O Brasil à beira do abismo institucional depois do desafio de Bolsanaro ao STF
O Brasil encontra-se à beira do abismo institucional a se considerar o noticiário que eclodiu na imprensa brasileira relatando os fatos estarrecedoras que ganharam corpo e projeção nas declarações tonitruantes do presidente Bolsonaro sinalizando para um confronto com o Poder Judiciário alvo de agressões verbais de auxiliares e de seguidores nas redes sociais, onde as fakes News explodem incessantemente.
Bolsonaro deixou claro que não vai permitir que as investigações se aprofundem em torno de parentes e amigos e que as determinações do ministro Alexandre Moraes não serão cumpridas pela Polícia Federal e, caso haja insistência, ele recorrerá a medidas drásticas e draconianas para impedir que a Lei siga seu curso.
O cenário de confrontação recebe uma análise acurada do jornalista Ricardo Cappelli na sua coluna no Congresso em Foco que reproduzimos abaixo:
Brasil, maio de 2020. É preciso parar o fascismo
“Entre a desonra e a guerra, escolheste a desonra, e terás a guerra”. (Winston Churchill)
“Careca”, “moleque”, “arrombado” e “idiota” foram os adjetivos utilizados pelos “fuzileiros” bolsonaristas para caracterizar o ministro Alexandre de Moraes. O inquérito conduzido por ele atingiu o coração da blitzkrieg.Bolsonaro chegou ao poder importando uma nova tática de guerra. Ela já havia sido testada com sucesso no Brexit. Em termos de segurança digital, o Brasil é uma piada. Viramos um case para o fascismo mundial.O inquérito das fake news chegou ao núcleo do esquema de financiamento e disseminação de mensagens criminosas. Têm ciência no jogo. Psicometria e algoritmos movidos por inteligência artificial fazem cada pessoa receber uma mensagem única.
É a era da customização da comunicação de massa. Um mecanismo que permite estuprar processos democráticos e está desestabilizando democracias pelo planeta.
O ministro Luís Roberto Barroso, que assumiu o TSE, já disse que pautará o processo que pede a cassação da chapa. Alexandre levanta a bola e Barroso corta. Sentindo que a guilhotina pode cortar seu pescoço também, Mourão atacou o STF.Tudo indica que estamos próximos de um impasse estratégico. Após tantos xingamentos e ameaças, foi estranho ninguém amanhecer preso. O STF irá recuar? Depois do passo dado, seria um grave sinal de debilidade, uma carta branca para as hordas fascistas.
Estamos no momento em que todos estão contando as garrafas. Bolsonaro possui ou não apoio das forças armadas para um rompimento institucional? Tem base real nas forças militares estaduais? De onde viria a reação? Seria um rompimento “tradicional”?Eduardo Bolsonaro declarou que a questão é “quando” e não “se” eles darão o autogolpe. O STF deu um xeque-mate. Agora é quebrar ou ser quebrado. O capitão será derrotado? Acabará afastado e preso?
Temos uma tempestade perfeita. Mortes escalando, desemprego nas alturas, medo, desesperança e as instituições em frangalhos, trocando tapas em praça pública.
A Rússia de 1917, envolta em mortes, fome e desintegração do governo deu a vitória aos bolcheviques, mas poderia ter conduzido ao poder um governo conservador liderado pelo general Kornilov.
O mundo vai se meter? A China deixará de negociar com o país? Putin invadiu e anexou a Crimeia, repetindo Catarina, “A Grande”. A Europa calou.
Que forças continuam sustentando o presidente? Setores do agronegócio? A Fiesp? Parte das igrejas evangélicas? Os grandes bancos e o mercado financeiro? O Fascismo continua sendo a ditadura terrorista do capital financeiro?
Em 1938, o Reino Unido, imaginando uma paz conciliadora com a Alemanha, assinou o Pacto de Munique cedendo parte da Tchecoslováquia para Hitler. Churchill criticou a decisão de Chamberlain: “Entre a desonra e a guerra, escolheste a desonra, e terás a guerra”.
É preciso pará-lo.
Ricardo Cappelli