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Escandaloso: Caixa ignora Lula e esconde que ajudou Bolsonaro a comprar voto de pobres

A notícia foi publicada, nesta segunda-feira, na coluna de Leonardo Sakamoto, colunista do UOL:

O que não contavam é que a repórter Amanda Rossi, que vem cobrindo diligentemente o tema, conseguisse o documento original que a atual direção do banco, que mantém dirigentes da gestão passada, não queria que o público soubesse.

Sua investigação, publicada neste segunda (7), mostra que os trechos censurados confirmam o uso político do empréstimo consignado para favorecer Jair através da compra de votos de eleitores com a corda no pescoço. E mostra que o mecanismo foi implementado sem planejamento e com a Caixa consciente de pendências que representavam riscos financeiros e jurídicos.

O documento censurado avalia que havia “risco imprevisível às instituições financeiras” e confirma que logo no primeiro mês em que as parcelas do consignado foram descontadas, ainda em 2022, o banco estatal teve uma “perda relevante”. Até porque a preocupação do governo, naquele momento, era a distribuição de dinheiro, não a sua devolução.

Em outra reportagem da incansável Amanda Rossi, já havíamos ficado sabendo que a Caixa concedeu 99% de todo valor que liberou em empréstimo consignado do Auxilio Brasil exatamente durante o período eleitoral do ano passado. E muita gente acessou esse guichê: quase R$ 7,6 bilhões foram concedidos a 2,9 milhões de famílias nesse período pelo banco.

Depois, a fonte secou. Por quê? Porque não era mais preciso comprar voto de pobre.

O empréstimo consignado concedido a beneficiários do Auxílio Brasil foi a prova de que vale absolutamente tudo em uma eleição – inclusive endividar famílias miseráveis, oferecendo uma miragem em troca da redução dos recursos destinados a aplacar a sua fome. É o crime eleitoral com requintes de crueldade.

Valendo-se da situação de desespero a que estavam submetidos milhões de brasileiros pobres por suas dívidas, o governo Bolsonaro ofereceu a eles a possibilidade de tomar um empréstimo a ser pago com uma parte da grana destinada à compra de um mínimo de comida.

Claro que a possibilidade foi aberta em um contexto eleitoral em que Bolsonaro, segundo as pesquisas, perdia de lavada para Lula entre famílias com renda de até dois salários mínimos.

O dinheiro que entrou gerou um alívio imediato. E a expectativa de Bolsonaro era que, aliviados, os mais pobres deixassem de votar em Lula e o escolhessem. Agora, quando as parcelas fazem falta no supermercado, é o “cada um por si e Deus acima de todos”.

Com todos esses problemas, a Caixa chegou a suspender a concessão de novos empréstimos após recomendação do TCU na eleição. Mas voltou a oferecê-lo. Agora, as regras mudaram, reduzindo o valor que pode ser emprestado e limitando a 5% o comprometimento da parcela. Mas esses bilhões já emprestados armam uma bomba-relógio social que pode explodir. Ou criar prejuízo aos cofres públicos.

Explorar o desespero do naco mais pobre da população, oferecendo a possibilidade de trocar comida por amortização de dívida, demanda uma falta crônica de empatia por parte de quem formula, executa e lucra com a ideia. Pois isso não é dedução automática em salário, mas em benefício para garantir sobrevivência.

O caso entra na longa fila de razões para condenar Jair Bolsonaro.

Em maio, o petista fez uma defesa contundente da Lei de Acesso à Informação. Segundo ele, a LAI “não permite que os dados e documentos que poderiam salvar vidas, ajudar os cidadãos e cidadãs a exercerem seus direitos fiquem trancados a sete chaves em alguma gaveta de órgão público”.

Para ele, a transparência não permite que a máquina pública “morra pouco a pouco nas decisões tomadas a portas fechadas ou nas ações que ninguém tem a decência de explicar”.

Que Lula não se esqueça de suas palavras e garanta que a Caixa tenha a decência de se explicar.

Em nota enviada à coluna após a sua publicação, a Caixa afirma que a presidente Maria Rita Serrano determinou uma auditoria interna para apurar o consignado. E que, ainda na época de conselheira eleita pelos empregados para o Conselho de Administração do banco, ela já criticava a operação. Apontou que o documento solicitado por Amanda Rossi vai ser enviado oficialmente ao UOL, que abrirá processo de investigação para apurar o descumprimento da orientação da CGU e que “os envolvidos em eventuais irregularidades serão devidamente responsabilizados”.

Transcrito do site UOL

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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