O Jogo do Bicho permanece intocável e atuante na PB; contraventores ocupam cargos de destaque, desafiando as autoridades
A Paraíba tem umas peculiaridades que não contribuem para lhe distinguir como estado civilizado e obediente aos ditames constitucionais. O jogo do bicho seria uma dessas excrescências que jogam os paraibanos no rol da contravenção diferentes de outras naturalidades, onde essa rentável atividade existe, mas de forma clandestina e não acintosa como aqui na terra dos tabajaras.
Proibido desde a década de 40 por Getúlio Vargas, o jogo de bicho ganhou ares de legalidade depois de uma Lei estadual que já foi derrubada pelo STF, mas que não inibiu a desfaçatez dos barões do jogo do bicho na Paraíba, onde andam de braços dados com as autoridades, frequentam os melhores ambientes, galgam postos e conquistam mandatos eletivos, turbinados pela força do dinheiro e da capacidade de oferecer empregos de subsistência.
O jogo do bicho no Paraná, por exemplo, não teve forças para manter no cago de presidente da Câmara Municipal de Arapongas nem em liberdade o vereador Oswaldo Alves dos Santos, o Oswaldinho – mantido preso por decisão do ministro Humberto Martins do STJ -, acusado de envolvimento com o jogo do bicho e lavagem de dinheiro.
Aqui na Paraíba a atividade já sofreu várias investidas do Ministério Público, Federal e Estadual, e a alegação usada pelo então governador João Agripino de que extinguiria o bicho se o Governo Federal lhe garantisse 4 mil empregos, não encontra respaldo no Procurador Chefe do Gaeco na Paraíba, Otávio Paulo Neto, que defende a repressão aos contraventores.
O Jogo do Bicho é tão entranhado no estado e com o Governo que a Loteria Estadual gerenciava a atividade e a emissora oficial transmitia os sorteios três vezes ao dia e só depois de derrubada a Lei estadual é que a relação revestiu-se de certa discrição ainda não suficiente para encobrir e disfarçar a presença dos contraventores no interior do Governo, ocupando cargos e funções de destaque.
Vem de longe essa relação de promiscuidade entre o Governo e os figurões do jogo do bicho, investidos em mandatos eletivos de vereador e deputado, circulando nos mais sofisticados ambientes sociais como se contraventores não fossem.
Passado nebuloso
Em 1998, a Folha de São Paulo, um dos veículos de comunicação de maior prestígio no Brasil, enviou um repórter especial para cobrir essa excrescência jurídica, já que nos demais estados o jogo é passível de punições pela Lei das Contravenções.
A matéria serve para provar que, em vez de coibido o Jogo do Bicho prosperou na Paraíba, e um dos seus protagonistas de vereador à época galgou cargos e saiu da Câmara Municipal de João Pessoa para a Assembleia Legislativa, onde permanece supostamente patrocinado pelo dinheiro que o STJ suspeita ser produto de lavagem como é o caso do vereador de Arapongas.
Não ficou apenas nisso e ser, o vereador um caso isolado muito pelo contrário: Ele teria aberto uma trilha por onde outros supostos contraventores também chegaram a Assembleia e a bancada do bicho reforçada na Casa de Epitácio Pessoa.
A Câmara de vereadores da capital não fica atrás e continua sendo uma plataforma de lançamento para a Assembleia, e um dos mais legítimos representantes da atividade por pouco não ganha a presidência da Casa de Napoleão Laureano, recentemente.
O Rei da Banca
Mas as cobras menores também fazem parte dessa hierarquia e dita as normas do seu bunker na pequena cidade de Bayeux.
Meloso, atuante nos grupos sociais da cidade, onde integra um grupo que ele chama do bem, Zezito é conhecido pelo dinheiro que ostenta e pela capacidade de intimidar quem se atravessa na sua frente e quem atrapalha seus negócios montado em avenida de destaque e funcionando desde 1974, em constante e permanente desafio as autoridades, confiado nas relações com o Poder politico e nas amizades com deputados estaduais.
Zezito seria uma reprodução do Oswaldinho de Arapongas sem mandato eletivo, mas tão poderoso e influente quanto o colega paranaense, capaz de fazer exigências, as mais descabidas, à gente como a prefeita Luciene de Fofinho sem cuidado de guardar as aparências.
Ele seria um reputado colaborador de campanhas eleitorais e suspostamente um dos credores mais fortes do falecido Expedito Pereira.
Zezito também é conhecido pelas relações estreitas com deputados estaduais de quem desfrutaria de atenção privilegiada.
Tão poderoso e confiante, Zezito tem desafiado autoridades fechar sua banca de bicho. Para sorte dele, o Ministério Público paraibano não é tão atuante quanto o do Paraná, que prendeu e mantém preso o seu colega Oswaldinho.