O vício do cachimbo deixa a boca torta: empresário preso em Natal por desvio de dinheiro público ganha licitação para serviços no QCG da PM
Uma obra aparentemente banal destinada à manutenção e conservação de prédios públicos, tombados pelo valor histórico e cuja preservação se faz imperiosa como, por exemplo, o Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, onde já funcionou a Assembleia Legislativa e outros órgãos estatais, pode ser a porta aberta para conchavos e mutretas como sugere o requerimento encaminhado pelo deputado Cabo Gilberto pedindo a suspensão do processo licitatório de número 006/2019 (tomada de preços) para contratação de serviços de recuperação da rede elétrica do prédio histórico.
Nem mesmo o alarido da Operação Calvário, que ontem levou para as grades mais um auxiliar de primeiro escalão do Governo de João Azevedo – provavelmente um dos participantes da reunião da segunda-feira, o já exonerado Ivan Burity da pasta de Turismo – inibe ou constrange determinados integrantes do esquema girassol e a licitação promovida pelo Comando Geral da PM, mesmo debaixo de toda essa efervescência, apontou como vencedora a empresa pertencente a Allan Emmanuel Ferreira da Rocha, preso na Operação Cidade Luz, deflagrada pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte, acusado de ser um dos mais atuantes e indiscretos operadores do esquema criminoso, que desviou recursos daquele estado.
Allan Emanuel Ferreira da Rocha é figura carimbada no mundo das operações nebulosas e esteve preso no Rio no Grande do Norte por integrar um esquema criminoso, que desviava dinheiro da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos de Natal. Mas esse currículo mafioso, não foi impedimento para que concorresse e ganhasse a licitação promovida pelo Comando Geral da Polícia Militar, cujo comandante coronel Euller era uma das peças de maior destaque e projeção de uma gestão que afunda em escândalos e entope as celas das prisões paraibanas com figuras que pontificaram no Governo de Ricardo Coutinho.
Aqui na Paraíba criou uma nova empresa: a Castro Rocha Ltda, CNPJ 32.185.141/ 0001-12, aberta há menos de um ano, onde figura como sócio e transita tranquilamente pelo mundo sombrio das licitações, como se não pesasse nada contra ele na Justiça, ganhando licitações como a que venceu promovida pelo Comando geral da PM.
Nem mesmo o ribombar das ações do Gaeco amedronta figurões do esquema político em decomposição, e situações como esta de flagrante comprometimento e envolvimento com personalidades do mundo da corrupção, não são evitadas em nome do decoro e em respeito à nova gestão, lutando desesperadamente para se afastar desse redemoinho de escândalos, que já tragou uma dezena de reputações.
O requerimento do deputado de oposição tem uma faceta singular, que se mostra muito mais atenta muito mais zelosa pela reputação do Governo que fiscaliza do que propriamente a base aliada omissa e até cumplice desses setores suspeitos, ainda preservados e que pelo resultado do processo licitatório mostram não ter abandonado o modus operandi que notabilizou a gestão passada de envolvimento e comprometimento com tudo o que é nebuloso e sombrio.
O documento do deputado encaminhado para alertar o governador dessa licitação no mínimo desastrada, cuja empresa vencedora tem um sócio que não apresenta a menor credibilidade – pelos fatos acontecidos em Natal distante menos de 200 km do quartel do comando geral – vem sendo travado pela burocracia legislativa, o que deve retardar sua chegada ao conhecimento do governador revelando certo desleixo ou descabida omissão diante da gravidade dos acontecimentos.
O certo é que a prática persiste haja vista o requerimento do deputado e sua urgência em alerta o governador para os riscos dessa licitação, mostrando que os subterrâneos do Governo ainda continuam sendo obstruídos por celebridades da gestão passada com estarrecedora desfaçatez, como se nada do que está acontecendo tivesse o menor efeito ou causasse a menor apreensão, pelo menos a figurões de coturnos, num desplante de ousadia que deveria incomodar o Gaeco.