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Clima seco coloca o Sertão em alerta; incêndios no Sertão já são mais de 600 neste ano

Com o reforço na vigilância e novas tecnologias de monitoramento, a Paraíba se prepara para enfrentar um dos períodos mais críticos do ano no combate às queimadas

As queimadas que vêm devastando várias regiões do Brasil nos últimos dois meses, afetando biomas como Cerrado, Pantanal e Amazônia, acendem o alerta para o que pode acontecer na Paraíba com a chegada da Primavera neste domingo (22). A previsão de altas temperaturas, que podem ultrapassar os 36°C no Sertão, a umidade do ar abaixo de 15% em regiões como Cariri e Alto Sertão, somada ao tradicional período de estiagem e às características da vegetação local, aumentam significativamente o risco de incêndios florestais no estado. Segundo a meteorologista Marle Bandeira, da Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa), o período mais seco do ano está apenas começando.

Nos próximos meses, a expectativa é de que as condições climáticas permaneçam desfavoráveis, com pouca ocorrência de chuvas e aumento gradual das temperaturas, principalmente nas regiões do interior. Segundo a especialista, embora chuvas isoladas possam ocorrer no litoral paraibano durante a madrugada, a expectativa é de clima seco, especialmente no interior do estado. Não à toa, a umidade do ar também pode cair a níveis críticos nesse período.

“Na Paraíba, a umidade pode chegar a níveis bastante baixos, como 12% em regiões como Patos, inclusive durante a tarde. Já a média de temperatura esperada no Sertão é 36°C, mas em alguns dias pode ser ainda maior”, alerta Marle.

  A situação é preocupante, especialmente quando se observa o aumento de 26% na área queimada acumulada na Paraíba nos últimos dez anos, de acordo com o MapBiomas. Apenas em 2023, o estado contabilizou mais de 15 mil hectares queimados, sendo a maior parte no Sertão. Marcelo Cavalcanti, diretor-superintendente da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), relembra que a Paraíba já enfrentou picos de queimadas significativos, como em 2003, quando cerca de 70 mil hectares foram consumidos, e em 2019, com 44 mil hectares. “Atualmente, estamos na faixa de 12 a 15 mil hectares. Somos o quarto estado do Nordeste em relação às queimadas, mas a situação aqui não é tão grave quanto em outros lugares do Brasil, sobretudo no Cerrado”, reflete.

Para garantir que isso não aconteça no estado, a Sudema está prestes a assinar um convênio com o Ministério da Justiça, através do programa Brasil Mais (Meio Ambiente Integrado e Seguro), que permitirá o monitoramento do território com imagens de satélite a cada hora. “Teremos informações praticamente em tempo real. E esse sistema aponta tanto supressão vegetal quanto a ocorrência de queimadas. Estamos na iminência de assinar, está tudo pronto”, celebra o superintendente. Assim que o convênio for oficializado, a Sudema terá acesso imediato aos recursos que reforçarão a fiscalização no estado, trabalhando em conjunto com o Batalhão de Polícia Ambiental (BPAmb) e o Corpo de Bombeiros.

Atividade ilegal e condições adversas aumentam o risco de incêndios

Mas a situação no Sertão é especialmente complexa e pode ser pior este ano. De acordo com o Coronel Saulo Laurentino, comandante do 3º Comando Regional de Bombeiro Militar (CRBM), de janeiro até setembro deste ano, a corporação já registrou 602 ocorrências de incêndios na região, número que se aproxima rapidamente do total registrado no ano passado, de 813 casos. “A projeção é que tenhamos um ano com o maior registro de ocorrências relacionadas aos incêndios florestais”, alerta o coronel.

A maior parte dos incêndios florestais que acontecem no Sertão paraibano não é intencional. Segundo o Coronel Saulo Laurentino, muitos produtores ainda usam o fogo para preparar o solo e limpar o terreno, o que eleva o risco de provocar incêndios. E as consequências, como ele ressalta, podem ser graves, já que o clima seco na região favorece a propagação das chamas. A prática, inclusive, é considerada crime ambiental. “O fato de o agricultor fazer essa prática com o uso indiscriminado do fogo é o que provoca essas ocorrências em grande quantidade e, às vezes, em grande proporção”, explica.

O cenário é crítico em toda a região, muito em razão das suas características naturais, com fortes ventos, altas temperaturas, baixa umidade e estiagem, fatores que dificultam, e muito, o trabalho das equipes de combate ao fogo. “Todas as áreas têm, de maneira uniforme, ocorrências de incêndio florestal, mas, naturalmente, nos atentamos bastante para as reservas florestais e propriedades rurais”, completa o comandante.

De forma geral, o monitoramento dessas áreas acontece de forma constante em todo o território paraibano, e a “Operação Queimadas”, que já está em andamento, vem justamente para reforçar essa vigilância durante esse período mais crítico do ano. Preparada para atuar em qualquer área do Sertão, essa força-tarefa regional conta com o suporte de quadriciclos e caminhões com alta capacidade de água, prontos para enfrentar incêndios de grandes proporções. No Sertão, a corporação já enfrentou queimadas de mais de dez dias de duração, sendo o maior recorde até hoje uma ocorrência de 19 dias que englobou quatro municípios na zona rural. Ao mesmo tempo, a operação também foca na prevenção com ações de conscientização, como palestras e campanhas, nas comunidades rurais da região, onde o uso do fogo representa um grande risco não só à vegetação, mas também à população.

 

Texto de Priscila Perez para o Jornal A União, edição deste sábado, 21/9
Fotos; Divulgação/Corpo de Bombeiros da PB

 

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