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ESPECIAL – Entenda como Venezuela passou de mais rica da América Latina para palco de crise humanitária

Venezuela viveu seu primeiro longo período democrático a partir de 1958, quando terminou uma ditadura militar iniciada dez anos antes. Os principais partidos entraram em acordo para governar o país no chamado Pacto de Puntofijo. A Folha de S. Paulo trouxe, neste domingo, matéria especial sobre o tema que o Jampa News transcreve.

Ao longo destes 66 anos, a nação sul-americana viveu períodos de bonança e de crise atrelados às variações do preço do petróleo, acompanhados com frequência por instabilidade política. O século 20 terminaria com a ascensão do chavismo em 1998, no poder desde então e hoje representado pelo ditador Nicolás Maduro, que busca um terceiro mandato neste domingo (28).

Acompanhe, abaixo, a linha do tempo dos principais momentos desse período, no qual a Venezuela passou de país mais rico da América Latina a palco da maior crise humanitária e migratória recente da região. Hoje, a qualidade de vida voltou a melhorar, mas está nos mesmos níveis dos anos 1990.

1958 Após dez anos de ditadura militar, Venezuela volta à democracia com uma insurreição popular e um acordo entre seus três principais partidos. Rómulo Betancourt é eleito.

O presidente John F. Kennedy e a primeira-dama Jacqueline Kennedy recepcionam o presidente da Venezuela, Rómulo Betancourt (de óculos), em Washington, em 1963 – Abbie Rowe – 19.fev.63/White House Photographs/John F. Kennedy Presidential Library and Museum

1959-1964 No contexto da Guerra Fria, seu governo é marcado pela abertura econômica e pelo rompimento das relações com Cuba e outros governos ditatoriais. O presidente enfrenta ainda conflitos com guerrilhas comunistas, uma tentativa de assassinato e outra de golpe militar.

1967-1969 Guerrilha chega ao fim após uma tentativa frustrada de invadir o país com apoio de Cuba. O grupo é anistiado, e o Partido Comunista é legalizado, mas a repressão estudantil recrudesce.

1973-1974 Crise global causa uma disparada nos preços do petróleo, beneficiando a então apelidada “Venezuela saudita”.

1976-1983 O país nacionaliza a exploração do combustível com a criação da estatal Petróleos de Venezuela S.A (PDVSA). Com mais investimentos e programas sociais, começa o endividamento.

1983 Uma grave crise econômica faz a pobreza voltar a crescer, depois de três décadas em declínio; medidas de austeridade e desvalorização da moeda pelo governo de Carlos Andrés Pérez geram descontentamento popular.

1989 Caracazo: Protestos violentos contra o aumento dos custos de vida se espalham por Caracas e pelo país, resultando em centenas de mortes.

Homem pula em cima de automóvel durante manifestação conhecida como “Caracazo” em fevereiro de 1989, em Caracas – Divulgação

1992 e 1994 O governo sofre duas tentativas de golpe frustradas, uma delas liderada por Hugo Chávez, então tenente-coronel do Exército, que ganha visibilidade nacional. Pérez sofre impeachment após acusações de corrupção, e Chávez é perdoado.

O então tenente-coronel do exército venezuelano Hugo Chávez conversa com a imprensa em 1994, depois de sair da cadeia – Bertrand Parres – 26.mar.94/AFP

1994-1998 País enfrenta um período de instabilidade em meio ao agravamento da crise econômica e social.

1998 Hugo Chávez é eleito presidente e inicia mudanças políticas significativas com sua plataforma socialista conhecida como “Revolução Bolivariana”, aproximando-se do cubano Raúl Castro.

1999 Sofrendo críticas por indicar aliados a postos-chave da burocracia, Chávez convoca um referendo e aprova nova Constituição. A Carta ampliou o mandato e os poderes do presidente e permitiu sua reeleição.

2002 Chávez sofre uma tentativa de golpe de Estado, contida após protestos populares e apoio militar.

2003-2013 Período é marcado por uma nova alta nos preços do petróleo e pela expansão de políticas sociais, mas também má gestão econômica e corrupção.

2009 Chávez anuncia intenção de concorrer novamente à Presidência e convoca um plebiscito para eliminar os limites de reeleição, vencendo com 54% dos votos.

Nicolás Maduro ergue uma réplica da espada de Simón Bolívar sobre o caixão de Hugo Chávez durante o funeral do presidente venezuelano em março de 2013, em Caracas – 8.mar.13/Palácio de Miraflores via Reuters

2013 Chávez morre de câncer, e seu vice Nicolás Maduro é eleito em vitória apertada contra o opositor Henrique Capriles. A economia começa a deteriorar-se rapidamente devido à queda dos preços do petróleo e políticas econômicas controversas.

2015 A oposição vence eleições legislativas e toma controle da Assembleia Nacional. O então presidente dos EUA, Barack Obama, aplica sanções contra a Venezuela e passa a considerá-la uma ameaça à segurança nacional.

2017 Maduro inicia um processo para invalidar a Assembleia Nacional por uma Assembleia Constituinte governista, gerando críticas internacionais e protestos em massa que terminaram com milhares de presos e mais de cem mortos. Com o Legislativo sob jugo do Executivo, país se vê diante de uma ditadura.

2019 Maduro se reelege em pleito contestado, e Juan Guaidó, líder da oposição, se declara presidente interino. O país enfrenta uma crise humanitária com hiperinflação, escassez de alimentos e medicamentos e uma nova onda de protestos.

Sob Donald Trump, EUA ampliam sanções e miram diretamente a PDVSA, prejudicando o setor petrolífero na Venezuela.

2023-2024 Maduro promove uma abertura silenciosa, e índices econômicos voltam a melhorar, mas desigualdade se aprofunda, gerando bolsões de riqueza. Em ano de eleição e alta rejeição ao regime, perseguição a opositores cresce.

 

Matéria especial transcrita da Folha de S. Paulo deste domingo

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