Hugo Motta evita se posicionar sobre anistia pelo 8/1 em busca de apoio do PL e PT à presidência da Câmara
O deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), nome de Arthur Lira (PP-AL) na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, tem se negado a dizer qual sua posição sobre o projeto de lei que dá anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro.
O parlamentar evitou responder a pergunta durante uma reunião com deputados do PT na noite de quarta-feira (16). Nesta quinta (17), questionado pela Folha, novamente evitou dar uma resposta e disse que a decisão será tomada por seu partido no “momento certo”.
O projeto de anistia tem sido lembrado nos bastidores das negociações pela eleição do comando da Casa. De um lado, o PL de Jair Bolsonaro quer a aprovação do texto, enquanto o PT de Lula é contra.
No jantar com petistas, Motta foi questionado por deputados sobre seu posicionamento acerca do tema, já que para integrantes da legenda, uma sinalização favorável à aprovação do projeto pode ser um obstáculo para o apoio ao parlamentar.
Segundo a reportagem apurou, o líder do Republicanos evitou tratar de seu posicionamento, sem dizer se é favorável ou contrário ao texto, e afirmou que não iria se envolver com o tema, já que tinha a palavra de Lira de que o presidente da Câmara “resolverá” essa questão ainda neste ano.
Ainda no jantar, o parlamentar disse aos petistas que pretende ser o candidato de convergência da Casa e que, portanto, isso terá reflexos na pauta do plenário caso seja eleito —indicando que não pautará projetos que tenham forte oposição de algum dos partidos que o apoiar.
Aliados de Motta dizem que isso não é tema de campanha, e que o projeto está na ordem do dia de Lira, não dele. Um interlocutor do parlamentar afirma ainda que uma coisa é a posição pessoal dele, enquanto deputado, e outra a sua como presidente da Câmara, caso eleito. Nesse sentido, ser contra ou a favor não significaria, necessariamente, que ele pautará ou não a proposta se chegar ao cargo.
O projeto de lei está hoje em análise na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara. No último dia 8, sua votação foi novamente adiada.
Em setembro, a apreciação do projeto na comissão teve como pano de fundo a sucessão de Lira, colocando em campos opostos os grupos de Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antonio Brito (PSD-BA), de um lado, e de Hugo Motta, de outro.
Elmar e Brito selaram aliança na disputa para fazer frente ao nome do Republicanos e tentam atrair o PT e o governo federal para apoiá-los. No dia 10 de setembro, os dois tentaram inviabilizar a votação do tema na CCJ, com apoio do PT. Já o grupo de Motta, aliado aos bolsonaristas, trabalhou para aprovar a medida.
O relator do projeto no colegiado, Rodrigo Valadares (União Brasil-CE), apresentou parecer ampliando o escopo da proposta e sugerindo perdão a todos os atos pretéritos e futuros relacionados aos ataques.
“Fica também concedida anistia a todos que participaram de eventos subsequentes ou anteriores aos fatos acontecidos em 8 de janeiro de 2023, desde que mantenham correlação com os eventos acima citados”, diz trecho de sua proposta.