolvidos, seguida dos automóveis e caminhonetes, com 5,7%, e também os próprios caminhões, também com 5,7%. “Quando a gente fala do tombamento que já está incluído numa sequência de eventos, uma colisão traseira, uma colisão lateral seguida de um tombamento, a motocicleta ali está incluída entre os 47%, 50% dos sinistros”, adiciona o policial. Nesses casos, o número é seguido dos automóveis e caminhonetes, com 32,3%, e caminhões, com 8%.
Outra imagem que se tem dos tombamentos é de que eles ocorrem mais plenamente em rodovias ao longo do estado, mais próximos das cidades do interior. Para surpresa, a maior parte dos tombamentos acontece mesmo nas regiões metropolitanas. O policial Munis explica o porquê: “É onde a gente tem um maior número de motocicletas, maior número de veículos de passeio, automóveis. Apesar da baixa velocidade, há o sinistro, há a colisão, seguida do tombamento. Há uma concentração em regiões metropolitanas do caminhão e da carreta, mas ainda se lidera a ausência de reação, a reação tardia, ou que o condutor estava dormindo naquela ocasião”, explica.
A melhor prevenção para esse tipo de acidente, segundo o policial, ainda é manter e redobrar atenção na direção. É preciso ter atenção ao manter distância de segurança em relação aos demais veículos e sempre indicar com antecedência a manobra a ser realizada, seja com seta, seja com algum gesto, no caso de motociclistas. Além disso, ele lembra que, mesmo o uso do telefone celular sendo proibido ao dirigir, muitas pessoas acabam provocando ou sofrendo acidentes por conta dos aparelhos. “A gente verifica pelos dados que há muitos condutores envolvidos em acidentes distraídos muitas vezes em uso do telefone celular para mandar mensagem, atender ligação. Não utilizar de forma alguma o celular ou qualquer outro meio que venha a distrair a pessoa na condução porque é um segundo para ocorrer um acidente. Numa ausência de reação, você consegue frear, aplicar a frenagem, mas às vezes a ela não é suficiente e você vem a colidir no veículo da frente, no veículo que está parado, ou quando vai fazer uma curva, você não reduz a velocidade”, finaliza Ricardo.
Confira dados sobre tombamentos na Paraíba em 2024:
Tombamentos propriamente ditos:
Dias da Semana: maior frequência às terças e quartas-feiras
Horários: picos entre 6h e 8h e 17h e 19h
Períodos: 44,2% à tarde, 32,5% pela manhã
Feridos: 71% são homens
Habilitados: 27% dos condutores não são habilitados
Tombamentos na sequência de eventos:
Dias da Semana: maior frequência às quintas-feiras, sábados, domingos e segundas-feiras
Horários: picos entre 6h e 8h e 17h e 19h
Períodos: 43,03% à tarde; 28,28% pela manhã
Feridos: 76% são homens
Habilitados: 33,7% dos condutores não são habilitados
Fonte: PRF-PB
Matéria de Emerson da Cunha para o Jornal A União deste domingo, 24/11
Foto: Reprodução/redes sociais