Aliados veem risco eleitoral e necessidade de abafar críticas de Bolsonaro a Valdemar
Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do dirigente Valdemar Costa Neto acreditam que há risco de prejuízo eleitoral para o partido no desentendimento público dos dois. A preocupação se justifica pelo pleito municipal deste ano e, por isso, a avaliação das duas alas é a de que é preciso baixar a temperatura e evitar novos atritos.
Desde que Bolsonaro foi captado em vídeo falando sobre uma possível “implosão do partido” com “declaração absurda”, correligionários ligaram o alerta e se apressaram para colocar panos quentes na crise.
Segundo pessoas próximas, Bolsonaro e Valdemar têm entendimentos diferentes sobre chapas e posicionamentos do PL nas eleições municipais de algumas capitais. Diante disso, uma eventual briga pública pode transcender os gabinetes do PL, insuflar a militância bolsonarista e prejudicar alianças que estão sendo costuradas pelo país.
Além disso, a persistência de divergências internas tende a ser explorada por adversários. O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), por exemplo, compartilhou em suas redes a entrevista em que Valdemar tece elogios a Lula —o vídeo foi o estopim da irritação de Bolsonaro.
Aliados de Valdemar opinam que os maiores beneficiários das críticas de Bolsonaro ao dirigente são oponentes políticos, como a pré-campanha de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo. O PL articula indicar o vice na chapa do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).
A leitura no partido é a de que minar a relação entre Bolsonaro e Valdemar pode levar o ex-presidente a não entrar de cabeça na campanha pela reeleição de Nunes. Há ainda o receio de que Bolsonaro incentive o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) a se lançar candidato por outro partido, o que dividiria os votos da direita na cidade.
O PL é historicamente uma força política ligada ao centrão. A entrada de Bolsonaro transformou o partido no maior da Câmara dos Deputados e diversos bolsonaristas ingressaram na legenda. Uma das consequências foi o aumento das divergências internas, que costumam opor a ala bolsonarista radicalizada aos parlamentares que faziam parte das filas do PL antes da migração —e que são considerados mais pragmáticos.
Os bolsonaristas, por exemplo, defendem que seja lançado o maior número de candidatos próprios possível. Valdemar, no entanto, vê com bons olhos alianças com partidos de centro e também advoga por nomes do PL com maiores chances eleitorais.
Uma das divergências ocorre em Goiânia (GO). Bolsonaro quer que o candidato a prefeito seja o ex-deputado federal Major Vitor Hugo, enquanto Valdemar defende o deputado federal Gustavo Gayer. Nesse caso, deve prevalecer a vontade do dirigente.
Bolsonaro já disse que a palavra final é de Valdemar na escolha das candidaturas. No final de novembro, afirmou: “Por vezes, eu engulo um candidato do Valdemar e ele engole um candidato meu”.
Nos bastidores, aliados dizem que a frase de Bolsonaro resume a relação dos dois. Apesar das discordâncias, buscam dividir as cidades que são relevantes para cada um.
São Paulo, por exemplo, é reduto de Valdemar. Por isso, aliados dizem que a tendência de apoio a Nunes está consolidada —ainda que o dirigente do partido jogue a indicação do vice para Bolsonaro. Já no Rio de Janeiro, quem deve definir a chapa é o ex-presidente.
Nesta terça (16), Bolsonaro comparou, ao portal Metrópoles, a relação com Valdemar com um casamento.
“O casamento com o Valdemar está firme. Nele, eu sou o marido. E todos sabem que quem manda na relação é a mulher [risos]. Valdemar é o comandante do partido”, disse.
“Valdemar tem um coração grande. Por isso, elogia muita gente. Ele não tem maldade. Em nenhum momento do vídeo que circulou [sobre a fala de ‘implosão do partido’] eu citei o nome do Valdemar. Como dirigente partidário, ele tem cumprido o que foi acordado comigo”, disse.
Em vídeo que a Folha publicou na segunda-feira (15), Bolsonaro diz a apoiadores que teve um problema sério por “declaração absurda” de que Lula é popular. Embora não tenha mencionado Valdemar diretamente, ele se referia aos elogios do dirigente ao petista.
“Se continuar assim, vai implodir o partido. Pessoa do partido dando declaração absurda, como ‘o Lula é extremamente popular’. Manda ele tomar um [cachaça] 51 ali na esquina ali. [Lula] Não vem”, disse Bolsonaro na ocasião.
Valdemar e Bolsonaro conversaram por WhatsApp após a repercussão do vídeo com os elogios a Lula. Segundo relatos, o ex-presidente estava muito irritado e disse a Valdemar que a menção ao petista era infeliz. O dirigente, por sua vez, disse que o vídeo tinha sido editado.