No meu tempo…
Praticamente todos, de qualquer idade, já ouviram de seus pais a frase “Na minha época…”, ao fazer uma comparação entre os costumes das suas gerações.
Sempre tive medo de repetir essa frase para meus filhos, temendo ser alvo da mesma visão que eu tinha quando muito jovem: a de que a geração passada era ultrapassada. Só depois de adulta vim entender o significado daquela frase dita com saudosismo. É maravilhoso poder sentir saudades de um tempo bom, prazeroso, ter histórias para contar, cantar músicas que marcaram várias etapas da vida. Pois é, depois até senti algo parecido com inveja da época vivida pela minha mãe, 40 anos mais velha do que eu.
No meu tempo… não havia celular, a gente conversava olho no olho com os amigos, frequentávamos suas casas, saíamos juntos. Até sabíamos onde encontrar algumas pessoas com as quais gostaríamos de nos encontrar num fim de semana qualquer. Delícia de vida!
Ninguém achava o máximo passar o tempo todo em casa, trancado num quarto, como o meu caçula, também 40 anos mais jovem do que eu, amava ficar na sua adolescência inteira. “Você mora na praia, vá tomar um banho de mar, pelo menos”, eu insistia.
Nem se abalou com a pandemia. Estava no seu mundinho, como sempre. E parecia feliz, tranquilo. E eu tive que aprender que ele vivia e vive bem do seu jeito, um jeito que ainda me parece estranho, mas é o jeito dele, dos amigos dele, da turma toda.
No mundo do trabalho, muito já se falou da geração Z (depois dela já vieram a Alpha e a Beta), que, muitas vezes, não parece disposta a respeitar hierarquia, quer reconhecimento rápido e um tanto exagerado, e estaria sempre insatisfeita. Não gosto de generalizações, mas, claro, há diferenças entre as gerações. E uma delas, felizmente, é a rejeição por cigarros. Que maravilha! Já no meu tempo…
As diferentes formas de ver o mundo podem gerar conflitos em todos os ambientes, seja na família, no trabalho, na universidade, na igreja ou qualquer outro ambiente. Na família, no entanto, requer mais atenção, já que as relações são afetivas, envolvem emoções diversas, experiências diferentes. Equilíbrio é a palavra-chave. Se os filhos precisam ouvir os pais, estes também precisam estar dispostos a equilibrar as diferenças.
Não há uma fórmula perfeita para lidar com essa crise de gerações. Uma pesquisa feita pelas consultorias ASTD Workforce Development e VitalSmarts, em 2022, observou que um em cada três entrevistados afirmou que a empresa gasta cinco horas ou mais, por semana, gerenciando conflitos entre as gerações, resultando em uma perda de 12% na produtividade. Isso significa que é preciso repensar as relações no meio corporativo, e isso envolve todos, de todas as idades.
Nas famílias, também é necessário uma boa dose de conversa, embora mantendo a autoridade dos pais. Eu fiz um esforço tremendo para aceitar o meu caçula estudando para o Enem só através do computador. Não abria livros físicos, embora eu os tivesse comprado. Tirou um notaço em português, passou na primeira oportunidade, primeiro período, para o curso que ele queria (Ciência da Computação) e já trabalha na área desde a época da universidade, agora como profissional (um excelente trabalho em home office).
“Você não acreditou em mim”, disse ele, quando passou no Enem. De fato, eu não acreditava mesmo. Envergonhei-me e pedi desculpas. E procurei, cada vez mais, entender e até curtir nossas diferenças. Meu menino é um jovem adulto realizado e com metas definidas para o seu futuro. Então, não tenho do que me queixar.
Esse artigo não tem a intenção de ser um manual de convívio geracional, longe disso. Foi motivado, apenas, pela dificuldade de algumas pessoas mais próximas lidarem com seus filhos bem mais jovens. Obviamente, uma geração é influenciada pelo ambiente, pela cultura em que está inserida e tem sua própria visão de mundo. Mas cada um tem a sua individualidade, e a partir dela é que a relação se fortalece.
Se isso valia, também, para a “minha época”, hoje, talvez, muito mais.
Você incisiva nessa análise, Gisa!
O importante foi chegar a entender as diferenças entre as gerações e que decisões, como as do seu jovem filho, têm que ser respeitadas; nunca descartadas.
As gerações acompanham os avanços da tecnologia que, no nosso tempo, sequer imaginávamos que um dia viessem a interferir no ambiente afetivo familiar.
Daí a necessidade de sempre comparar o ontem e o hoje.