Agricultura familiar indígena da Paraíba deverá instalar agroindústria de beneficiamento de frutas, óleo de coco e doces
A agricultura familiar desenvolvida pelos indígenas nas 32 aldeias do litoral norte da Paraíba deverá ter reforço com a instalação de uma agroindústria que irá atuar no beneficiamento de frutas, com a produção de polpas congeladas e de sucos naturais, além de óleo de coco, doces e conservas.
O projeto para essa agroindústria será apresentado ao Ministério dos Povos Indígenas nesta quinta-feira (27), em Brasília, pelo vereador Ronaldo do Mel (sem partido) – na foto –, vice-presidente da Câmara Municipal de Baía da Traição (CMBT). Atualmente uma das principais lideranças indígenas da Paraíba, Ronaldo do Mel estará na audiência agendada com a ministra Sônia Guajajara acompanhado pelo coordenador-geral do Instituto de Desenvolvimento Habitacional de Interesse Social (Idehais), Jan Paulo de Lima, e pelo cacique da Aldeia São Miguel (de Baía da Traição), Pedro Thiago Rodrigues.
“Nesta audiência marcada com a ministra Sônia Guajajara, vamos apresentar as demandas do povo potiguar, como o projeto dessa agroindústria e o nosso trabalho para eliminar o déficit habitacional nas 32 comunidades indígenas do litoral norte paraibano, junto ao Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR)”, adianta Ronaldo, que em janeiro deste ano já esteve com a ministra Guajajara na capital federal. “Na verdade, esta é a segunda viagem a Brasília. Estive lá na posse da ministra”.
Sobre a agroindústria, Ronaldo do Mel explica: “Esse projeto tem um leque muito grande, é muito positivo. É algo real. Não é algo que vamos implantar, fazer um implemento para ver se dá certo. Já é uma coisa que já existe. Nós temos a nossa agricultura e todos nas aldeias têm seu sitiozinho e não temos onde armazenar e vender a nossa produção, que acaba quase toda desperdiçada. Pois só as famílias não dão conta do consumo do que produzimos”.
De acordo com o vereador Ronaldo, com o projeto, as famílias poderão aumentar seus roçados. “Cada um com sua cultura, com a sua agricultura específica e a que se dedica”, diz, apontando que o projeto também prevê o reflorestamento com plantas frutíferas nas aldeias, o que, consequentemente, também irá fortalecer a apicultura. “As abelhas estão perdendo espaço, perdendo espaço de mata e, com isso, elas estão perdendo as flores, as floradas. Sem flor não tem mel”.
Com o projeto, continua Ronaldo, os agricultores indígenas “vão abrir os olhos” para ganhar dinheiro e seu sustento com outras atividades, e não ficar dependendo só do plantio da cana-de-açúcar. “Hoje a cana-de-açúcar tá acabando com tudo: acaba com a mata, com as abelhas. E o indígena adere à cana-de-açúcar até mesmo por falta de oportunidade mesmo, de outras opções. Hoje, o agricultor se sente seguro em plantar a cana-de-açúcar porque ele tem onde vender. Existe uma usina. Com a agroindústria de beneficiamento, ele vai ter também a certeza de onde comercializar outros produtos”, avalia o vereador.
“Na hora que tivermos uma agroindústria dessa funcionando, comprando as frutas produzidas nas aldeias, transformando em polpa, engarrafando sucos, vendendo pra fora, tudo vai mudar. Isso tudo vai precisar de demanda, de produção. E é aí onde entra a agricultura familiar indígena, que vai ser absorvida e a pessoa vai ganhar o dinheirinho dela e vai deixar de trabalhar para a usina. Hoje, ele é escravo da usina. Essa é a verdade em nossas aldeias”, finaliza Ronaldo do Mel.
Atualmente, a Paraíba registra cerca de 20 mil pessoas residindo e distribuídas em 32 aldeias nas cidades de Baía da Traição, Rio Tinto e Marcação, num território total de 33.757 hectares. O número de famílias é de 6.771 que residem nas terras indígenas dos Potiguara, que estão constituídas em três Terras Indígenas (TIs) contíguas: a TI Potiguara, a TI Jacaré de São Domingos e a TI Potiguara de Monte Mór.