Imprensado entre Bolsonaro e João, Euler se exibe na corda bamba do Poder com extremada esperteza
Tem gente que não se cansa nem põe limites para a esperteza na crença que todo mundo é muito tolo. Mas, quando a esperteza é muito grande invariavelmente engole o esperto, dizem os mais antigos.
Um decreto do presidente Jair Bolsonaro regulamentando uma Lei que equipara o soldo de miliares, ativos e inativos, extensiva aos militares estaduais, foi desnecessariamente publicado em um dos boletins internos da Polícia Militar da Paraíba.
Com muita discrição para evitar melindres ao governador João Azevedo empenhado em desconhecer essa legislação desde que patrocinou uma séria de rodadas de negociações, que atraiu para o picadeiro até o Poder Judiciário mediador de uma contenda sem fim como se comprovou depois de intermináveis rodadas de negociação, que resultaram em nada.
A publicação chamou a atenção de muita gente da caserna intrigada pelo fato de ser absolutamente desnecessária e gerou indagações sobre o objetivo: a quem atenderia essa publicação no boletim da corporação, já que de certa forma a legislação federal gera um desconforto para o governador paraibano, incapaz de promover os benefícios concedidos aos militares pelo presidente Bolsonaro.
Mas, para quem conhece a incrível capacidade do comandante geral, Euler Chaves, de se achar capaz de ludibriar senhores tão poderosos, ficou claro que a publicação seria uma estratégia para contentar o Conselho de Comandantes Gerais, cuja presidência foi conquistada por ele, através de muitos rogos – e até de lágrimas -, e cujas linhas ideológicas atendem e seguem o presidente visto e tido como benfeitor da categoria de militares, federal e estadual.
No receio de assinar a transcrição do decreto presidencial cujo teor constrange o governador financeiramente impedido de conceder a paridade tão almejada, Euller recorreu aos inestimáveis préstimos de um subalterno – que já devia estar na reserva, mas que permanece na ativa para atender a essas urgências e também para não perder 40% dos vencimentos, outro malabarismo que comprova toda astúcia do major comandante – que virou coronel num drible de mestre – para manter na atividade quem já devia envergar o pijama.
Guiando-se por essa estratégia astuciosa, bem ao seu estilo, Euler acende uma vela a Deus e outra ao Diabo, contentando o Conselho Nacional de Comandantes Gerais, entidade obscura, mas que abastece as necessidades de recursos humanos do capitão-presidente.
O Conselho de Comandantes segue fielmente a linha ideológica do Messias mantendo, atreladas ao Planalto, as corporações militares estaduais, comprovadamente, na sua imensa maioria, admiradoras do capitão Bolsonaro, independente das inclinações políticas dos governadores, como fica comprovado por essa incrível exibição de equilíbrio do comandante geral paraibano, mestre de capoeira, exímio aplicador de rabos de arraia e outros golpes famosos da luta de origem africana.
Essa dubiedade política-ideológica do coronel Euller, porém, vem sendo acompanhada com interesse e desconfiança por setores da Segurança Pública do Estado, que deseja saber até onde vão suas habilidades de equilibrista, que gosta de se exibir na corda bamba, mas com rede de proteção.