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NÚMERO DE POLICIAIS MORTOS COM COVID-19 É MAIS QUE O DOBRO DOS QUE FORAM ASSASSINADOS NAS RUAS EM 2020

São 465 óbitos de agentes em razão do coronavírus, ante 198 assassinados em serviço ou de folga no Brasil. Além disso, um em cada quatro policiais foi afastado das atividades em algum momento em razão da doença no país apenas no ano passado.

A Covid-19 provocou somente no ano passado a morte de 465 policiais no Brasil. É mais que o dobro do número de agentes assassinados nas ruas do país em 2020. A doença também tem afetado diretamente a rotina nas corporações. Um em cada quatro policiais brasileiros foi afastado das atividades em algum momento durante a pandemia por apresentar sintomas, fazer parte de algum grupo de risco ou ter de fato contraído o novo coronavírus.

Os dados, inéditos, fazem parte de um levantamento exclusivo do G1 com base em informações coletadas nas polícias Civil e Militar e nas secretarias da Segurança Pública dos 26 estados e do Distrito Federal.

Os números revelam que:

465 policiais civis e militares da ativa morreram vítimas da Covid-19 em 2020, mais que o dobro do número de agentes assassinados no país (198)

Rio de Janeiro (65), Amazonas (50) e Pará (49) foram os estados com mais policiais mortos

126.154 policiais foram afastados da função em algum momento, o que representa 25% do total do efetivo no país

Tocantins foi o estado com o maior percentual de afastamentos pela doença: 38% do total

Todas as unidades da federação tiveram ao menos um policial morto pela doença no ano passado.

Esse número hoje é certamente maior, já que não são levados em conta no dado os primeiros meses deste ano, quando a Covid-19 atingiu seu pico.

O levantamento faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Os pedidos foram feitos para as assessorias de imprensa das corporações e por meio da Lei de Acesso à Informação.

Para Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, e Samira Bueno e Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os números revelam o cenário de tragédia e medo que a gestão da pandemia ajudou a construir no Brasil. “Gestão essa que parecia ignorar até menos de um mês atrás que uma quantidade significativa de profissionais de segurança pública trabalha em contato direto com a população e está em constante risco de contaminação e, ainda, de transmitir o vírus para seus familiares e amigos.”

“Foi somente no fim de março que tais profissionais ganharam o direito de serem vacinados. Até então, fora da lista inicial dos grupos prioritários para a vacinação do Programa Nacional de Imunização (PNI), os policiais têm tido um papel central na gestão da crise sanitária, especialmente na garantia de medidas de distanciamento social e proteção de equipamentos de saúde pública.”

“Os números são, portanto, um alerta para que os policiais brasileiros parem de ser tratados como marionetes do jogo político, inclusive por representantes de suas próprias categorias. É preciso que os mecanismos de proteção, saúde e valorização do trabalho previstos na lei que criou o SUSP (Sistema Único de Segurança Pública) sejam efetivamente colocados em prática e não se transformem em letra morta ou normas esvaziadas. Mudar a segurança pública implica em mudar a forma como governos, sociedade e polícias se relacionam entre si. A vida não pode ser menosprezada e/ou a morte banalizada”, afirmam os especialistas.

Combatendo o crime e a Covid-1O sargento da PM do RJ Diógenes Moreno, de 43 anos, morreu após contrair a Covid-19. Enquanto estava internado no Hospital Central da Polícia Militar, no Centro do Rio, mandou uma mensagem a um amigo alertando sobre o perigo da doença. “É uma situação complicada, né? A gente só acredita quando acontece com alguém próximo. Eu tô aí de exemplo. Então, o bagulho é sério”, disse Diógenes.

“Bagulho que eu nunca tive na minha vida. Convulsão, nunca tive isso. Aí, três em menos de 24 horas. Então, o que eu peço a vocês aí é: se cuidem! Se Deus quiser, daqui a uns dias eu tô saindo daqui…pra casa!” Dias depois, porém, o sargento Diógenes morreu por problemas respiratórios causados pela doença.

O soldado da Polícia Militar Jonathan Felipe Silva de Melo, de 28 anos, não conseguiu concluir o curso de formação da PM em Registro, no interior de São Paulo. Foi impedido pela Covid-19.

Jonathan foi um dos 64 contaminados em um surto de coronavírus no 14º Batalhão da Polícia Militar de SP. Foi internado antes da formatura por complicações da Covid-19 e morreu 10 dias depois de os colegas receberem o diploma. Ele era casado e tinha um filho de 9 anos.

Um dos colegas de farda do jovem, o soldado Tavares, de 29 anos, disse que o amigo era um exemplo de superação e sempre falava para todos que fazia tudo pelo filho, que era seu maior incentivo.”No final do módulo básico, ele estava correndo o risco de não concluir o curso, pois não conseguia fazer o mínimo de barras fixas, então ele passou a se esforçar muito para conseguir. Treinava todos os dias quando chegava no quartel e após o expediente também”, disse.

“Antes de concluirmos o curso, o encontrei pelo quartel para passar no médico e ele já estava bem debilitado, mas me disse que era apenas um resfriado evoluindo para uma possível pneumonia. Ao passar pela triagem foi transferido imediatamente para o hospital. No primeiro dia, ele ainda mandou mensagem no grupo do pelotão, mas depois já foi induzido ao coma.”

Já o sargento da PM de SP Erico Rodrigo de Oliveira, 48 anos, sobreviveu à Covid-19 depois de ficar 16 dias intubado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Oswaldo Cruz, no bairro Vergueiro, Zona Sul de São Paulo. Quando teve alta, saiu com os rins paralisados e quase sem conseguir andar, com a musculatura atrofiada.

“Fiquei inconsciente e quando acordei não me recordava nem de como vim parar no hospital. Quando eu recobrei a consciência não sabia onde estava e o que aconteceu”, disse Erico.

Por G1

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