ESPECIAL – “A verdade sempre aparece”, diz Patrícia Poeta após ser alvo de críticas
Quando a apresentadora americana Oprah Winfrey esteve em São Paulo, em abril, para participar de um seminário, Patrícia Poeta diz que tinha de dar um jeito de vê-la. O evento com a presença da americana seria realizado pela manhã, mesmo horário em que a brasileira está nos estúdios da Globo na capital paulista para apresentar o Encontro.
“Mas dei um jeito. Saí correndo daqui, porque eu realmente admiro demais ela.” Chegou a tempo de tietar e conseguir uma foto ao lado de Oprah. E recebeu de volta um elogio. “Eu fiz uma brincadeira com o nome do livro dela, ‘What I Know for Sure’ [‘O que Eu Sei de Verdade’, na edição brasileira], e aí ela me falou: ‘E o que eu sei com certeza é que você é muito bonita”, relembra a jornalista à coluna.
Patrícia diz que esse tipo de julgamento só “dava mais forças” para ela seguir. “Eu pensava: ‘Vamos ver, vamos ver, vamos mostrar conteúdo’.”
Com quase 30 anos de carreira na TV, Patrícia já foi repórter, “moça do tempo”, correspondente internacional e apresentadora. Em 2014, quando estava na cadeira mais cobiçada do telejornalismo no Brasil, a de âncora do Jornal Nacional, ela anunciou que iria migrar para a área de entretenimento da Globo.
No ano seguinte, estreou no É de Casa, programa de variedades que surgia para ocupar as manhã de sábado da emissora. E, desde julho de 2022, virou a apresentadora principal do Encontro, após a saída de Fátima Bernardes.
No primeiro ano à frente do matutino, Patrícia foi alvo de muitas críticas por parte do público e da imprensa e chegou a ser chamada de racista nas redes sociais porque teria interrompido uma fala do seu então colega de trabalho Manoel Soares.
“Todos nós somos [julgados] por qualquer coisa hoje em dia. E as pessoas não quererem saber se aquilo é verdade ou se é mentira. É um efeito manada. Porque um falou, aí o outro fala, e vai crescendo…”
Eu ouvia comentários de colegas de trabalho assim: ‘Mais um rostinho bonito na TV, não vai durar’
No caso de maior repercussão, em que passou na frente da câmera cortando uma fala de Soares, Patrícia disse que não teve maldade alguma e que situações desse tipo são comuns em um programa ao vivo. “Já passei na frente de um monte de gente, um monte de gente já passou na minha frente. Mas aí [ao dizerem que ela fez de propósito] tem um interesse por trás. Que você não sabe de onde vem, por que vem.”
“Hoje, na internet, a pessoa não assiste o programa, mas pode colocar o vídeo do trechinho [do que ocorreu] da forma que ela quiser, com a narrativa que ela quiser”, afirma.
Patrícia diz estar aberta a comentários “pertinentes e construtivos” sobre o seu trabalho. “A gente está aqui para evoluir.” Mas se a crítica for destrutiva e maldosa, ela afirma ter outra postura. “E eu acho que, com certo amadurecimento, você aprende a distinguir as coisas.”.
Para lidar com a situação, a gaúcha revela ter recorrido a um conselho que Oprah já deu publicamente sobre o assunto, que é se autocentrar e seguir fazendo o seu trabalho.
“Eu sei quem eu sou. E, sinceramente falando, o tempo é o senhor da razão. A verdade sempre aparece”, diz. “Quando você trabalha, faz o teu, é uma pessoa do bem, você deita a cabeça no travesseiro com a consciência tranquila de que está fazendo o seu trabalho direitinho, de que você trata todo mundo muito bem.”
A apresentadora afirma também que “prefere gastar as suas energias com fatos positivos”. “Eu não foco em coisas ruins. Acho que é isso o que me trouxe até onde eu cheguei. Espero fazer cada vez melhor, continuar. Por exemplo, você está me perguntando e voltando no tempo. E eu estou mais focada em ajudar os meus conterrâneos do que preocupada com um vídeo que saiu lá atrás e que não dizia verdade nenhuma”, argumenta, em referência ao show online que promoveu na semana passada, em prol das vítimas do Rio Grande do Sul.
Passada a tormenta, Patrícia Poeta está em uma fase mais tranquila e próspera desde o início deste ano. Segundo números divulgados pela Globo, juntos, o Encontro e o Mais Você (apresentado por Ana Maria Braga) tiveram, nestes primeiros seis meses do ano, o melhor desempenho semestral desde 2018. A média de audiência do programa comandado por ela é de sete pontos no Painel Nacional de Televisão (PNT), com recordes nos meses de abril e maio, quando registrou oito pontos —cada ponto equivale a 253.273 domicílios.
“Não existe atalho. O que existe é esforço, é dedicação, é trabalho”, afirma. “Sou persistente e resiliente. E, assim, eu não desisto nunca. Minha mãe dizia isso: ‘Desistir não é opção’.”
Patrícia atribui essa força também ao fato de ser gaúcha. Ela diz que isso ficou ainda mais acentuado quando viajou até o Rio Grande do Sul para apresentar o Encontro diretamente da tragédia que assolava o estado. “Mexeu muito comigo ter ido até lá. O gaúcho está sendo testado todos os dias, e as pessoas são realmente muito fortes.”
Durante a cobertura em São Jerônimo, sua cidade natal, ela chegou a encontrar uma prima na rua por acaso. “Nem lembro o que eu falei pra ela, porque era um programa ao vivo, foi tudo no improviso.” O sotaque gaúcho, que ela não costuma apresentar normalmente, veio à tona na mesma hora. “Eu brinco que o sotaque vem quando eu estou com muita saudade ou quando encontro a família.”
É sem ver a desistência como uma opção viável que Patrícia afirma lidar com tudo na vida. Ao ser indagada se já sofreu com machismo, por exemplo, a apresentadora cita uma situação que viveu aos 22 anos. Na época, quis fazer uma reportagem no então presídio Carandiru, na zona norte de São Paulo, e seus chefes disseram que ela não poderia por ser mulher. “Mas eu te falei que desistir não é uma opção. Acabei ficando uma semana lá [na penitenciária], fazendo a reportagem.”
“Eu nunca dei muita bola para isso [machismo], não. E vale para todos os tipos de obstáculos. Eu acredito que quando você quer, você vai atrás. Não fico ali, sofrendo com uma coisa. A gente recebe vários ‘nãos’ ao longo da vida. Se você desiste nos nãos, você não vai para frente.”
Para estar no comando do Encontro todos os dias ao vivo, das 9h30 às 10h35, Patrícia acorda às 4h30 e antes das 6h já está nos estúdios da Globo para se arrumar e para participar das reuniões que envolvem o programa. Depois que finaliza a atração, uma nova reunião é feita para discutirem o que irá ao ar na manhã seguinte. Ao longo do dia, ela segue em contato constante com a equipe para eventuais alterações.
Todos nós somos [julgados] por qualquer coisa hoje em dia. E as pessoas não quererem saber se aquilo é verdade ou se é mentira. É um efeito manada
Desde que assumiu a atração, o Encontro passou a abordar mais assuntos factuais. Por isso, não é incomum que todo o trabalho anteriormente já programado seja completamente reformulado diante de uma notícia quente. Foi o que aconteceu na quinta (20), quando a coluna acompanhou Patrícia nos bastidores do programa.
Diante da morte do sertanejo Chrystian, ocorrida na noite anterior, o primeiro bloco do Encontro foi alterado para homenagear o cantor. “Esse programa mudou umas duas, três vezes de ontem para hoje. E eu amo isso. Não gosto de ter rotina. Gosto de cada dia ser diferente.”
Atrás das câmeras, Patrícia quase sempre está com uma xícara de café nas mãos. Na quinta, quando a coluna a acompanhou durante a atração, ela já tinha perdido as contas de quantas doses tinha tomado —às vezes intercaladas com uma xícara de chá. “Eu tomo muito café mesmo.”
Cerca de meia hora antes de entrar ao vivo, ela surge no estúdio animada e simpática, conversando com as pessoas presentes na plateia: “Bora, bora, bora”. E é recebida com muitos aplausos. Ao final do programa faz questão de tirar foto com todos. .
Questionada sobre como vê o seu futuro na TV, ela afirma que busca viver no presente, sem ficar pensando muito no passado ou no que virá. “Eu tenho quase 50 anos, quase meio século de história. Já fiz tanta coisa, mas ainda quero fazer muito mais e tenho muita energia para isso.” No fim do ano passado, ela renovou o seu vínculo com a Globo até 2026.
A busca por viver o agora, diz ela, veio mais forte após enfrentar um problema de saúde grave, em setembro de 2021, quando foi submetida a uma operação às pressas de retirada das amígdalas. “Eu quase morri.”
É por isso que Patrícia diz se preocupar menos, por exemplo, com questões como sua aparência física e o envelhecimento. “É claro que eu me cuido no sentido de saúde. Eu faço exercício físico, mas mais por causa disso aqui [aponta para a cabeça], porque faz bem para a minha mente, para o meu emocional.”
Também cita a boa genética da mãe, que, segundo ela, nunca fez procedimentos estéticos no rosto. Já ela afirma fazer tratamentos a laser para dar “uma melhorada na pele” e aplicações de botox.
“Mas sabe o que eu acho? Quando você está bem por dentro, dá uma ajudada no externo.” Desde que enfrentou o problema de saúde, Patrícia conta que passou também a fazer meditação diariamente.
A apresentadora foi casada por 17 anos com Amauri Soares, que é hoje um dos homens mais poderosos da TV Globo. Ele ocupa o cargo de diretor-executivo da TV Globo e dos Estúdios Globo. Eles se separaram em 2017 e têm um filho juntos, o cantor e produtor musical Felipe, 21.
Quando estavam juntos, Soares já ocupava cargos de direção em diferentes áreas na empresa. A coluna questionou até que ponto dá para evitar duas coisas: de um lado, o conflito; de outro, a condescendência profissional dele em relação a ela. “Não falo com ele sobre trabalho”, diz ela.
Patrícia complementa que Amauri foi seu chefe direto apenas no seu primeiro ano de Globo, entre 2000 e 2001, quando ele era diretor de jornalismo da emissora em São Paulo, e ela atuava na previsão do tempo, como repórter e apresentadora.
Solteira, Patrícia afirma que está “namorando com o trabalho”. “Acho que um namorado vai vir na hora certa.”