A política do chilique
Vivemos numa “república do chilique”, termo cunhado pelo jornalista Vinicius Torres Freire, da Folha do S. Paulo, ao se referir à queda de braço entre os Poderes.
Eu diria que o mais “chiliquento” é o Congresso Nacional, que pensa existir um parlamentarismo, um semipresidencialismo ou sei lá o quê. Vamos afunilar: o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, é o representante do Parlamento dessa república. Alguma dúvida?
Qualquer ameaça ao seu poder, pronto, lá vem ele com indiretas, diretas, enviesadas e ameaças pra todo lado. Esquece que estamos numa democracia, uns perdem, outros ganham batalhas, é assim que funciona. Ou será que, em vez de presidencialismo, ele gostaria mesmo de implantar a monarquia? Com ele sendo o rei, claro.
Após a derrota na votação na Câmara que manteve na prisão o deputado Chiquinho Brazão, acusado de mandar matar a vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson, o chilique foi realmente histriônico. Quando se joga para ganhar, perder nunca é algo agradável, mesmo, eu entendo. Mas, numa sociedade saudável, e especialmente numa democracia, saber perder também pode ser, digamos, “uma arte” do bem viver.
Mas Lira tomou a derrota como algo pessoal. Sentindo-se ameaçado, partiu pra cima do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, chefe de articulação política, a quem considerou seu desafeto pessoal e incompetente. Sobre ser seu desafeto pessoal, nada posso dizer. Mas, incompetente, isso não parece refletir a verdade. Aliás, foi pela competência do Padilha, que não vai pra casa – Lula já disse que só por teimosia ele ficará muito tempo no cargo -, que Lira chorou e agora jura vingança.
Do lado do governo, os ministros perturbados com a animosidade dos parlamentares choramingam ou esperneiam, ou elaboram algum novo tipo de chilique. Não ouviram dizer que em teto de vidro as pedras podem provocar estragos? Ou até quebrá-los? Faz parte do jogo.
No Judiciário, e em especial no STF, o chilique é mais comportado, bem fundamentado, disfarçado. Mas excesso de banimento de contas nas redes sociais também pode ser traduzido como chilique. Especialmente fora do período eleitoral, quando enfraquece o poder das fake news de influenciar eleitores.
Até quem está fora do poder, como Bolsonaro, adora um chilique, e não perdeu a oportunidade de um showzinho contra os próprios aliados. E o Pastor Sérgio Queiroz também fez o dele, em seguida.
Mas, o fato é que ninguém ganha, em termos de chilique, para Lira. Se isso surtirá algum efeito político, o futuro próximo dirá.
(Veja mais chiliques de Lira em notícia postada nesta quarta-feira)
Artigo publicado originalmente no Jornal A União, edição desta quarta-feira, 17/4