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Bolsonaro quebra silêncio e atiça apoiadores com discurso dúbio

O presidente Jair Bolsonaro (PL) quebrou o silêncio na tarde desta sexta-feira (9) com um discurso dúbio que atiçou seus apoiadores.

Ele falou com simpatizantes na área externa do Palácio da Alvorada, após ficar recluso por mais de um mês, desde a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições. (via Folha de S. Paulo)

Bolsonaro disse se responsabilizar pelos seus erros, afirmou que seus apoiadores é que decidirão seu futuro e exaltou sua ligação com as Forças Armadas, no dia em que Lula anunciou seus primeiros ministros, incluindo o futuro titular da Defesa, José Múcio Monteiro, e os futuros comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica.

O atual presidente disse nunca ter saído “de dentro das quatro linhas da Constituição”, afirmou acreditar que “a vitória será também desta maneira” e pediu para seus apoiadores se manterem informados.

“Se algo der errado é porque eu perdi a minha liderança, eu me responsabilizo pelos meus erros. Mas peço a vocês: não critiquem sem ter certeza absoluta do que está acontecendo”, afirmou.

Bolsonaro criticou a expressão “eu autorizo” usada por seus apoiadores, sinalizando que isso corresponderia a “jogar” a responsabilidade apenas nele. Para bolsonaristas que fazem atos antidemocráticos em frente a quartéis desde a vitória eleitoral de Lula, a expressão seria como uma permissão para que o presidente acionasse as Forças Armadas para dar um golpe.

“Não é eu ‘autorizo não’, é o que eu faço com a minha pátria. Não é jogar responsabilidade para uma pessoa, sou exatamente igual a cada um de vocês, de carne, osso, sentimento”, afirmou.

Bolsonaro disse também em seu pronunciamento que é o povo “quem decide para onde vai as Forças Armadas” e declarou que “vivemos um momento crucial, uma encruzilhada”.

“O destino é o povo que tem que tomar. Quem decide o meu futuro, para onde eu vou, são vocês. Quem decide para onde vai as Forças Armadas são vocês, quem decide para onde vai Câmara e Senado são vocês também.”

Escolhido por Lula para ser o ministro da Casa Civil, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), disse que as falas de Bolsonaro não preocupam.

“Não me causa preocupação. O povo brasileiro e o Brasil têm claro qual caminho quer seguir, o caminho da democracia, liberdade de expressão e geração de empregos.”

“Bravatas não vão tirar o povo brasileiro desse caminho. Exemplos de quem não quer abraçar a democracia, no mundo inteiro, não progrediram, como o exemplo da última tentativa aqui na América do Sul”, afirmou ainda, referindo-se à tentativa de Pedro Castillo, agora ex-presidente do Peru, de tentar dissolver o Congresso e decretar um estado de exceção.

Em entrevista à GloboNews, o futuro ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse que conhece bem Bolsonaro e culpou os apoiadores do mandatário de serem menos “pacíficos” que ele.

“O entorno é sempre quem atrapalha o político. Eu tenho muita esperança de que isso [declaração do presidente] seja só um discurso. Ninguém pode estar num avião e, porque soube que o piloto é um desafeto, torcer para ele fazer uma bobagem. Tem que torcer que ele pouse, e o pouso é a eleição.”

“O presidente Bolsonaro sai dessa eleição com um capital gigantesco, metade do país, e ele tem tudo, se quer pensar no futuro e seus adeptos querem que ele volte um dia, tem que sair como um estadista”, concluiu.

Em seu discurso a apoiadores, Bolsonaro afirmou que está “há praticamente 40 dias calado” e que isso “dói na alma”. “Sempre fui uma pessoa feliz no meio de vocês, mesmo arriscando minha vida no meio do povo”, afirmou. “Vamos fazer a coisa certa, diferentemente de outras pessoas. Vamos vencer”, declarou.

O presidente afirmou que “alguns falam” de seu silêncio e que, caso se pronunciasse nesse período, “tudo seria deturpado, tudo seria distorcido”. “Todos nós sabemos o que aconteceu ao longo desses quatro anos, ao longo do período eleitoral e o que foi anunciado pelo TSE.

Nesta sexta, o presidente disse que, em seu governo, “o povo voltou a acreditar que o Brasil tem jeito”. “Não é fácil você enfrentar todo o sistema. A missão de cada um de nós aqui não é criticar, é unir. Muitas vezes vocês têm informações que não procedem e pelo cansaço, pela angústia, pelo momento, passam a criticar.”

O mandatário também declarou que “vivemos um momento crucial, uma encruzilhada”. “O destino é o povo tem que tomar. Quem decide o meu futuro, para onde eu vou são vocês. Quem decide para onde vai as Forças Armadas são vocês, quem decide para onde vai Câmara e Senado são vocês também”.

O presidente lembrou da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que determinou a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 2020 em que Sergio Moro disse, quando pediu demissão do Ministério da Justiça, que comprovaria a interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.

“Essa fita que a imprensa foi colocando a conta-gotas foi uma reunião em que se vê um homem, um presidente de coração defendendo seu povo. Nada ali foi um teatro”, afirmou.

Ele disse que poderia ter descumprido a decisão do Supremo, mas que, caso tivesse feito isso, “até hoje estava com fantasma de interferência na PF”.

Logo após comentar a decisão do Supremo, relembrou que sempre costuma falar o quanto é “fácil impor uma ditadura no Brasil”.

“Como é fácil impor uma ditadura no Brasil. Está lá, vídeos de abril de 2021, de 2020, com verdade. A Verdade dói. Quantos amigos perdemos por falar a verdade para ele.”

O presidente questionou qual o futuro do país: “Não vou falar do outro lado político, mas qual o futuro do Brasil? Por que chegamos a esse ponto? O que aconteceu? Demoramos a acordar? Nunca é tarde para acordar quando sabemos a verdade. Logicamente, quanto mais tarde você acordar, mais difícil a missão”.

Bolsonaro estava acompanhado do general da reserva e ex-ministro Braga Netto, seu vice nas eleições deste ano. O ex-ministro do Turismo Gilson Machado, nomeado por Bolsonaro após a eleição para chefiar a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo), também estava presente.

Também nesta sexta (9), o ex-deputado Roberto Jefferson, aliado de Bolsonaro e preso em outubro, se tornou réu por tentativa de homicídio contra policiais federais, resistência qualificada e outros crimes.

Em 23 de outubro, ele resistiu a uma ordem de prisão decretada pelo Supremo e atacou com granadas e tiros agentes da Polícia Federal que foram à sua casa em Levy Gasparian (RJ).

Ao aceitar denúncia do Ministério Público Federal, a juíza federal substituta Abby Ilharco Magalhães, da 1ª Vara Federal de Três Rios, afirmou, segundo a Agência Brasil, que “indicativos suficientes de autoria emergem da situação de flagrância, narrada nos depoimentos dos policiais federais que efetivaram as diligências, além da manifestação do próprio acusado em sede inquisitorial”.

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