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Edifício Richard, com passado caótico, vira atração turística em Copacabana; conheça essa curiosa história

O edifício Richard, localizado na movimentada rua Barata Ribeiro, em Copacabana, já foi considerado uma Torre de Babel. Famílias, jovens solteiros, idosos solitários, prostitutas e toda a sorte de pessoas compartilhavam os longos corredores com 45 apartamentos por andar (maioria conjugados), totalizando 507 unidades em 12 pavimentos.

As confusões estampavam as manchetes dos jornais policialescos da época, tendo o prédio como cenário. Entre as décadas de 1970 e 1990, o edifício conhecido como Duzentão (em referência ao número, hoje 194), foi um palco de escândalos e um inferno para muitos residentes.

Atualmente, a realidade é outra. Uma gestão condominial mais rígida e um sistema de segurança eficaz possibilitaram lapidar uma nova imagem. Diversos apartamentos dele foram reformados e encontram-se disponíveis em plataformas como Airbnb. Com a chegada da alta temporada, a busca por estadia pode ser disputada.

Nem sempre foi assim. Décadas atrás, o cotidiano do Duzentão era mais mirabolante que qualquer trama de novela ambientada no Leblon e incluía brigas entre vizinhos, conflitos conjugais, tragédias, atividades ilícitas e outras situações.

Vários apartamentos eram sublocados para casas de massagem, e o livre acesso de clientes sem controle da portaria resultava em uma avalanche de reclamações para o síndico na época.

O fato é que a versão carioca do Edifício 14 Bis de São Paulo coleciona histórias que hoje soam mais risíveis do que medonhas. Houve ali a prisão de uma idosa de 75 anos conhecida como Vovó do Pó e a fuga de um sujeito do terceiro andar usando uma corda de varal após a chegada da polícia.

A partir de 2000, o Richard iniciou a sua reestruturação. A alta rotatividade de inquilinos ruidosos colaborou para isso, além de outras medidas como câmeras com circuito interno nos elevadores e andares. A localização privilegiada, a 400 metros da praia e a poucos passos da estação de metrô, despertou o potencial turístico no setor de locação por temporada.

Enquanto os cariocas desconhecem as mudanças efetivas que se deram ali no decorrer dos anos e mantêm ainda uma visão negativa do Duzentão, os hóspedes, sem conhecer o passado, não se abalam quando ouvem as opiniões locais.

“Soube de algumas histórias, fiquei apreensivo no início, mas nunca vi nada errado lá, acho que melhorou”, diz o mineiro Euler Freitas, 42, que desde 2010 se hospeda ali em datas como Carnaval.

A diversidade do público ainda faz parte do Richard, mas é vista com outros olhos hoje.

Há dez anos, a carioca Letícia Lima, 52, é proprietária de um conjugado de 23 m² no sétimo andar, disponível no Airbnb. Para ela, o passado nunca atrapalhou os negócios, e avalia o edifício como a cara do bairro.

“O Duzentão não tem uma fama boa, mas é um clássico carioca, é o submundo de Copacabana, acho que o turista gosta de ver essa realidade”, afirma a proprietária, que diz não ter o que reclamar: “Estou com 100% de taxa de ocupação até 29 de fevereiro.”

Em uma busca rápida no Airbnb, um total de 16 aptos foram achados disponíveis para a locação, todos reformados e com diárias a partir de R$ 210. Mas se a intenção for a compra, os valores podem variar conforme o tamanho e posição (frente ou fundos para a mata) oscilando entre R$ 250 mil e R$ 650 mil, segundo alguns sites imobiliários.

Hoje, o edifício é uma representação nítida da disparidade social em Copacabana. Considerado um dos bairros mais democráticos da zona sul, ele abriga prédios de conjugados vizinhos a outros cujos apartamentos podem valer milhões.

 

Folha de S. Paulo

Foto: Reprodução

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