Jean Nunes retira do Comando Geral sindicância para apurar presença de espião em seu gabinete; secretário determina Corregedoria investigar os fatos
Por quase uma década a espionagem clandestina agiu livre e impunemente na Paraíba sustentada e amparada pela gestão de Ricardo Coutinho como se pode deduzir dos muitos fatos ocorridos nesse período devidamente denunciados, mas jamais apurados a fundo de forma que seus responsáveis fossem identificados e punidos na forma da Lei.
Personalidades como Luciano Agra, Ricardo Marcelo, José Maranhão, Luciano Cartaxo, todos adversários de RC, e alvos de espionagem de agentes, alguns comprovadamente lotados no gabinete do coronel Euller, como ficou evidenciando no último capitulo dessa sórdida trama policial, quando um agente da P2 foi surpreendido nas redondezas do gabinete do secretário Jean Nunes, detido depois de uma perseguição cinematográfica, com disparos e correrias em plena via pública bem ao estilo dos filmes de maior sucesso de bilheterias.
O que jamais foi desvendado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, apesar das reiteradas denúncias de autoridades de projeção, pode ter seu desfecho agora depois que o secretário Jean Nunes mandou encerrar a sindicância aberta pelo Comando Geral da Polícia Militar e encarregou a Corregedoria Geral da pasta de conduzir as investigações e os devidos interrogatórios, tirando a raposa do galinheiro.
Com essa determinação, o secretário espera dar celeridade ao caso, que vinha se arrastando conduzido a passos de cágado pelo Comando Geral na expectativa de deixar o assunto cair no esquecimento como de outras vezes. A decisão também revela a firme determinação do secretário de dar um basta nesta atividade criminosa cuja evolução e impunidade vinham emprestando um poder descomunal ao comandante geral detentor de informações obtidas de form ilegal que ninguém sabe para que objetivos vinham sendo coletadas.
A decisão chega em boa hora e revela também que o governador João Azevedo provavelmente um dos bisbilhotados como apontam relatórios internos, abraçou a causa e quer por em pratos limpos a extensão de uma atividade que se sobressai além de sua autoridade já que fora do seu controle.
As investigações, conduzidas pela Secretaria de Segurança, podem apontar toda extensão da rede de espionagem como também a quem e para quem servia essa coleta de informações clandestinas há tanto tempo em atividade no estado acobertada pela gestão passada e integrada por servidores de uma corporação que devia servir ao povo e não a grupos e a interesses os mais espúrios.
Uma década de arapongagem
Uma rápida pesquisa pelos últimos nove anos da política paraibana fica fácil perceber que uma atividade criminosa ganhou consistência e tornou-se recorrente no Estado: a arapongagem ou a espionagem clandestina vista e tida como criminosa pelas leis do país.
Fica mais fácil ainda detectar que ela “institucionalizou-se” no período em que o Ricardo Coutinho tomou as rédeas do Governo e levou para o comando geral da Polícia Militar o coronel Euller de Assis Chaves.
Foi a partir do advento do socialismo caboclo e da escolha do coronel para comandar a Polícia Militar que a espionagem ganhou corpo e atuação no estado invadindo gabinetes, poderes e a vida privada de autoridades e adversários do esquema socialista entronizado no Governo, seguindo uma escola que notabilizou e consagrou regimes totalitários pelo mundo afora.
Há muito que personalidades políticas denunciam e recorrem ao Ministério Público e a Polícia Federal para investigar essa atividade solerte, mas que parece não encontrar quem a detenha nem identifique nem puna seus autores e responsáveis, devidamente reconhecidos e identificados nos bastidores da Segurança Pública.
Desde os tempos de Luciano Agra, no longínquo ano de 2012, essa arapongagem foi detectada e denunciada aos órgãos competentes sem que nenhuma providência tenha sido tomada no decorrer de quase uma década.
Luciano Agra foi acompanhado por dias por uma araponga que procurava encontrar no seu trabalho solerte qualquer coisa que comprometesse o então prefeito da capital atividade que terminou sendo denunciada pelo amigo e auxiliar Nonato Bandeira hoje secretário de Estado e também vitima desse mecanismo de invasão de privacidade que terminou por confeccionar um dossiê contra o jornalista em virtude de suas posições de enfrentamento ao ex-governador Ricardo Coutinho.
Na Assembleia
A espionagem não tem fronteiras nem respeita poderes, e o presidente da Assembleia Legislativa, Ricardo Marcelo, também foi alvo e vitima dessa ação ousada e criminosa promovida por integrantes suspeitos de pertencerem ao esquema policial do Governo do Estado comandado pelo coronel Euller.
Ricardo Marcelo denunciou e viu uma varredura da Polícia Federal encontrar em seu gabinete um aparelho de escuta clandestino. A comprovação do crime, no entanto, não teve desdobramentos e não se sabe que providências foram tomadas e até hoje se desconhece quem instalou o grampo nas dependências do Poder Legislativo. Suspeita-se apenas.
Drones
Mostrando que não tem fronteiras e não respeita cara nem cargos nem história, as arapongas da gestão socialista de Ricardo Coutinho não hesitaram em rondar a residência do provecto senador José Maranhão, e drones foram visto sobrevoando à residência do então candidato a prefeitura da capital.
Outra vez a Polícia federal foi acionada, mas nada foi revelado sobre o que pode ter sido apurado da espionagem nos arredores da casa do senador e a atividade continuou a todo vapor sem que os responsáveis sejam identificados e punidos, provando toda força e influência de quem está por detrás dela.
Prefeitura de novo
No começo deste ano, através de seus advogados, o prefeito da capital, Luciano Cartaxo, também denunciou a atividade criminosa, que vinha vasculhando sua privacidade, recorrendo aos mesmos métodos acintosos e corriqueiros desses últimos nove anos de poder socialista ainda vivo e atuante na atual gestão supostamente instalada no gabinete do comandante geral e que se expandiu para dentro do Governo principalmente depois do racha do PSB, quando até o governador João Azevedo, hoje desafeto de Ricardo, estaria sendo espionado conforme indícios contidos nos relatórios encaminhados pela inteligência da Sedes ao secretário e já devidamente informado ao Chefe do Executivo.
Flagrante
Até então a dúvida beneficiava o réu, no caso em questão o coronel Euller sempre suspeito, mas sem provas contundentes que apontassem definitivamente para sua participação nesse festival de episódios sórdidos, onde a privacidade alheia tornou-se alvo de investidas de agentes pagos com o dinheiro do contribuinte, instigados para atender interesses subalternos.
Mas essa atividade não ficou restrita aos adversários políticos do ex-governador e ela passou a atender também aos interesses pessoais de perpetuação no cargo do comandante.
Ele passou fazer uso dessa estrutura para espionar o próprio governo e colegas que por ventura atrapalhassem seus planos de expansão e controle dentro da administração estadual, como evidenciam os fatos posteriormente constatados.
Foi assim com o ex-secretário de Segurança Pública, Claudio Lima, que teve sua vida e de familiares infernizadas pelos espiões do coronel Euller, que montaram campanas e outras arapucas para constranger o colega de equipe e seu superior hierárquico.
Mas, como tudo um dia tem fim e a máscara termina por cair, recentemente, um desastrado espião do coronel terminou flagrado, bisbilhotando os arredores do gabinete do atual secretário Jean Francisco nos mesmos moldes empregados tantas e tantas vezes sem que nenhuma punição tenha ocorrido.
Apesar dos vastos tentáculos do coronel – espalhados pelo interior do Governo e particularmente dentro da Secretaria – agirem no sentido de minimizar e liberar quase que imediatamente o agente da inteligência militar, o estrago estava feito.
E nem o esperneio do chefe imediato do espião, o coordenador de Inteligência da corporação, major Tibério, negando veementemente a existência da rede de espionagem taxando de fantasiosas as declarações do secretário, possibilitou esmaecer a presença física do espião comprovando que, de fato a atividade existe e permanece em plena atividade na atual gestão faltando agora à ação enérgica do governador, ele supostamente também alvo e vitima.
Um inquérito foi instaurado e medidas de caráter paliativo e protelatório tomadas, anunciando o afastamento do espião, quando, pela gravidade do fato e pelas reiteradas denúncias das muitas autoridades alvo dessa estrutura sombria e tenebrosa, os superiores hierárquicos do espião já não podiam estar mais nos cargos, até em respeito à opinião pública e a própria instituição, que não pode continuar sob o comando de pessoas de comprovada falta de idoneidade e de extrema periculosidade.
Se até então só havia suspeitas e murmúrios, agora há um espião lotado no gabinete do comandante vivo e pronto para dizer o que sabe se for corretamente interrogado. Além dele, relatórios de posse do secretário apontando essa atividade já do conhecimento do governador.
Mais ainda: a sindicância sai da alçada do Comando Geral e passa para a inteira responsabilidade da Corregedoria Geral da Sedes, o que pode delimitar toda extensão dessa rede de espionagem, que vinha invadindo a privacidade de autoridades, incluídas o Secretário de Segurança e o próprio governador, o que dá a exata noção de sua ousadia e explicaria o desmedido poder e influência do comandante Euller.
O porquê do Ministério Público e da Polícia Federal, diversas vezes acionados, até agora não se manifestarem, faz parte dos muitos mistérios e segredos que envolvem esse mundo sombrio da espionagem.