A boneca de Olinda
Decepção. Não para Fernanda Torres, nem para o Brasil. Decepção para a Academia de Cinema.
“O Oscar perdeu a chance de fazer história coroando sua atuação, Nanda. Mas que vitória é esse filme!”. O comentário de Tiago Iorc, nas redes sociais, dirigido a Fernanda Torres, traduz o meu pensamento.
Em meu recente artigo no Jornal A União, publicado nesta semana que passou, eu havia comentado: “Nada de se contentar apenas com a indicação de melhor filme ou melhor filme internacional e melhor atriz, como se a academia estivesse fazendo um favor aos grandes talentos brasileiros. Nós queremos mais, queremos o Oscar que nos deve desde o tempo em que a mãe de Torres, Fernanda Montenegro, foi indicada ao prêmio de melhor atriz. Foi uma grande injustiça da academia não tê-la aprovado como a melhor atriz naquele ano”.
Mais vergonhoso seria não premiar o filme de Walter Salles como o melhor fora dos Estados Unidos, láurea que invariavelmente é dada a países europeus. Pelo menos esse ciclo o Brasil rompeu. Com muita luta, muito talento, muita garra do diretor.
O Brasil inteiro vibrou com a vitória histórica. Pasmem, foliões do Carnaval de Salvador pararam para focar num telão, colocado em uma das ruas por onde passam os blocos, e acompanhar a votação dos brasileiros. Depois da estatueta nas mãos de Salles, aí é que o Carnaval pegou fogo!
Os Estados Unidos precisam, ainda mais, reconhecer que não são os detentores de todos os talentos do cinema, que há vida inteligente fora de seu mapa e que, particularmente, o cinema brasileiro não é de brincadeira. O Brasil faz um excelente cinema, tem maravilhosos atores e atrizes. Nesses tempos de globalização, o Oscar tem que deixar essa mania de “reserva de mercado” para os norte-americanos, se quer continuar sendo respeitado como o maior prêmio mundial do cinema.
Fernanda não levou a estatueta, mas brilhou como nenhuma outra estrela de cinema ali presente na premiação. Perdeu o Oscar, mas disse que o maior prêmio foi virar boneca de Olinda.
Né?
Por Gisa Veiga
Texto maravilhoso, sempre. Vc se supera a cada dia. Primoroso, sensível. Amoooooo ler tudo que fazes.