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Globeleza se afasta da sexualização da mulher negra e busca redenção; veja vídeo

“Na tela da TV no meio desse povo, a gente vai se ver na Globo”. É difícil ouvir os versos de Jorge Aragão e não associá-los imediatamente ao corpo nu pintado de uma mulher negra sambando. Por décadas, a Globeleza reforçou esse imaginário da “mulata do samba”.

Em 2024, a vinheta da Globeleza retorna tentando mais uma vez se distanciar dessa imagem que é parte da cultura nacional televisiva. Agora surgem Alcione e Ludmilla, duas das maiores vozes da música popular brasileira, entoando o hino do Carnaval da Globo.

É simbólico que uma das maiores expressões da sexualização do corpo da mulher negra hoje dê espaço para o encontro entre duas gerações de cantoras negras, sem que isso tenha a ver com seus corpos.

A emissora arquiteta essa mudança de imagem ao longo dos últimos anos à luz do debate sobre temas como objetificação feminina, pressão estética e racismo. Criada pelo designer Hans Donner no início dos anos 1990, a vinheta deixou de ser protagonizada por uma mulher nua em 2017, quando a musa passou a sambar vestida.

Baartman foi objetificada e explorada devido ao seu corpo, particularmente por ter nádegas grandes, o que a levou a ser tratada com curiosidade e como símbolo da suposta inferioridade racial dos africanos. Isso foi justificativa para toda prova de exploração moral e sexual.

Ela era colocada em uma jaula, com vestes que davam a impressão de nudez, e era obrigada a encenar gestos considerados selvagens para plateias que a ridicularizavam e, em seguida, se regojizavam tocando em partes de seu corpo.

A vinheta da Globo por muito tempo foi violenta para mulheres negras, não pela sensualidade, mas por reduzir a mulher preta a esse espaço social. Imaginário que perdura há tanto tempo em parte pelo reforço midiático.

Ao substituir a representação da Globeleza por Alcione e Ludmilla, a Globo corre atrás de uma redenção por essa narrativa prejudicial. Em vez de retratar as mulheres negras apenas como objetos de desejo sexual, a nova vinheta reconhece sua arte, talento e contribuição cultural para o Brasil.

 

Transcrito da Folha/UOL

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