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ColunasGisa Veiga

O malvado favorito da direita

 A leitura que se faz, na imprensa nacional, da decisão da Câmara dos Deputados de manter a prisão preventiva do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido) é de que foi uma vitória dos governistas e do Supremo Tribunal Federal, e um consequente desgaste para o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), que se movimentou contra a manutenção da prisão. Brazão é apontado como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e seu motorista, Anderson Gomes, em 2018.

 

É, foi uma derrota da direita radical. Mas o placar apertado – 277 votos “sim”, 129 votos “não”, 28 abstenções – indica que ainda há muitos parlamentares defensores da bandidagem. Porque, no mínimo, diante das evidências escancaradas pelas investigações policiais, ainda que reste alguma dúvida, era para os deputados zelarem pelo “bom nome” do Parlamento e afastarem o coleguinha encrencado até o veredicto final.

 

Alguns, com mais intimidade com o direito penal, alegam que, pelo tempo em que aconteceu o crime, estaria afastado o flagrante e, com isso, a necessidade de prisão preventiva. Encobrem, ardilosamente, o fato de que há o chamado crime continuado, nesse caso com manobras para iludir investigadores (que, na verdade, não se mexeram) e a Justiça. Em crime continuado, permanece a legalidade da prisão preventiva. Portanto, votaram pela liberdade não por uma suposta questão legal, mas para protegerem seu “malvado favorito”.

 

Eu gostaria de saber o que se passa na cabeça daqueles que votaram contra a manutenção da prisão de um fortíssimo suspeito da macabra encomenda. Muitos deles são os mesmos que bradaram, num passado recentíssimo, que bandido bom é bandido morto. Mas, na primeira oportunidade, protegem seu malvadinho. Fizeram de tudo, até tentaram esvaziar o plenário para inviabilizar a votação, quando sentiram cheiro de derrota no ar.

 

Talvez pior do que votar pela liberdade seja a fraqueza dos sonsos – os que se abstiveram ou, simplesmente, não participaram da votação.

 

 

Um comentário sobre “O malvado favorito da direita

  • Texto perfeito da sempre atenta jornalista Gisa Veiga

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