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Cursos profissionalizantes ajudam mulheres a sair do ciclo de violência e promovem empoderamento

As marcas não ficaram no corpo. Violência psicológica não provoca hematomas físicos. A alma, contudo, ainda sente necessidade de cuidados para superar o caos um dia vivenciado. Amanda Maria Nogueira da Cruz, 27 anos, tem uma história muito parecida com a da ave mitológica que ressurgiu das cinzas, a Fênix. E é essa história que vamos conhecer na terceira e última reportagem da série ‘Mulher: a força que sai do caos e conquista a ordem’.

“Eu vivia num relacionamento abusivo, fui casada por nove anos e vivia uma vida totalmente presa em casa, não saía. Sofria de depressão, ansiedade, por causas que…”. Amanda precisa de uma pausa para conseguir rememorar a dor que por tantos anos a dilacerou de maneira silenciosa.

“…Para ser sincera, eu vou dizer, eu vivi a violência doméstica. Ele não chegava a bater, era violência psicológica. Eu vivia em um ambiente totalmente desestabilizado, tanto para mim quanto para meus filhos”, conta demonstrando na voz e nos olhos as feridas ainda sendo tratadas.

De tão machucada, Amanda, com três filhos, passou a sentir-se cinzas e, por longo tempo, viveu soterrada nos escombros da relação abusiva. Até que um dia, como se despertasse de um pesadelo, criou fôlego, respirou fundo e viu surgir uma força que nem ela mesma sabia que tinha, a força da própria Fênix.

Com o desejo claro de esquecer de vez o que passou, Amanda Maria segue sua história destacando apenas o hoje, momento em que sorri saboreando a própria superação. “A partir do momento que deixei ele [o ex-marido], no outro dia já iniciei o curso e, para mim, ajudou a sair de uma zona de conforto que eu também estava, e eu disse: é agora!”.

O curso que impulsionou Amanda a sair foi o de rotinas administrativas oferecido pela Prefeitura de João Pessoa, em parceria com o Instituto Nacional de Desenvolvimento Humano (Inadh), por meio do Qualifica PB, com apoio da Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres (SPPM). “Para mim foi o marco zero. De onde eu vim, de onde saí. Desde o dia que decidi fazer o curso, foi a melhor escolha. Os professores me ajudaram muito. Começou com informática e terminou com atendimento ao cliente e telemarketing. Isso foi primordial para mim”, lembra.

A capacitação abriu as portas do mercado do trabalho para Amanda Maria. Um novo grande desafio para ela, que está trabalhando há cinco meses em uma loja de peças e acessórios para veículos. No entanto, agora o desafio a motiva e a deixa feliz. “Vim sem entender nada. Pensei: vou pegar o meu conhecimento, segurar na mão de Deus e vou. Eu gosto de dizer às meninas que todos os dias é um aprendizado diferente. Mas, se não fosse aquele curso…”, suspira.

Essa mulher doce, gentil, bonita, forte e agora alegre, resume seu presente em uma palavra: oportunidade. “Eu gosto de dizer que é muito difícil hoje para mães solteiras como eu arrumar emprego, principalmente mãe de três. E o senhor Richard [chefe de Amanda] foi muito coerente em aceitar. Ele não discriminou, acreditou no meu potencial”.

Com a independência financeira conquistada, o caminho para a criação dos filhos e a liberdade agora são mais retos. O que era tristeza virou um grande sorriso no rosto. E o que era um coração apertado, agora é um peito estufado de gratidão.

Capacitação profissional: a luz no fim do túnel – Assim como Amanda, são inúmeras as mulheres que precisam encontrar uma rede de apoio que a retire do ciclo de violência. Essa conquista, contudo, fica quase impossível se não houver independência financeira. É, por isso, que a Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres de João Pessoa investe em ferramentas que promovam capacitação profissional.

“Sem capacitação a mulher não terá como ser inserida no mercado de trabalho e, consequentemente, sem rendimentos para manutenção de sua casa”, enfatiza a secretária das Mulheres, Virgínia Velloso.

A gestora compreende que a rede de apoio à mulher deve ser cercada de oportunidades, como as que foram dadas às personagens que ilustraram nossa série de reportagens. Assim, ela prospecta um futuro de muitos projetos para avançar nas políticas públicas para as mulheres.

“Além das políticas que já existem na Secretaria, precisamos oferecer uma casa de acolhimento onde receberemos estas mulheres que serão orientadas, capacitadas para enfrentar uma vida digna com seus filhos. Nesta casa de acolhimento, elas terão oportunidades de serem capacitadas para adquirir sua independência financeira, com cursos e também como pequenas empreendedoras”, projeta Virgínia Velloso.

A proposta amplia a rede de proteção, traz esperança e faz as mulheres que ainda não conseguiram sair do ciclo de violência sonharem com a liberdade. Protegidas, elas, nós, reuniremos forças para enfrentar ameaças, assédios, perseguições, preconceitos. Juntas, faremos avançar as políticas públicas de atenção, cuidado e proteção a cada mulher que precisa de ajuda.

Tem sido assim com Amanda, que agora sorri ao lado das amigas de trabalho – Vilayne, Simone e Edvânia. Todas empoderadas, livres e cheias de amor próprio.

Que Luana, Marlene, Amanda…Maria, Joana, Francisca, Ana, Rita, Iracema, Juliana e até eu, Nice, possamos fortalecer cada vez mais dentro de nós a mensagem de Simone de Beauvoir que diz: “Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre”.

Foto: Quel Valentim

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