Fugitivos de Mossoró fizeram família refém na zona rural; não sabiam onde estavam
Eles ficaram na casa por cerca de quatro horas, onde fizeram ligações para o Rio de Janeiro, se alimentaram e levaram celulares; a expectativa da força-tarefa é capturá-los nas próximas horas
Investigadores que participam das buscas aos fugitivos da penitenciária federal de Mossoró (RN) afirmam que os dois detentos fizeram uma família refém na noite desta sexta-feira (16), tendo levado dois celulares e carregadores.
De acordo com relatos dos familiares aos investigadores, eles fizeram muitas ligações por WhatsApp, sendo algumas para a capital do Rio de Janeiro, devido ao DDD. O interlocutor tinha sotaque e teria dito que estava no Rio. Segundo as investigações, os fugitivos são ligados ao Comando Vermelho.
Na casa dos reféns, eles se alimentaram e fugiram novamente cerca de quatro horas depois com mantimentos. Não houve violência.
A expectativa da força-tarefa que busca os fugitivos é capturá-los nas próximas horas, já que eles ainda estariam no cerco de 15 quilômetros do local, como mencionado pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, em entrevista coletiva na quinta-feira (15).
De acordo com investigadores, a família disse que eles ainda estariam com as roupas bem sujas, de boné e calça. Um com camisa clara e outro, escura. Eles chegaram à casa por volta das 19h30 e ficaram até pouco depois da meia-noite.
Os fugitivos pediram as senhas para destravarem os telefones das vítimas. Entraram nas redes sociais para pesquisar notícias sobre a fuga, como uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, sobre o tema.
Além de dois telefones e carregadores, a dupla levou ovo cozido e outros alimentos em uma sacola plástica, porque não estavam de mochila. Eles não pediram aos familiares dinheiro e não levaram a moto ou o carro que estavam no local.
A família disse aos investigadores ainda que os dois chegaram pelo mato (a casa fica em zona rural, voltada para a mata), e demonstraram desconhecer onde estavam.
Eles perguntavam a todo momento a localização, como se chegava ao Ceará e se estavam longe do litoral. Foram informados que estavam muito próximos da penitenciária da qual fugiram, e que havia um bloqueio na rua perto de Mossoró.
As fugas, fato inédito em presídios federais, ocorreram na passagem de terça (13) para quarta-feira (14), mas os agentes da penitenciária só detectaram a ausência dos homens na manhã de quarta, quando as buscas começaram a ser realizadas.
Os fugitivos foram identificados como Rogério da Silva Mendonça, 36, conhecido como Tatu, e Deibson Cabral Nascimento, 34, chamado de Deisinho. Segundo as investigações, eles são ligados ao Comando Vermelho.
Os fugitivos chegaram a ser vistos por moradores de Mossoró na manhã de sexta-feira, de acordo com investigadores, ocasião em que forças de segurança encontraram pegadas e roupas dos fugitivos.
Lewandowski disse que 300 agentes haviam sido mobilizados para procurá-los. Três helicópteros foram usados nas buscas, além de drones.
A pasta ainda ordenou a mobilização das Ficco (Forças Integradas de Combate ao Crime Organizado), que congregam as polícias federais e estaduais nas ações de repressão da criminalidade organizada, para colaborarem com os esforços de localização e prisão dos foragidos.
A gestão das penitenciárias federais é de responsabilidade da pasta de Lewandowski, que teve a sua primeira crise em 13 dias no comando do ministério. A fuga foi a primeira registrada nesse sistema desde sua implantação, em 2006.
A fuga provocou uma crise no governo e causou medo na população local. O juiz federal Walter Nunes, corregedor do Penitenciária Federal de Mossoró, disse à Folha que, “sem dúvidas”, esse foi o episódio mais grave da história dos presídios de segurança máxima do país.
Os dois presos estavam em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), onde as regras são mais rígidas que as do regime fechado. Nesse tipo de ala há um local para o banho de sol para que os detentos não tenham contato com outros presos.
Folha/UOL