Euler se diz humanista, mas não se pronuncia em relação aos acontecimentos ocorridos em Recife
O coronel Euler, comandante geral há mais de 10 anos da Polícia Militar visto pela tropa como o grande responsável pelo estrangulamento que teria asfixiado a instituição, ganha projeção nacional ao conceder entrevista ao portal Terra, um dos mais conceituados do país.
No seu estilo untuoso, o comandante – que aguarda no STJ uma decisão que pode colocar sua carreira de ponta cabeça – não consegue responder com objetividade certas perguntas que lhe foram feitas e que refletiriam certa perplexidade dos entrevistadores.
Uma delas – e a mais desconcertante – se refere a longevidade do coronel no cargo, o que estaria sendo combatido por proposta que transcorre no Congresso sobre a escolha de comandantes gerais através de eleição e de mandato, imitando o que ocorre nos Estados Unidos, por exemplo, em relação aos promotores públicos.
Mesmo tendo uma trajetória umbilicalmente politica, e firmada através de ideologias, Euller rejeita a proposta de eleição por considerar que não estabeleceria os parâmetros da melhor escolha como se a dele tivesse sido a melhor e não fruto de uma decisão pessoal de um governante, embasada na prestação de serviços políticos, prestados em campanhas eleitorais, algumas nebulosas e que terminaram com o resultado contestado na Justiça Eleitoral.
“Camaliônico”, adaptando-se facilmente ao ambiente político em vigor, sobrevivente de tragédias de gestões passadas, que revelaram relações tenebrosas com o crime organizado e que levaram para a prisão velhos e queridos companheiros de jornadas, inegavelmente, Euler é reconhecidamente um sobrevivente de naufrágios tão impactantes como o do Titanic.
Agente político por natureza, Euler enverga a roupa de humanista para se apresentar nacionalmente, retirando o fardamento de guerra com que vai às ruas e solenidades e com a qual saudava os caveiras nos pátios dos quartéis, tropa não tão humanista assim como revelam as atrocidades que tornaram famosas essas falanges de elite das policias estaduais, a última delas no centro do Recife, que resultou na exoneração do comandante pernambucano.
Este não recebeu nenhuma nota de solidariedade do colega presidente numa saia justa das mais justas, e que lhe impediu qualquer manifestação, empenhado em não deixar apagar uma das velas, ou as duas juntas, e cair na ira ou de Deus ou do diabo.
Na verdade, o comandante sabe que jamais seria escolhido em uma eleição direta e que sua passagem pela corporação, dependendo do que decida o STJ, pode se transformar num fiasco dos mais deprimentes extensivo a sua escolha para o cargo honorífico de presidente do Conselho de Comandantes Gerais.
Outra acrobacia do trapezista, que consegue se equilibrar na corda bamba das ideologias, já que subalterno de um governo de oposição ao presidente da república enquanto presidente de uma entidade vista como um celeiro de auxiliares fardados do capitão Bolsonaro.
Façanha para poucos malabaristas do mundo.
Leiam abaixo o exercício de equilibrismo do ainda coronel Euler:
Coronel Euller: ‘Não devemos estabelecer linha ideológica’
Presidente do Conselho Nacional de Comandantes-Gerais das PMs (CNCG) defende que a instituição se dedique a buscar uma pacificação social
A presidência do Conselho Nacional de Comandantes-Gerais das PMs (CNCG) é exercida pela primeira vez por um nordestino. A ascensão do chefe da polícia da Paraíba, coronel Euller Chaves, 54, é concomitante ao crescimento de conflitos entre polícias e governos na região.
Há mais de dez anos como comandante-geral da PM paraibana, Euller tem perfil humanista e educador
Em entrevista, critica o alinhamento ideológico nas polícias e defende que a instituição se dedique a buscar pacificação social.
P: O fato de a presidência do Conselho ser exercida pela primeira vez por um nordestino guarda relação com os conflitos das polícias na região?
Nossa eleição foi por unanimidade, nos dois momentos. Temos mais de dez anos no comando da PM da PB, é um período importante para o contexto nacional. Sou o decano do Conselho. Talvez esse aspecto tenha sido importante no contexto, mas, como somos conselho, buscamos ouvir todos.
P: O Conselho fez alguma proposta de Lei Orgânica da PM ao Congresso?
R: É uma vontade histórica, desde o início de 2000, a concepção de uma lei orgânica nacional que nos dê identidade. O conselho fez uma proposta no ano passado. Algumas pessoas fizeram outras. A nossa está ligada ao respeito à autoridade constituída, à constituição estadual, à leitura de que somos instituição de Estado. Entregamos ao deputado Capitão Augusto e ao ministro da Justiça na época, André Mendonça.
P: A proposta em discussão no Congresso tira poderes de governadores sobre as polícias. Institui, por exemplo, lista tríplice, eleição interna e mandato para comandante-geral.
Eu falo da proposta do Conselho. Nossa leitura é a de vinculação, de subordinação direta aos comandantes-em-chefe das polícias e dos bombeiros, que são os governadores. Em momento nenhum desvinculamos. A proposta de escolha por eleição não é nossa. Buscamos fortalecer a autoridade dos governadores e a concepção da instituição de Estado pautada na leitura da democracia.
P: Por que considera eleição e mandato de comandante-geral negativo?
R: Porque pode politizar instituições de Estado, de um ponto de vista que não seja, talvez, o mais justo e o mais adequado para o exercício daquela função. Colocar uma votação para comandante-geral e fazer um mandato. Desconheço dentro da concepção do militarismo. A maioria do conselho achou inconveniente para o momento que estamos vivendo. Vai vencer o mais justo, o melhor, o mais disciplinador ou o mais agradável?
P: Há riscos de novos motins nos Estados?
R: Não temos sinais nesse sentido. O momento tem exigido muito das PMs e do Corpo de Bombeiros. Além de cuidar da criminalidade violenta, que já é pandêmica, estamos cuidando também de uma pandemia. Estamos fazendo com que as pessoas se conscientizem e se protejam. Perdemos companheiros. Já são mais de mil PMs e bombeiros que se foram por causa dessa pandemia.
P: A politização das tropas e dessas associações é algo que o preocupa?
R: Sempre preocupou. Temos sinais pretéritos que recomendam olhar diferenciado para algumas das associações. Não quero generalizar. Por isso, dizemos aqui aos comandantes: cuidem dos seus comandados como filhos, porque se não cuidarmos alguém vai tentar cuidar. E cuidar às vezes não é para o lado bom.
P: A polarização política e as crises têm tornado mais difícil cuidar dos comandados?
R: Lá atrás já falávamos do papel do militar como pacificador social. A gente tem que conceber esse papel. Passamos isso nos bancos escolares, diariamente, mas as pessoas são pessoas. As escolhas precisam ser legais. O trabalho das instituições militares do Brasil é a legalidade, o respeito à autoridade constituída dos governadores de Estados.