CASO SILVANA PILIPENKO: Governo da PB cobra informações do Itamaraty e embaixadas
Deu no jornal A União desta sexta-feira:
(matéria assinada por Ana Flávia Nóbrega)
Há quase 15 dias a família de Silvana Pilipenko está sem informações do seu paradeiro. A paraibana que mora na Ucrânia há 27 anos fez a última comunicação com familiares no dia 3 de março, seis dias antes do início do bombardeio na cidade localizada no sudeste do país. Mesmo antes dos ataques diretos, Mariupol sofre com o conflito desde o início da invasão no país, dia 24 de fevereiro.
Nesta quarta-feira, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) informou, em nota, que está atuando no caso da brasileira e que organizações internacionais de apoio humanitário foram acionadas para ajudar no caso. O texto diz ainda que “o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros”, mas que “pelo o apoio do escritório em Lviv, tem mantido contato regular com familiares da nacional”.
A família de Silvana, no entanto, nega o suporte do Itamaraty. A sobrinha Beatriz Vicente, de 20 anos, declarou que apenas o escritório de representação do Governo do Estado da Paraíba está em contato com a família.
“Não entraram em contato não, até a data atual não tivemos um contato deles. Seguimos no aguardo de uma intervenção e mobilização do governo brasileiro. O Estado entrou em contato, do gabinete de Adauto Fernandes, e enviaram um ofício pedindo esclarecimentos ao Itamaraty. Mas toda essa tramitação iniciou agora a pouco, então não temos nenhuma notícia concreta”, falou a sobrinha de Silvana.
O Governo do Estado, através da Secretaria Estadual de Representação Institucional da Paraíba (SERI-PB), vem trabalhando para auxiliar a família e em busca do paradeiro de Silvana. Segundo Adauto Fernandes, secretário da pasta, o Governo do Estado está à disposição.
“Falei com a família pessoalmente e estamos cobrando o Itamaraty e as embaixadas do Brasil na Ucrânia e da Ucrânia no Brasil em busca de informações. Com a família, estamos consolidando informações para entender o núcleo de convivência deles [Silvana e família ucraniana] para buscar contatos. Toda a equipe da SERI-PB está fazendo esse contato e seguimos cobrando. Dia 15 enviamos um documento para que o Itamaraty enviasse informações precisas e eles deram um prazo para que pudessem consolidar informações. Só que, por ser um local atingido, eles estão sem informações. De antemão, deixo claro que estamos à disposição para ajudar no que for preciso”, declarou Adauto Fernandes.
Na Ucrânia, a paraibana mora com o marido Vasyl Pilipenko, que é ucraniano e capitão da marinha mercante, e a sogra de 86 anos. Todos os três estão desaparecidos. Juntos, Silvana e Vasyl possuem um filho, que está na Alemanha, mas busca informações da mãe.
Antes do desaparecimento, Silvana informou à família que ficaria sem internet e sem energia. Em 26 de fevereiro, através das redes sociais, Silvana escreveu sobre os momentos de guerra. “A guerra tem várias facetas e uma delas é a fome e a sede. Hoje saímos para comprarmos alimentos e a maioria dos supermercados estavam fechados, os poucos abertos estavam com escassez de produtos”.
A paraibana segue “A noite chega, já é a terceira, e antes de adormecer tenho a certeza que falarei com Deus e lhe pedirei que não permita sermos atingidos, que essas paredes suportem, que esse teto não caia sobre nós, e, se cair, o Senhor nos salvará conforme a sua linda misericórdia”, escreveu a paraibana.
Também antes do desaparecimento, Silvana enviou um vídeo para a família e à imprensa onde fala sobre a dificuldade de sair da cidade por conta da idade avançada da sogra, com 86 anos, que tem saúde fragilizada e das condições da cidade cercadas por tropas russas.
Situação de Mariupol
Mariupol é uma cidade portuária com cerca de 400 mil habitantes e é uma das mais afetadas pelos ataques das tropas russas. De acordo com o vice-prefeito de Mariupol, Pioty Andryuschenko, 1,3 mil habitantes morreram na cidade por causa de bombardeios e ataques desde o início da invasão russa. A prefeitura ainda afirmou que Mariupol não tem aquecimento, água ou eletricidade, e que os cidadãos estão ficando sem comida e remédios.
Nesta quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, utilizou as redes sociais para informar sobre um ataque ao Teatro Dramático, no coração de Mariupol, que servia de abrigo para civis ucranianos.
“Outro crime de guerra horrendo em Mariupol. Massivo ataque russo ao Teatro Dramático, onde centenas de civis inocentes estavam escondidos. O edifício está agora totalmente em ruínas. Os russos não poderiam não saber que este era um abrigo civil. Salve Mariupol! Pare os criminosos de guerra russos!”, escreveu o ministro.
Petro Andriushchenko, conselheiro do presidente da câmara de Mariupol, disse que o abrigo do teatro era o maior em número e tamanho no centro da cidade. “De acordo com dados preliminares, mais de 1.000 pessoas estavam ali escondidas. O número de mortos e feridos é desconhecido. A probabilidade de chegar lá para desmontar os escombros é baixa, devido aos constantes bombardeamentos da cidade”, afirmou.
O Ministério da Defesa da Rússia, no entanto, nega que tenha realizado ataque aéreo contra o teatro.
A estimativa das autoridades da cidade é de que cerca de 2 mil veículos conseguiram deixar Mariupol através de um corredor humanitário, segundo autoridades da cidade e outros 2,5 mil morreram desde o início do conflito, sem contabilizar as vítimas do ataque ao teatro, segundo informou o conselheiro presidencial da Ucrânia, Oleksiy Arestovych.
TRANSCRITO DO JORNAL A UNIÃO
FOTO: FACEBOOK