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Perfis em redes sociais fazem mapas divertidos e politicamente incorretos

Se cada país europeu fosse uma pessoa, como eles chegariam a uma festa? De acordo com uma página de mapas virais no Instagram, a França apareceria fumando um cigarro, a Itália bebendo um vinho, a Noruega levando todos os amigos, o Reino Unido bêbado e indo embora mais cedo, e a Espanha chegando três horas atrasada. A Rússia, por sua vez, iria ao evento mesmo sem ser convidada.

A brincadeira foi criada e desenhada pelo perfil Atlasova, que publica mapas informativos e engraçados em suas redes sociais. Páginas do mesmo tipo misturam sarcasmo e geopolítica no Instagram e no Twitter. (via Folha de S. Paulo)

Recentemente, o Atlasova publicou também um mapa que estimula seus seguidores a pensar: como você chama aquelas pessoas que comem outros seres humanos? Segundo a arte, os europeus se dividem entre “canibal” ou “comedor de homens”. A Turquia, porém, tem um jeito exclusivo de denominar essa prática: yamyam (a pronúncia é muito semelhante à onomatopeia “nham, nham”).

Brincadeiras à parte, alguns desses perfis também publicam mapas com conteúdos informativos. O mesmo Atlasova, por exemplo, posta quase diariamente mapas políticos, geográficos e econômicos, como “Protestos na China estão ficando mais intensos”, “Como o mundo pode parecer daqui a 250 milhões de anos” e “Bitcoin é uma moeda legal em seu país”.

Mas, afinal, é possível confiar nesses mapas? “Não, você não pode”, diz à Folha o criador do Atlasova, Auke Ross. “Somos uma página de entretenimento, não um periódico científico. Tentamos fazer o nosso melhor, filtrando os dados mais precisos, mas no fundo isso é um hobby pra gente; não ganhamos muito dinheiro, e isso está longe de ser um trabalho”, acrescenta.

Ross, 31, é um cientista político holandês que mora em Roterdã. Ele aproveita seu tempo livre para levantar dados e publicar mapas como esses.

A 2.000 quilômetros dali, um adolescente búlgaro de 17 anos controla a Amazing Maps, página de 103 mil seguidores no Instagram que publica, diariamente, mapas e infográficos com conteúdos ainda mais sérios e políticos do que os divulgados por perfis desse tipo.

Ele diz que os dados publicados são colhidos de fontes confiáveis, como o instituto britânico YouGov e os censos locais. Uma rápida pesquisa na página, porém, evidencia que Pamyatinih também utiliza o Wikipedia para coletar dados —a plataforma de pesquisa pode ser editada por qualquer usuário da internet, o que a torna menos confiável.

Além disso, há vários mapas criados com dados de terceiros e não, necessariamente, da fonte primária. Há cerca de dois anos, o Instagram suspendeu a Amazing Maps. “Sou búlgaro e, na época, fazia mapas que incomodavam nossos vizinhos, como Sérvia e Macedônia; com isso, várias pessoas podem ter denunciado minha página. Consegui recuperá-la, mas hoje eu aprendi a lição e não faço mais esse tipo de conteúdo”, afirma Pamyatinih.

Entre as publicações questionadas está um “mapa alternativo” dos Balcãs. No desenho de Pamyatinih, a Macedônia e o Kosovo são encobertos pela Albânia; já Montenegro e Bósnia pela Sérvia. No mesmo mapa, algumas ilhas turcas no mar Egeu são atribuídas à Grécia —a região é palco de conflito entre gregos e turcos. “Esse mapa é cringe”, comentou um seguidor, enquanto outro chamou a página de “nacionalista grega sem graça”.

Hoje, o adolescente de 17 anos consegue arrecadar dinheiro com seu perfil. Ele criou uma loja online para vender mapas personalizados por € 10 euros cada (R$ 55) e consegue receber, em média, € 150 por mês. “Metade dos meus clientes é americana, mas há muitos ingleses e alemães também”, diz.

Segundo Ferreira, o Instagram bloqueou da página gráficos que mostravam valores descontingenciados da educação e da saúde de 2019 a 2021.

Ocasionalmente, o perfil também publica mapas descontraídos, como o “Nomes mais populares do pão brasileiro”. Com base em dados do Google Trends, Ferreira constatou que os mineiros chamam o alimento de “pão de sal”, parte dos paulistas de “filão”, os paraibanos de “pão aguado” e parte dos amazonenses de “pão massa grossa”.

“Quem vê a imagem em si não imagina a leitura antes de ela ser criada. Faço isso porque nem sempre uma imagem vale mais que mil palavras”, afirma Ferreira.

 

Transcrito do site da Folha de S. Paulo

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