Novela da bolsa desempenho dos militares ainda não tem um final feliz
Um estratagema diabólico urdido nos tempos em que reinava destemperadamente a turma da Calvário engessou a mais antiga instituição em atividade no Estado: a Polícia Militar.
Como forma de manter o controle e a submissão de uma tropa tradicionalmente rebelde e protagonista de grandes enfrentamentos com tudo o que é e foi Governo, mentora de gigantescas paralisações, Ricardo e maquiavélicos assessores bolaram uma bolsa desempenho destinada premiar o esforço individual de cada integrante desta secular corporação, discriminando os que já estavam na reserva e ameaçando os na iminência de ir.
A polemica bolsa desempenho de tão polêmica atravessou todas as instâncias da Justiça para voltar mais polêmica ainda e se constituir até hoje no maior entrave entre Governo e associações representativas da corporação, que defendem a extensão do benefício também aos inativos.
Um prazo que se esgotaria agora no dia 4 deste mês impediu que o Governo se visse obrigado implantar por força de determinação judicial o tão discutido e ansiosamente esperado benefício, o que não impediu que usasse a sua proverbial capacidade de protelar quando o assunto é despesa e anunciar em tom de retumbante euforia um estudo para transformar em subsídio a tão explosiva bolsa desempenho.
A proposta causou revolta entre as lideranças da corporação que, em live criticaram e rechaçaram as intenções do Governo e consideraram um golpe nos interesses da tropa, principalmente naqueles segmentos que envergam o pijama, exasperados com o que consideram mais uma manobra para não atender o que já foi determinado pela Justiça.
A bolsa desempenho de tão polêmica já foi considerada inconstitucional da forma que se paga pela assessoria técnica do TCE, que emitiu parecer exigindo sua regulamentação.
Apesar desse entendimento, a corte ainda não analisou as contas de Ricardo Coutinho de 2017, mas deve acatar o que concluiu a assessoria e reprovar a bolsa desempenho enquanto ela for paga da maneira como vem sendo paga.
O Governo, deixando para a undécima hora, anunciou que pretende regulamentar a bolsa e pagá-la como subsídios, como forma de atender as recomendações técnicas do TCE, e evitar prováveis rejeições, mas não encontrou receptividade entre os militares.
O que a princípio foi uma solução para dar tranquilidade e permitir o controle da tropa, transformou-se em estopim quando o tempo de serviço se esgota e os beneficiados são obrigados ir para a reserva.
Para não perderem as regalias que a bolsa oferece tem muita gente, já de bengala, que não quer ir para casa e assim contribui para estrangular a corporação, impedindo o fluxo normal das promoções, único instrumento capaz de oxigenar e desobstruir a fila.
Com todos esses ingredientes de uma novela que não vale a pena ver de novo, Governo e associações iniciam mais um confronto cujo The End ainda não tem data marcada para acontecer pelo menos enquanto durar a pandemia.
E, assim vai dar audiência para muitos pescadores de águas turvas e de bombeiros que preferem apagar fogo com gasolina.