Opinião política gera xingamentos e cancelamentos
As Eleições 2022 movimentam as ruas e as redes diariamente. Com a polarização cada vez mais crescente e acentuada no cenário nacional, em virtude da disputa em segundo turno para o cargo de presidente da República, a busca por apoio de pessoas públicas que são formadoras de opinião na sociedade e acumulam milhões de seguidores nas suas redes. Esses atores sociais podem ser peças importantes no xadrez estratégico em busca da vitória nas eleições.
Para o professor Rodolpho Raphael de Oliveira Santos, que é Mestre em Comunicação e especialista em Mídias Digitais, Comunicação e Mercado, o apoio de pessoas públicas vem sendo crescente pela característica das chamadas bolhas que agem no processo de decisão, mas também pode se dar em nichos menores. Por estarem fazendo parte dessas bolhas, o público sente a necessidade de posicionamento dos atores que eles se sentem e se enxergam como representados.
“Essa eleição de 2022 está bem atípica do que as anteriores. Essa é a segunda campanha eleitoral com legislação e viés totalmente voltado para as redes e público das redes e isso tem sido um fator preponderante para que as pessoas tenham a sua tomada de decisão e saiam de cima do muro. As pessoas ficam esperando as pessoas públicas ou semi-públicas para saberem quem ela vai apoiar. No cenário atual em que estamos, a campanha eleitoral é de personagens e de temas, mas os temas são subtópicos. As pessoas querem saber quem você vai apoiar”, declarou.
A presença digital mencionada pelo professor pode ser observada a partir de dados do Monitor de Redes Sociais, disponibilizado pelo Jornal Estadão. O gráfico com volume de menções relacionados a cada candidato cresceu substancialmente na aproximação do primeiro turno do pleito, saindo da média de 700 mil menções de ambos os candidatos para 2,8 milhões para Lula (PT) e 1,5 milhão para Bolsonaro (PL).
Agora os candidatos mantêm uma média acima do que foi observado no primeiro turno. O último levantamento completo, considerando as 24h de publicações e menções nas redes, ocorreu na quarta-feira, onde o candidato petista manteve a ponta nas menções com 968.441 contra 764.384. (via jornal A União)
O volume de menções ressalta uma estratégia que já foi confirmada pelas campanhas de ambos os candidatos na busca do engajamento nas redes. Antes dos brasileiros irem às urnas, ambas as campanhas focaram nos apoios de artistas e pessoas públicas, como um todo, na busca por converter a influência que os personagens possuem em possíveis votos, engajamento em redes e militância nas ruas.
O apoio de figuras públicas, no entanto, não é uma novidade desta eleição. Essas pessoas já exerciam seu posicionamento em diversos outros períodos políticos e históricos do Brasil como, por exemplo, durante o movimento das Diretas Já, que objetivava a retomada das eleições presidenciais diretas. Neste período, artistas e jogadores de futebol, como Sócrates, ex-jogador do Corinthians, que se tornou um símbolo do movimento e da mobilização popular.
Nestas eleições, com a maior presença de jovens aptos para votar, o posicionamento com declaração de apoio a um determinado candidato tende a influenciar o público engajado nas produções e conteúdos da pessoa. Isto porque, com a escalada de descrença com a política brasileira, levou esses jovens a rejeitarem as formas tradicionais de fazer política, buscando influenciadores que defendam a causa para gerar identificação com o conteúdo produzido.
“Vejo de forma positiva para o engajamento da campanha de um determinado candidato porque, de certo modo, essa forma de apoio e de adesão ela se transforma em um elo entre candidato e outras pessoas que, por ventura, estejam indecisas ou que votam no candidato, mas conhecem outras que estão indecisas e levam o testemunho para que mais pessoas possam ficar a par do que está em evidência”, afirmou Rodolpho Raphael.
O preço do posicionamento
Entre essas figuras públicas estão os influenciadores digitais. Já em agosto, o próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE) convidou 30 influenciadores de todo o Brasil para visitarem a sede e conhecerem o sistema eletrônico de votação e a página ‘Fato ou Boato’. A experiência foi compartilhada com os milhões de seguidores que estes atores acumulam em suas redes para o enfrentamento à desinformação sobre fraudes no sistema de votação, com teorias massivamente compartilhadas antes e durante as eleições.
Nos dias que antecederam o primeiro turno, atores, cantores, influenciadores e pessoas públicas, no geral, movimentaram as redes declarando apoio aos presidenciáveis. A paraibana Juliette, cantora e campeã de reality show, se posicionou e perdeu seguidores. O mesmo movimento aconteceu com a influenciadora e empresária Bianca Andrade, o influencer alagoano Carlinhos Maia, o jogador Neymar e tantos outros. Aliado a perda de seguidores, as figuras públicas sofrem com outro agravo das redes sociais: o cancelamento.
Cancelamento é, em poucas palavras, o ato de repreender e atacar as figuras públicas a partir de um determinado ato ou posicionamento que não seja bem recebido. O próprio Rodolpho Raphael de Oliveira Santos observou o decréscimo de seguidores após se posicionar. O professor acumulava 17 mil seguidores nas redes e, após o posicionamento, perdeu quase 500 seguidores em menos de três horas. “Isso se deve pelo fato que todos nós, querendo ou não, vivermos em bolhas, e elas exercem um certo fator preponderante para o nosso processo de decisão porque a partir do momento que faço parte de uma bolha, eu me torno também influenciador dessa bolha. Como também existem personagens que são anônimos, quando na verdade não são, porque dentro de suas bolhas exercem um poder hegemônico de influência sobre outras pessoas”, observou o pesquisador.
De acordo com a YouPix, consultoria de negócios para criadores de conteúdo, o mercado de influência vem sofrendo uma retração de um quinto durante o período eleitoral, apesar de 83,2% das empresas terem declarado que não vão mudar os planos de comunicação em geral nas eleições. A pesquisa da empresa informa ainda que 8,8% dos criadores relataram que marcas ou agências pediram para que eles não se posicionassem a respeito de temas políticos este ano. A audiência, no entanto, cobra. Ao todo, 34% dos influenciadores informaram que suas audiências cobram posicionamentos políticos. Outros 77,6% disseram que política não faz parte da temática.
Mesmo com a tendência a neutralidade, o pesquisador observa que mesmo perdendo seguidores, é interessante que os influenciadores se posicionem. “Não vejo com bons olhos assumir em quem você vai votar. Porém, as pessoas hoje estão cobrando muito para que esses influenciadores saiam de cima do muro e rompam a perspectiva da neutralidade, que também não vejo com bons olhos diante do cenário de nós temos, de ameaça a democracia, as pessoas vão precisar assumir em quem vão votar”, finalizou Rodolpho Raphael de Oliveira Santos.
Mesmo com as publicações dos influenciadores se massificando nas redes sociais, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decretou que influenciadores digitais não podem participar das campanhas, seja com apoio formal a um determinado candidato, participando de agendas, programas eleitorais no rádio e TV ou utilizando canais para algum tipo de menção que demonstre a preferência do seu voto.
Foto: Alex green/Pexels