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Lucros bilionários e a realidade da população: A Caixa Seguridade e o abismo entre o sistema financeiro e o Brasil real

Enquanto o Brasil ainda luta para se reerguer da crise econômica, com milhões de pessoas enfrentando dificuldades para garantir o básico, os bancos seguem sorrindo para o caixa. E não falo de sorrisos tímidos, mas de gargalhadas abafadas pelos montantes exorbitantes que as instituições financeiras continuam a registrar, como é o caso da Caixa Seguridade. Com um lucro líquido de R$ 1 bilhão no terceiro trimestre de 2024, a companhia, braço de seguros e previdência da Caixa Econômica Federal, segue provando que o sistema financeiro brasileiro é um verdadeiro jogo de soma positiva para poucos, enquanto para a maioria a conta nunca fecha.

No cenário em que 77% das famílias brasileiras estavam endividadas até o terceiro trimestre de 2024, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), com a inflação corroendo o poder de compra da classe média e os juros nas alturas, é difícil entender como uma empresa pública, que deveria estar a serviço do povo, consegue faturar tanto. A Caixa Seguridade não apenas lucrou mais de R$ 1 bilhão, mas também pagará R$ 930 milhões em dividendos, ou seja, 92,5% de seu lucro, para seus acionistas. Um valor que poderia ser, talvez, melhor empregado para reduzir taxas de juros ou melhorar o acesso a serviços financeiros para a população mais carente. Mas não, o sistema segue premiando os mesmos de sempre.

E a Caixa Seguridade não está sozinha. O jogo é o mesmo para todos os grandes bancos do país. O Itaú Unibanco, por exemplo, registrou lucros de R$ 6,2 bilhões no segundo trimestre de 2024, o Bradesco obteve R$ 5,2 bilhões no mesmo período, e o Banco do Brasil, apesar de ser estatal, também tem mantido uma média de lucros astronômicos. Enquanto isso, milhões de brasileiros estão atolados em dívidas, com taxas de juros que beiram o absurdo, especialmente no crédito pessoal e no cheque especial.

Aumenta o lucro, mas não a confiança. O lucro bilionário desses bancos é, na verdade, um reflexo de um sistema que sobrevive à custa do endividamento da população. A verdadeira pergunta que fica no ar é: quem realmente se beneficia desse modelo? Não são as famílias brasileiras, que gastam meses para conseguir quitar suas dívidas com um cartão de crédito, enquanto as instituições financeiras batem recordes de rentabilidade. A lógica é simples: você empresta dinheiro para quem já tem, cobra taxas exorbitantes e, quando a pessoa não consegue pagar, aumenta ainda mais a dívida com juros escorchantes.

E as estratégias não param por aí. O foco no aumento da venda de produtos como seguros, previdência e consórcios segue em ritmo acelerado, com destaque para a Caixa Seguridade, que viu suas reservas de previdência crescerem para R$ 167,6 bilhões e as receitas de taxa de administração aumentarem 12,5% em relação ao ano passado. Não importa se o consumidor já está sufocado pela inflação e pelos altos juros; o que importa é vender mais e mais. Nesse cenário, as famílias brasileiras acabam se tornando clientes de um sistema que mais parece uma máquina de fazer dinheiro — para os bancos.

Além disso, é sempre bom lembrar que esses resultados são conquistados com estratégias agressivas de marketing e vendas. A Caixa Seguridade, por exemplo, intensificou as campanhas de consórcios e seguros, enquanto seus concorrentes, como o Itaú Seguros de Vida e Previdência, continuam a promover suas apólices com comissões altíssimas para os vendedores e poucas opções para os consumidores. O que importa para essas instituições não é o bem-estar dos clientes, mas sim os dividendos milionários que podem ser distribuídos aos seus acionistas.

E não é só o setor de seguros e previdência que está em festa. O mercado de capitalização também viu um crescimento de 49% nas vendas de produtos com pagamentos mensais, que garantem aos bancos uma rentabilidade ainda maior, com um modelo de negócios que favorece a perpetuação do ciclo de endividamento e do consumo compulsivo. Para essas empresas, a vitória é sempre a mesma: lucros recordes, enquanto os consumidores continuam a pagar mais por serviços cada vez mais caros e menos acessíveis.

Enquanto isso, o povo segue tentando sobreviver com o que tem, vendo a desigualdade crescer e a conta do banco aumentar. O mercado financeiro, em sua maioria, tem pouco compromisso com o país ou com a realidade de quem luta para conseguir fechar o mês. O que vemos são bancos que, no fim das contas, só ajudam a aprofundar a miséria financeira de grande parte da população. O lucro recorde da Caixa Seguridade — assim como o de outros bancos — é a prova de que, para o sistema bancário, o Brasil só é rentável quando as dívidas crescem e os consumidores não têm para onde correr.

Esse modelo, sustentado por juros altos e uma oferta de crédito abusiva, deixa claro que, enquanto os lucros dos bancos continuam a disparar, o abismo entre a classe empresarial e a população só aumenta. Não há grande diferença entre os lucros da Caixa Seguridade e os resultados de seus concorrentes privados. No fim das contas, o sistema financeiro segue sendo uma verdadeira máquina de gerar lucros para poucos — enquanto o Brasil real, com suas imensas dificuldades, só vê mais e mais dívidas.

 

Por Pedro Chaves.

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