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Branco tem o dobro de chance de se eleger deputado em relação a candidato negro; veja números da PB

Com informações da www.folha.uol.com.br:

 Estudo mostra que há menos deputados negros do que seria esperado considerando a divisão racial da população

 

 O site www.folha.uol.com.br divulgou resultado do estudo “Desigualdade Racial nas Eleições Brasileiras”, do Insper, que aponta que candidatos brancos têm pelo menos o dobro de chance de serem eleitos deputado federal ou estadual na comparação com candidatos negros (pretos e pardos). Feito pelos economistas Sergio Firpo, Michael França, Alysson Portella e Rafael Tavares, pesquisadores do Núcleo de Estudos Raciais do Insper, o trabalho mostra, por exemplo, que houve 3.117 candidatos negros disputando uma vaga na Câmara em 2018.

Na Paraíba, o número de deputados federais considerados negros subiu de dois para cinco, de 2014 para 2018, ficando atrás da Bahia (18), Rio de Janeiro (16), Maranhão (8), Minas Gerais (7) e Amazonas (6).

Chegar à Câmara como parlamentar é tarefa difícil para qualquer um, mas os obstáculos superados por pessoas negras são maiores do que os enfrentados por pessoas brancas.

Com 124 eleitos, a taxa de sucesso foi de 3,98%. No caso dos brancos, houve 4.425 candidatos e 386 eleitos, com uma taxa de sucesso de 8,72%. Veja os dados completos.

Essa disparidade, contudo, pode ser ainda maior, porque o estudo levou em conta o banco de dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), baseado em autodeclaração e sujeito a fraudes ou erros, com aumento artificial das candidaturas negras.

“Mesmo com as limitações da base de dados, espera-se que a divulgação desses resultados contribua para que a sociedade comece a ter maior clareza da dimensão da falta de representatividade na nossa ‘democracia’ e como isso afeta suas vidas”, diz França, que também é colunista da Folha (assim como Firpo).

Para mensurar de forma mais precisa essa falta de representatividade, os pesquisadores recorreram ao índice de equilíbrio racial (IER), uma ferramenta que também foi aplicada no Ifer (Índice Folha de Equilíbrio Racial).

Numa sociedade com equilíbrio racial, a proporção de negros e brancos entre os deputados seria parecida com a proporção de negros e brancos entre os eleitores.

No caso da Câmara, porém, a comparação ideal não é com a divisão racial no país como um todo, porque os candidatos disputam apenas os votos dos eleitores de um determinado estado.

Assim, os quatro economistas olharam a proporção de negros e brancos entre as pessoas com 18 anos ou mais em cada unidade da Federação e as compararam com as respectivas bancadas de deputados, tanto na Câmara quanto nas Assembleias Legislativas.

A pesquisa revela, entre outras coisas, que houve leve redução da desigualdade entre deputados federais de 2014 para 2018, mas, ainda assim, a maior parte dos estados registrou um IER que aponta desequilíbrio muito alto.

Os dados também mostram que, em quase todos os estados, o número de deputados negros é menor do que seria esperado levando-se em conta a divisão racial.

 

O QUE EXPLICA O DESEQUILÍBRIO RACIAL?

O foco dos pesquisadores do Núcleo de Estudos Raciais do Insper não era explicar por que existe esse desequilíbrio, mas o estudo ajuda a pensar quais hipóteses fazem mais sentido.

“Nossa análise aponta para um alto nível de desequilíbrio racial entre deputados eleitos e reeleitos, porém um desequilíbrio relativamente baixo entre candidatos. Isso indica que o principal obstáculo para a equidade racial na representação política não se deve a cidadãos negros não estarem dispostos a concorrer nas eleições”, escrevem os autores.

Para o quarteto de economistas, a resposta pode estar no dinheiro. Eles analisaram as principais fontes de recursos para financiamento de campanhas e perceberam que, em média, os candidatos negros recebem menos verbas do que os candidatos brancos –a cota para distribuição do fundo eleitoral passou a valer na disputa de 2020.

Esse fator também é apontado pelo cientista político João Feres, coordenador do Gemaa (Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa), da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

“Quando chega na política, o financiamento é mais determinante na desigualdade. Os candidatos negros têm muito menos dinheiro para fazer campanha”, diz.

“Além disso, depois que a pessoa é eleita… O cara é branco, vem de um meio social com poucos amigos negros, quase nenhum. Talvez ele pudesse indicar pessoas negras para cargos, mas o networking dele sofre de uma ‘branquidade’ profunda”, afirma Feres.

A cientista política Nailah Neves Veleci, pesquisadora do Maré – Núcleo de Estudos em Cultura Jurídica e Atlântico Negro, ligado à Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, chama a atenção para o imaginário social que está na cabeça do eleitor e dos dirigentes partidários diante de candidaturas negras.

“Os cânones da sociologia, da ciência política, da filosofia colocam o homem branco como um ser universal e o conhecimento europeu como único e verdadeiro. Em contrapartida, o negro é apresentado como perigoso, inferior, criminoso, irracional, enfim, vários estereótipos racistas”, diz.

Veleci afirma que as consequências dessa situação vão muito além da questão eleitoral: “Não tem como falarmos de democracia quando os dois maiores grupos da população brasileira [mulheres e negros] têm dificuldade de chegar a cargos de poder“.

E por que isso importa? “Representatividade em cargos de poder é uma questão de qualificar nossas políticas, diversificar a identificação de problemas da sociedade, que são múltiplos, e a possibilidade de se apresentarem novas soluções”, diz Veleci.

A deputada Silvia Cristina percebe em seu dia a dia como isso é importante. Ela não reclama de falta de oportunidades para si em seu trabalho parlamentar, mas sabe que, sozinha, pode fazer pouca diferença.

“Para que tenhamos oportunidades de avançar um pouco mais, temos que ter mais vozes ecoando”, diz. “[Se houvesse mais negros na Câmara,] nós seríamos mais ouvidos.”

 

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