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ESPECIAL – Internações por obesidade triplicam em cinco meses na Paraíba

No Brasil, com o avanço dos casos de obesidade, estima-se que, em 20 anos, quase metade da população adulta seja considerada obesa e mais de 27% esteja com sobrepeso.

O alerta é resultado de um estudo conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que mostrou, ainda, que 130 milhões de brasileiros estarão acima do peso em 2044. Refletindo essa tendência, a Paraíba tem registrado, nos últimos anos, uma alta significativa no número de internações hospitalares relacionadas à doença, passando de 66 registros, em 2022, para 103, no ano seguinte, e chegando a 348, somente nos primeiros cinco meses deste ano. Inclusive, os dados de 2024 — do Ministério da Saúde — representam mais da metade do total de internações acumuladas, desde 2019, no estado.

Embora as estatísticas ainda sejam inferiores, em relação às de estados vizinhos — como Pernambuco, que registrou 1.956 internações nos últimos cinco anos —, a Paraíba já começa a se destacar entre os estados nordestinos com mais hospitalizações ligadas à obesidade. No acumulado de 2019 a 2024, o estado fica um pouco atrás da Bahia e do Ceará, que contabilizaram 741 e 675 internações, respectivamente, regiões que mais tiveram atendimentos ambulatoriais, nesse período, com 41.749 e 13.100.

A Paraíba, por sua vez, registrou 2.105 atendimentos, nesses cinco anos, com 668, em 2023, e 183, de janeiro a maio de 2024. Por mais que as estatísticas possam parecer exageradas, à primeira vista, especialmente em um momento em que se fala muito sobre aceitação e diversidade de corpos, é importante lembrar que há muitos fatores que pesam na balança. Mas como explicar essa epidemia que tanto avança pelo Nordeste?

Nos próximos anos, a tendência é que mais paraibanos estejam acima do peso, e isso não é um processo aleatório. Esse fenômeno tem muito a ver com o crescimento e a modernização do estado, como aponta a endocrinologista e coordenadora da disciplina de Endocrinologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Ana Luiza Rolim. Segundo ela, é um reflexo da urbanização, do consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, do sedentarismo e da fragilização da saúde mental — fatores que, somados aos hábitos familiares e à genética de cada indivíduo, contribuem (e muito) para a obesidade.

“Tudo isso, com certeza, colabora para o aumento de peso. E a obesidade também aumenta o estresse psicológico, diminui a autoestima e causa mais ansiedade”, explica a médica. Além disso, deve-se levar em conta o maior acesso da população paraibana à rede de saúde especializada, o que explicaria a alta expressiva na quantidade de internações, nos últimos anos. “Hoje, temos mais portas de entrada para o atendimento de obesidade grave e para a cirurgia bariátrica. De 2022 para cá, há mais serviços desse tipo no estado, além do já existente no Hospital Universitário, para a realização de bariátrica”, reflete Ana Luiza.

 

Riscos à saúde

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é uma doença crônica, progressiva e recidivante, ou seja, que pode retornar depois da sua remissão. Isso significa que nem mesmo a cirurgia bariátrica representa uma solução definitiva para o paciente, caso ele não altere a sua alimentação e a sua rotina. Embora a magreza não seja, necessariamente, um indicativo de saúde, a obesidade está associada ao desenvolvimento de 147 doenças, incluindo hipertensão, diabetes, artrose, cálculos biliares, refluxo gastroesofágico e apneia do sono, além de diversos tipos de câncer, como os de intestino e vesícula.

Não sem razão, a endocrinologista lembra que, independentemente do peso, o importante é cuidar da saúde — e isso vale para todos. “Se a pessoa faz exercícios e tem boa alimentação, certamente, terá menos riscos. Não é uma questão de aceitação, mas de saúde”, diz. Ao confundir magreza com saúde, entretanto, muita gente aposta, sem supervisão médica, em atalhos para emagrecer de forma rápida, incluindo dietas, remédios e suplementos. Essa estratégia é arriscada e pode comprometer a saúde do paciente, de acordo com a nutricionista Heloísa Espínola, que recomenda procurar sempre um profissional para a elaboração de um plano personalizado.

“Emagrecer de qualquer jeito pode causar anemia, desnutrição e carência vitamínica”, alerta a especialista. “Uma dieta rica em proteína pode afetar os rins e aumentar o colesterol”, exemplifica. Por isso, a alimentação precisa ser balanceada e adequada às necessidades individuais, o que também inclui a prescrição de chás e suplementos fitoterápicos, na medida certa. “A dieta precisa ser personalizada, pois cada pessoa tem suas necessidades. Somos diferentes, nada deve ser generalizado”, conclui a nutricionista.

 

Da luta contra a balança até a decisão pela bariátrica

Para a jornalista Heloísa Desirée, de 33 anos, a obesidade nunca foi um entrave a ponto de impedi-la de aproveitar a vida. De sorriso fácil, a apresentadora do programa Melhor pra Você, na TV Manaíra, conta que a sua autoestima sempre esteve muito bem, independentemente do que mostrava a balança.

Contudo, ela reconhece que, embora nunca tenha deixado de fazer o que gosta por estar acima do peso, muito disso aconteceu com várias limitações. “No trabalho, em alguns momentos, sei que perdi oportunidades por ser gorda. Sempre gostei de moda, mas comprar roupas, por muito tempo, era um caos. Já tive que pedir extensor no avião porque o cinto não fechava. A obesidade sempre me tirou muita coisa, mas eu acabava não enxergando isso”, analisa. Segundo ela, “estar cima do peso” era algo normalizado, até porque seus familiares também eram obesos. “Na infância, na adolescência e na fase adulta, o excesso de peso sempre me acompanhou. Os olhares e as dificuldades que a obesidade me trazia sempre me incomodaram”, reflete.

Por conta disso, chegou a fazer academia e dietas restritivas ao longo dos anos, mas não conseguia manter o peso. “Era mais pelo desespero de precisar mostrar aos outros que eu conseguiria emagrecer. Então, no fim das contas, eu sempre ganhava o peso de volta, e era aquela frustração sem fim”, conta.

Em 2016, o término de um relacionamento de quase oito anos a motivou a mudar: dos 126 quilos, emagreceu 32 “na tora” — como gosta de dizer —, por meio de treinos e reeducação alimentar. Foi uma conquista significativa, mas breve. No ano seguinte, a vida de influenciadora digital e recém-casada acabou devolvendo-lhe os quilos perdidos. O problema, segundo Desirée, era que, naquela época, ela acreditava que poderia emagrecer a qualquer momento, o que não é bem assim.

“Depois de perder 32 kg, cheguei a pesar quase 140 kg. Aí, eu fiquei preocupada, mas também não fiz muita coisa para mudar”, relembra. A mudança definitiva veio um tempo depois, depois de entrevistar um cirurgião especializado no aparelho digestivo. Foi quando ela passou a considerar a cirurgia bariátrica — decisão que só viria cinco meses depois. Desirée foi operada em janeiro de 2023, com 126,6 kg. Hoje, pesando 72,4 kg, define a sua vida pós-bariátrica como libertadora.

“Tudo mudou”, afirma. E todo dia, desde que embarcou nessa transformação, ela busca fazer um “bocadinho a mais” para se manter saudável e plena, equilibrando corpo e mente. Último recurso? Por ser um procedimento invasivo, a bariátrica é considerada o último recurso no tratamento da obesidade grave. Embora tenha se tornado muito popular, ela é recomendada somente quando outras abordagens, incluindo mudanças no estilo de vida e uso de medicamentos, não alcançam a perda de peso necessária para garantir a saúde do paciente. Mas há riscos envolvidos.

Segundo o cirurgião Daniel Hortiz, especialista em aparelho digestivo com ênfase em cirurgia bariátrica, assim como em qualquer procedimento, o paciente pode apresentar complicações como infecção, sangramento, trombose e problemas relacionados à anestesia, além de vazamentos, estenose (estreitamento) da anastomose (conexão entre os órgãos) e deficiências nutricionais.

Outro ponto levantado pelo especialista é que a cirurgia bariátrica não representa uma solução definitiva para a obesidade. “Depois do procedimento, o paciente precisa manter hábitos saudáveis, incluindo uma dieta equilibrada e a prática regular de exercícios físicos, para evitar o reganho de peso”, adverte. A cirurgia é indicada para pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 40 kg/m² ou com IMC igual ou superior a 35 kg/m² que apresentam comorbidades relacionadas à obesidade, como diabetes, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares.

 

Texto de Priscila Perez para o Jornal A União, edição de domingo, 12/8
Foto: Alexander Grey/Pexels

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