ESPECIAL: Companhia de pets facilita cura de doenças e promove bem-estar

Em fevereiro de 2019, a campainha da casa da estudante Sarah Macedo tocou. Quando a mãe da moça foi até o portão, sua prima entregou o cachorro que tinha nos braços para ela, entrou no carro que a tinha levado até lá e foi embora. Assim o pequeno poodle Apolo entrou para a família. “Ele era do tamanho das mãos da minha mãe. Tão pequeno, tão fofo que a gente nem pensou na possibilidade de não ficar com ele”, conta Sarah, de 22 anos. (via jornal A União*)

Hoje, Apolo tem 4 anos e, mesmo que já seja adulto, continua sendo o xodó dos Macedo. Devido ao porte pequeno que lhe confere menos de 40 centímetros, é difícil encontrar um membro na família que não se desmanche todo pelo cachorrinho.

Assim como na família de Sarah, muitas famílias têm seus bichinhos como membros. Estima-se que existam, no Brasil, 149,6 milhões de animais de estimação. Este número foi levantado pelo Censo do Instituto Pet Brasil e coloca o Brasil em terceiro lugar no rank de países com a maior população de animais domésticos.

O benefício é mútuo. Além de reduzir a imensa população de animais de rua do país, adotar um animal contribui para a saúde física e mental dos tutores. A psicóloga, Ana Raquel Calaça, explica que um pet pode, inclusive, representar um salto na qualidade de vida de seu tutor. “Ter um bichinho de estimação pode até auxiliar no tratamento de algumas questões de saúde que afetam seus donos, contribuindo para uma melhora na resposta do paciente a diversos tratamentos”, diz a psicóloga.

Segundo Ana, o convívio com os bichos de estimação diminui o risco de doenças cardiovasculares e bastam apenas alguns minutos com um bichinho para que as pessoas se sintam mais calmas e menos estressadas. Isso porque o corpo passa por mudanças físicas que alteram o humor das pessoas e os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, diminuem. Além disso, o amor incondicional do animal de estimação pode ajudar o tutor a lidar com doenças, como a depressão.

Quando a cachorrinha Pêpa chegou à casa de Gisely Castor de Andrade, de 28 anos, os dias da professor certamente ficaram mais coloridos, mas o amor de um pet Gisely já conhecia. É que, antes de Pêpa, Gisely vivenciou por 17 anos o companheirismo da cachorra Pandora, que faleceu em fevereiro do ano passado. “Panda, como a chamávamos, foi quem me ensinou as responsabilidades e os prazeres que um bichinho de estimação nos proporciona”, conta.

E, para Gisely, são mais benefícios que malefícios. Na pandemia de Covid-19, por exemplo, Pêpa e Panda exerceram um papel de fundamental importância para tutora e de todo o mundo: o contato físico. “A Covid-19 nos privou desse contato, mas quem tinha um animalzinho pôde amenizar a falta de um abraço; neles estava liberado o aconchego. Cuidar de um animal nos ajuda a nos manter ativos mental e fisicamente. Mentalmente podemos dar e receber afeto. As brincadeiras e os passeios nos ajudam a nos movimentar, assim como fazer amizades em parques e praças para trocar ideia sobre eles” avalia a tutora de Pêpa.

Desde pequeno, o estudante universitário Ricardo Lellis convive com animais de estimação. Assim como foi com Gisely, o primeiro bicho que o ensinou o amor de um animal foi Pandora, uma cachorrinha. De lá para cá, são mais de vinte anos de experiências com animais de estimação.

Em 2012, o estudante, de 23 anos, conheceu Spike, seu parceiro de quatro patas atual. À época, Spike, junto de Pandora e Belinha, compunham um hiperativo e problemático trio, em que a juventude de um nem sempre era uma boa ideia para os mais velhos. Nessa mistura, sobrou até para Tom, o gorducho gato da família. “Minha mãe conta que a primeira coisa que eu disse quando a vi com Spike, que estava dentro de uma caixa, foi: bateria tem rabo? Só dava para ver o rabinho dele e não parava de chacoalhar”, lembra.

Hoje, o pet de Ricardo assumiu uma nova responsabilidade: acompanhá-lo em outra cidade, enquanto ele faz faculdade. É que o recifense é aluno da Universidade Federal da Paraíba e, por enquanto, vive sozinho em João Pessoa. “Sozinho, mas não só”, já que, mesmo sem humanos, o estudante tem Spike ao seu lado.

Embora as adoções de animais tenham aumentado durante a pandemia de Covid-19, já foi possível notar a alta na quantidade de abandonos em todo o Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, hoje, existam cerca de trinta milhões de animais abandonados no país, sendo vinte milhões deles cachorros e dez milhões gatos.

Assim como contou Gisely Castor, na pandemia, os animais assumiram mais que nunca um papel de suporte emocional para as pessoas. E, agora que a dinâmica social já voltou ao normal, muitos tutores abandonaram seus pets em abrigos ou tomaram uma decisão pior, soltando-os na rua.

De acordo com a médica veterinária Luana Ribeiro, a adoção de pets tem se tornado cada dia mais comum. A veterinária alerta, no entanto, para as responsabilidades adquiridas ao adotar um animal. “A questão não é só adotar, mas ter consciência. O animal hoje tem um impacto muito grande na vida de nós humanos. Suprimos a nossa solidão, nossa carência e muitas vezes as nossas perdas e, em contrapartida, eles nos demandam amor incondicional, formando uma relação sinérgica”, explica ao reforçar que, para agregar um bichinho à família, é importante ter em mente que os pets têm suas necessidades básicas, fisiológicas e também mentais; e que esse quadro se agrava sobretudo quando o animal é um gato.

Animais exóticos

 Além dos bichinhos tradicionais, há, ainda, quem crie animais exóticos. E os tutores desses pets garantem: além de apaixonarem quem cria, os exóticos fascinam a todos que veem. Este é o caso do marceneiro Washington Pereira, que, depois de assistir a documentários e programas sobre a vida animal, se encantou pelo estilo de vida dos répteis e passou a criá-los há cerca de seis anos. “Quando falei para a minha esposa que queria criar cobras, foi uma resistência gigante. Mas, desde que comecei, não parei mais. Foi amor à primeira vista”, conta o criador, que já chegou a ter sete serpentes em casa e, hoje, mantém três e outros animais, como lagartos e papagaios.

O marceneiro lembra que, no início, seus vizinhos também resistiam ao fato de ele criar répteis. “Diziam que era loucura e, na verdade, não é. Para ter um bicho desses e oferecer qualidade de vida a ele, você precisa ter noção de um monte de coisas, como temperatura, umidade, troca de pele e alimentação”, diz o dono das serpentes ao lembrar que elas também não demonstram quando estão doentes.

Para Washington, criar animais exóticos é, de fato, uma prova de amor, porque os obstáculos impostos pela sociedade são muitos. “Por estarem presentes na Bíblia, por exemplo, as serpentes são muito discriminadas. Dizem que ter uma serpente é ter o mal dentro de casa e, na verdade, não. Elas são extremamente dóceis”, conta. Justamente por serem dóceis, as serpentes do marceneiro se tornaram parte da família. E até mesmo sua filha, a pequena Maria Júlia, tem carinho pelos animais, com os quais se exibe toda enrolada nas redes sociais.

Através do Censo do Instituto Pet Brasil, infere-se que, atualmente, no mínimo 70% da população brasileira tenha um animal de estimação na família ou, pelo menos, conheça alguém com um pet em casa. E os tutores, asseguram: quem adota, não se arrepende.

A psicóloga Ana Raquel Calaça aconselha a adoção como relação lucrativa para ambos os lados. “É preciso ter responsabilidade e prudência. Mas os benefícios à saúde não se restringem somente às pessoas. Igualmente, o contato do tutor com os animais também gera interferências positivas nos bichinhos. Em poucos minutos de carinho e afagos para que as taxas cardíacas dos animais diminuam e eles se sintam mais calmos”, afirma.

A tutora de Apolo, Sarah Macedo, diz que, sem ele, a família não seria igual. Já para Ricardo Lellis, a adoção é como um vício, pois quem conhece o amor de um, deseja repetir com vários. Pêpa, que tem um acento no nome para não ser confundida com a porquinha rosa dos desenhos animados, já é considerada filha da professora Gisely Castor. E as serpentes de Washington o ensinam tanto quanto ou mais que qualquer outro bicho “tradicional”.

“Sempre incentivo que adotem. Primeiro porque os bichos não deveriam estar na rua. O abandono é nossa culpa e cabe a nós reparar nossa dívida com os animais de estimação os adotando e retribuindo tudo o que eles fazem por nós”, analisa Ricardo Lellis.

Matéria assinada por Carol Cassoli, no jornal A União

Foto de Blue Bird/Pexels – https://www.pexels.com/pt-br/foto/7210487/