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El Niño aumentará dois graus acima da média a temperatura do Nordeste

O El Niño está em formação no Brasil, conforme anunciou, no início do mês, a Administração Nacional de Atmosferas e Oceanos (NOOA – sigla em inglês). O fenômeno climático se caracteriza pelo aquecimento anormal da superfície da água do Oceano Pacífico e pode trazer efeitos como a seca. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), vem monitorando o El Niño e informa que a tendência é que seja de intensidade moderada. Ele deve permanecer até o ano que vem, alterando as chuvas no Sertão da Paraíba e, se for muito intenso, aumentando a temperatura em até dois graus. A Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa-PB) está em alerta, monitorando o fenômeno para saber até que ponto poderá impactar o estado. (via Jornal A União*)

O meteorologista do Inmet, Flaviano Fernandes, explica que o El Niño vem aquecendo as águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical desde o mês de maio e esse aquecimento atrapalhou o final da quadra chuvosa no semiárido. “No Litoral Leste, ainda não houve impacto nas chuvas porque o Oceano Atlântico está muito aquecido. Isso explica as chuvas recentes no Litoral”.

Esse monitoramento aponta a tendência de que o fenômeno permaneça até o ano que vem, o que vai interferir nas chuvas no Sertão, onde o período chuvoso é de fevereiro a maio, por conta da atuação da Zona de Convergência Intertropical. No Litoral, as chuvas são de abril a julho, e a tendência é que não tenha tanta consequência porque as águas do Atlântico Sul ainda estão aquecidas. Mas, segundo Fernandes, há possibilidade dessas águas, entre julho e agosto, começarem a resfriar o que, provavelmente, terá impacto no final da quadra chuvosa também no Litoral Leste, Zona da Mata e Brejo.

A redução das chuvas é um dos principais impactos do El Niño, afetando diretamente a agricultura. “Sabemos que, principalmente no Sertão, há muitos agricultores, pequenos proprietários de terras que dependem da chuva para que suas lavouras produzam, e eles não têm irrigação”, observa.

Flaviano Fernandes ressalta que, na maioria das vezes em que o fenômeno acontece, ocorrem secas. Por isso, realmente, só no final do ano será possível saber algo mais provável que deve ocorrer na quadra chuvosa do sertanejo. Ele lembra que, se realmente houver essa seca, deve impactar bastante.

“Se o El Niño for muito intenso, provavelmente, o verão aqui na Paraíba e no Nordeste será mais quente, com temperaturas de um a dois graus acima da média. Porém, temos que esperar. Como está começando agora, estamos acompanhando para ver se, realmente, vai ser tão intenso como estamos imaginando”.

 

El Niño tende a moderado e temperatura pode subir até dois graus

Existe uma tendência de que esse El Niño seja, no mínimo, moderado. Isso, de acordo com o Inmet, porque as águas superficiais estão muito aquecidas, assim como as que ficam abaixo, até cem metros de profundidade. Por isso, é possível que essas águas sigam para a superfície e mantenham o El Niño pelo menos até a quadra chuvosa do ano que vem no Sertão.

“O Atlântico também favorece muito aqui no Nordeste. Se o Atlântico Sul aquecer e ficar mais quente que o Atlântico Norte, ele reduz a atuação do El Niño, fazendo com que as chuvas ainda ocorram. Se for o contrário, se o Atlântico Sul ficar mais frio do que o Norte, a tendência é que a seca seja bem maior”, explicou.

Existe ainda uma possibilidade de o fenômeno se estender por um período de dois anos ou mais. O último El Niño mais intenso que ocorreu começou no final de 2014 e foi até o início de 2016. Também teve entre 1997 e 1998 e ainda entre 1982 e 1983. Estes foram os que tiveram mais consequências, de acordo com o Inmet.

Além da seca que afeta diretamente a agricultura, o El Niño pode alterar a temperatura. “O mundo todo está preocupado porque o fenômeno também provoca o aumento das temperaturas. Como as águas vão estar mais quentes, aumenta também a temperatura do planeta como um todo. O El Niño tem um impacto muito grande”, constata Flaviano Fernandes.

Ele observa que as mudanças climáticas afetam as geleiras, mas não se pode afirmar que vai ocorrer um degelo devido ao El Niño. “Pode ser que ocorra, mas não é algo com grande intensidade, que aumente, em níveis muito elevados, o volume do mar. Para isso, a atuação teria que acontecer durante um período prolongado, de muitos anos”, tranquiliza.

Em relação às medidas que podem ser tomadas para minimizar os impactos do El Niño, o meteorologista diz que os institutos de meteorologia federal e estaduais vêm alertando os órgãos para tomar uma decisão. “O governo tem que ver como vai ser o comportamento. Sabemos que, sem água, o agricultor vai sofrer bastante. É preciso tomar medidas como alertar a população para preservar a água. Tivemos chuvas este ano, mas, provavelmente, com os reservatórios mais secos, poderá faltar”.

 

Por que o El Niño acontece

Normalmente, os ventos sopram, na região tropical, de Leste para Oeste. Sai na região do Peru e chega na Austrália. Uma teoria que alguns defendem é que o enfraquecimento desses ventos faz com que as águas próximas à Austrália aqueçam. Com isso, conforme Flaviano Fernandes, vai descendo o oceano e, futuramente, criando uma bolha muito grande, e vai surgir próximo à região do Peru. “Então, ela sempre tem uma ressurgência”, acrescenta o meteorologista do Inmet.

Desde os anos 1950 os cientistas vêm monitorando o fenômeno. Por isso, o que se sabe é que existe a La Niña, que faz as águas resfriarem; e há épocas em que não tem El Niño e nem La Niña, que são os chamados anos neutros.

Na Paraíba, a Aesa monitora tanto o tempo quanto o clima global e as condições de temperatura da superfície do mar. A meteorologista Marle Bandeira explica que o fenômeno El Niño muda toda a configuração de ventos do globo. No Nordeste, em particular, na Paraíba, os efeitos dependem do período de chuva e da intensidade do El Niño, que agora está configurado como de intensidade fraca.

Marle diz que o que ele poderá ocasionar é uma redução no período de chuvas mais na parte Leste do estado. Ela frisou que o fenômeno contribui para a diminuição das chuvas quando tem intensidade de moderada a forte e se estiver atuando no período chuvoso. “A Aesa está monitorando e ainda é prematuro dizer algo sobre 2024. O El Niño tem intensidade fraca com uma perspectiva de pico em dezembro, mês em que a Aesa faz a previsão do clima para o trimestre de janeiro a março. Por isso, só em dezembro poderemos falar como ele vai atuar nessa parte de redução ou não de chuvas”.

Ela acrescentou que as condições do Atlântico é que vão dar a qualidade do período de chuvas. “Não é só o El Niño que interfere. Ele pode ser o vilão, mas isso depende da sua intensidade. Estamos monitorando para saber se em julho vai ter algum impacto. É um monitoramento constante”, completa.

 

Meio Ambiente e agropecuária podem ter impactos significativos com seca

             Na Paraíba, a diminuição das chuvas no semiárido traz uma série de impactos significativos para o meio ambiente e agropecuária, principalmente porque existem diversas áreas em processo de desertificação que, com a chegada do El Niño, pode se intensificar. Além de interferir na agricultura, o impacto do El Niño resulta na redução dos níveis de água em rios e reservatórios, acarretando escassez hídrica, comprometendo o abastecimento humano e a disponibilidade de água para a vida selvagem. “A pecuária também é afetada, uma vez que a falta de água pode levar à perda de rebanhos e causar prejuízos significativos”, ressalta o gerente executivo da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Juan Diego Lourenço de Mendonça.

Ele explica que o El Niño também provoca uma série de impactos na biodiversidade na região semiárida da Paraíba. “As mudanças nos padrões de chuvas e temperatura resultam em modificações nos habitats naturais, levando à perda de áreas de reprodução e alimentação, podendo alterar as interações ecológicas das espécies e levar ao declínio e à extinção de espécies sensíveis ao estresse ambiental, resultando na perda de biodiversidade da região”, constata.

Esses impactos, conforme Jancerlan Gomes Rocha, também gerente da Semas, são especialmente preocupantes para a região do semiárido paraibano, pois a dependência das chuvas é alta e os recursos hídricos são limitados. “Desta forma a necessidade de medidas de adaptação e mitigação se tornam evidentes diante desses desafios, visando garantir a sustentabilidade da agricultura, a preservação dos recursos naturais e a proteção da vida na região afetada”, diz.

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Sustentabilidade está se preparando para enfrentar as consequências do fenômeno El Niño. “É crucial destacar que as ações de preparação e resposta devem ser coordenadas em nível estadual, envolvendo diversas secretarias, órgãos governamentais, instituições de pesquisa, comunidades locais e setores afetados. O trabalho conjunto é fundamental para minimizar os impactos do El Niño e promover a resiliência do estado da Paraíba diante das mudanças climáticas”, acrescenta Juan Mendonça.

Nesse sentido, a Semas vem desenvolvendo uma agenda ambiental voltada para a mudança e adaptação climática. A intenção é atuar em colaboração com as demais secretarias, órgãos vinculados, instituições de pesquisa, ensino superior e institutos de pesquisa, buscando implementar ações conjuntas e mais robustas para a conservação do meio ambiente e melhoria da convivência com o semiárido.

Assim, a meta da Semas é deter a degradação da Terra relacionada ao fenômeno El Niño por meio do fortalecimento de arranjos interinstitucionais, controle e monitoramento ambiental para reduzir as taxas de desmatamento, extração ilegal de vegetação nativa e queimadas.

*Lucilene Meireles, para o Jornal A União (25/6)

Foto: Reprodução/Lauren Dauphin/NASA/JPL-Caltech/ESA

 

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