Ninguém resiste ao diário e a caneta: somos todos, João e Cícero
Ninguém pode duvidar nunca do poder da caneta e do diário oficial. Essa dupla fortalece e impõe qualquer liderança desde que possa acioná-los E não seria diferente com o governador João Azevedo praticamente um neófito na política, mas já esbanjando força e musculatura suficientes para recomendá-lo como a maior liderança em atuação no estado haja vista as conversões que promoveu neste curto período em que ocupa a cadeira de Chefe do Executivo paraibano.
Ao iniciar sua trajetória nesse tormentoso mar da politica de um estado que respira politica 24 horas, João Azevedo comprou uma briga para se manter independente e firmar uma imagem de líder que alguns poucos não queriam que assumisse. Nessa luta pela sobrevivência teve de sair de partido e iniciar assim sua carreira solo, abandonando o ninho onde prosperou como auxiliar de destaque.
Ninguém apostava que conseguisse essa façanha e que seu novo partido (Cidadania) sofreria de raquitismo, definharia à sombra do gigantesco PSB, do seu patrono Ricardo Coutinho.
E, num primeiro instante, quando se achava que Ricardo entupiria Monteiro num evento ardilosamente preparado para mostrar que a rebeldia de João não havia abalado o prestígio do ex-governador, eis que meia dúzia de gatos pingados atendem a convocação e a manifestação se torna um fracasso, revelando que um novo líder surgia no horizonte da política paraibana.
Mais a frente João deu um ultimato as viúvas de Ricardo e disse que, quem não estivesse satisfeito pedisse o boné, o que não aconteceu e apenas um ou dois ricardistas de carteirinha pediram exoneração, ficando o Governo aboletado de socialistas, cuja cor laranja esmaeceu de forma rápida e até surpreendente, descorada pelo enorme poder que a caneta e o diário exercem nesse universo de tantas metamorfoses.
À medida que Ricardo se desidratava politicamente, João se “anabolizava” e assumia de fato às rédeas do poder enquanto Ricardo afundava em escândalos, que hoje engoliram sua reputação e reduziram a quase nada sua densidade politica.
E nada mais emblemático dos efeitos dessa transformação do que as eleições municipais, onde reputados ricardistas, aqueles de carteirinha, mudaram de lado e hoje são acólitos do governador da hora, daquele que detém a caneta e o diário, comprovando a força do poder em exercício.
A foto que ilustra a matéria pode causar estupor a muitos, já que um dos que saem nela, apresentando-se engajado na campanha de Cícero, depois de ter usufruído por oito anos de uma gestão que se desmanchou em escândalos.
Ele, um dos mais fieis auxiliares de Ricardo, quando nem mesmo as explosões que derrubaram os portões do PB1, foram capazes de removê-lo do cargo. Mas hoje segue firme e forte na luta para eleger Cícero, mostrando o quanto é fácil esquecer velhos companheiros mesmo aqueles que o retiraram da obscuridade.
Essa brusca mudança de lado serve para mostrar toda inspiração de Augusto dos Anjos, quando disse nos seus Versos Íntimos:
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Ninguém conhecia mais a alma humana do que o autor do EU.