Mapa do Projeto Solos Potiguara vai orientar plantios dos agricultores indígenas na Paraíba
Os últimos produtos para o mapa do Projeto Solos Potiguara, elaborados pela Embrapa Solos (uma divisão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária dedicada principalmente ao estudo dos solos no Brasil), foram entregues este mês de junho à Associação Paraibana dos Produtores de Mel da Baía da Traição (Associação Paraíba Mel), na Aldeia São Miguel, no litoral norte paraibano.
“O mapa vai ficar disponível na Associação e na Embrapa de Pernambuco, que nos ajudou nesse projeto, e vai servir aos agricultores que nos procurarem e vamos passar as informações diagnosticadas pelo estudo”, informa o vereador Ronaldo do Mel (sem partido), que integra a direção do Paraíba Mel e é vice-presidente da Câmara Municipal de Baía da Traição (CMBT).
Ronaldo explica que, dentro dos 21 mil hectares do território potiguara demarcado e homologado, existem vários tipos de solo e o agricultor indígena não tinha nenhuma informação sobre isso. “Com o mapa, vamos melhorar na escolha e na cultura que o agricultor vai plantar em determinada área em que ele estiver. A gente vai fornecer as informações: olha, nesta área você vai poder plantar feijão, milho, mandioca ou outro tipo de cultura”.
O vereador ressalta que são informações precisas ao agricultor. “Não é plantar ‘pra vê se dá’. Com o mapa, o agricultor já vai certo no que vai dar certo”, avalia ele, acrescentando que essas informações também vão ser importantes para se conseguir o financiamento do banco, que vai saber da área onde o agricultor vai trabalhar e a cultura que ele escolheu para aquela área, que se identifica com aquele solo”, antecipa Ronaldo. “São informações que o nosso povo não tinha”.
O projeto teve início em março de 2022 e o levantamento foi até dezembro do mesmo ano. Ronaldo destaca que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) conduziu todo o processo, desde o edital de seleção até o acompanhamento e monitoramento dos projetos aprovados e financiados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que tinham foco nos biomas Mata Atlântica e Pampa.
O técnico agrícola Víctor Júnior de Lima Felix da Associação Paraíba Mel, de 31 anos, indígena potiguara de Baía da Traição, foi quem desenvolveu e coordenou o projeto de levantamento (etno)pedológico e potencialidades dos solos como subsídio para gestão territorial e ambiental da terra indígena potiguara, que, durante a sua execução, passou a ser chamado de Projeto Solos Potiguara.
“Ele é um jovem indígena potiguara que saiu pra estudar fora e se formou, se especializou e fez mestrado em solo. Ele estava como o técnico da Associação”, informa Ronaldo do Mel. Víctor Júnior saiu de Baía da Traição em 2010 para cursar Agroecologia pelo Instituto Federal da Paraíba (IFPB), no campus de Picuí, tendo se formado em 2014.
No mesmo ano, ele ingressou na Pós-Graduação em Ciência do Solo pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), campus de Areia, onde fez mestrado (2014-2016) e, em seguida, o doutorado (2016-2020). “Após ter conseguido alcançar a titulação máxima acadêmica, meu desejo era voltar para a minha cidade e poder contribuir na minha área de atuação junto ao meu povo”, revela Víctor.
Ele diz que isso foi possível através da Associação Paraíba Mel, “que abriu as portas para as minhas ideias e que teve como ponte principal meu tio José Carlos, que sempre foi parceiro institucional da Associação como técnico da Empaer, mas que na época era também o presidente”. E Vítor ainda destaca: “Além dele, Ronaldo do Mel contribuiu para a minha chegada e integração na Associação, alinhando ideias de projetos e ações”.
O Projeto Solos Potiguara foi aprovado no âmbito da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), foi monitorado pela Funai, com subvenção do Pnud, e teve como principais objetivos analisar e registrar o conhecimento dos potiguara sobre os solos do território e realizar o levantamento de reconhecimento de alta intensidade de solos, gerando mapas em escala detalhada. “O Projeto Solos Potiguara é a realização de um sonho que nasceu enquanto ainda estava na universidade e que vejo como essencial no planejamento da gestão sustentável do território potiguara”, finaliza Víctor Júnior.