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ColunasGisa Veiga

A relativização do estupro

Daniel Alves e Robinho. Dois jogadores ricos e bem-sucedidos que acham que tudo podem, inclusive estuprar mulheres.

Pode isso, Arnaldo?

Choveram, nas redes sociais, defesas dos dois. Tipo: as mulheres acabam sendo culpadas, porque se entregaram talvez até já pensando em arrancar uma grana preta. Ou: são vadias, bêbadas, vivem na farra.

É claro que existem as espertas. Mas eles não parecem tão bobinhos assim a ponto de cair na armadilha de uma garota qualquer, nem isso justifica o estupro. Aliás, nada justifica.

Cuidado ao defender certos tipos de gente. Geralmente, bandidos é que defendem bandidos. Até entendo familiares e amigos próximos que não abandonam aqueles que cometeram algum tipo de crime, o que não significa, necessariamente, apoiar o crime ou a ilegalidade. Que mãe abandonaria um filho, ainda que abominasse alguma atitude vil praticada por este?

Há quem faça um link desses casos com o bolsonarismo e a direita, que fecha os olhos aos crimes cometidos pela turma a qual pertencem ou defendem (os dois, coincidentemente, são bolsonaristas roxos). Pode parecer uma generalização cavilosa, claro, porque existe gente assim em qualquer lugar, partido, classe social ou profissão. Mas por que gente com esse perfil defende tanto esses criminosos? Por que relativizar algo tão desprezível? Por que as pessoas estão tão condescendentes com atitudes criminosas?

Penso que o mundo se tornou muito pior de uns anos pra cá. As pessoas já não têm vergonha de exibir símbolos nazistas, de mostrar seu lado cruel, desumano, zero empatia. Até parece que virou status defender crimes bárbaros, inclusive de instituições, de governos, de partidários. É como se quisessem ser temidos por suas opiniões sanguinárias e ilegais.

Além disso, misoginia nunca saiu da moda. Diminuir a mulher – na profissão, na vida social, nos relacionamentos tóxicos – continua valendo.

É, de fato, eu tenho medo de gente assim. Gente que adora “lacrar” com pose de mau, de perigoso. Prefiro a distância a ter que discutir e argumentar com essa turma – me refiro a qualquer um que age assim, seja de que planeta ideológico for. Sinto como se estivesse atirando pérolas aos porcos.

Voltando à questão do estupro, vá agora no Google, escreva a palavra estupro, escolha a opção Notícias e veja quantos casos, todos os dias, são divulgados no país ou mesmo no estado. Certamente você encontrará notícias fresquinhas de hoje. Casos terríveis acontecem dentro de casa, com vizinhos, com desconhecidos. Isso sem contar os casos não notificados porque as vítimas, muitas vezes, sentem vergonha, como se culpadas fossem. Porque é assim que a sociedade as trata.

Estou exagerando?

 

Por Gisa Veiga

Publicado originalmente no Jornal A União

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