PGR denuncia governador do Acre ao STJ e pede seu afastamento do cargo
Gladson Cameli e outras 12 pessoas são acusadas de organização criminosa e corrupção; Defesa dele nega irregularidades
A PGR (Procuradoria-Geral da República) denunciou o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), e outras 12 pessoas pelos crimes de organização criminosa, corrupção nas modalidades ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro e fraude a licitação. O político é acusado de receber mais de R$ 6 milhões em propina. De acordo com a Procuradoria, as irregularidades teriam causado prejuízos de quase R$ 11,7 milhões aos cofres públicos.
Além da condenação, a Procuradoria pediu o afastamento de Cameli até a conclusão da instrução criminal (preparação do processo para julgamento). Somadas, as penas pelos crimes podem ultrapassar 40 anos de reclusão. Os autos apontam que houve contratação fraudulenta da empresa Murano Construções, que teria recebido R$ 18 milhões para a realização de obras viárias e de edificação. Análises técnicas indicaram que teria havido um sobrepreço de R$ 8,8 milhões, além de um superfaturamento de R$ 2,9 milhões nos serviços contratados.
De acordo com o advogado Pedro Ivo, que atua na defesa do governador, o pedido de afastamento é “arbitrário” e “decorre de outro já indeferido” pelo tribunal. O criminalista negou as irregularidades atribuídas ao político e disse que há ilegalidades em sua tramitação.
Assinada pelo subprocurador Carlos Frederico Santos, a denúncia foi enviada ao STJ (Superior Tribunal de Justiça (STJ), foro para processamento de autoridades como governadores), na terça-feira (28). A informação foi divulgada pela PGR nesta quinta (30).
Foram também denunciados a mulher e dois irmãos do chefe do Executivo acreano, servidores públicos, empresários e pessoas que teriam atuado como “laranjas” no esquema.
A CGU (Controladoria-Geral da União) confirmou irregularidades como o pagamento por insumos e serviços que não foram efetivamente fornecidos. Isso foi possível, segundo a denúncia, a partir de fraudes nas medições e termos de ateste assinados por servidores que integravam o esquema.
A Murano e empresas subcontratadas por ela —uma das quais tem como sócio Gledson Cameli, irmão do governador— teriam pagado propina ao chefe do executivo estadual em valores que superam os R$ 6,1 milhões, por meio do pagamento de parcelas de um apartamento em bairro nobre de São Paulo e de um carro de luxo, segundo as investigações.
Embora a denúncia trate apenas dos crimes praticados no âmbito do contrato firmado pelo governo estadual do Acre com a Murano, afirmou a PGR, o esquema se manteve mesmo após o encerramento da contratação. Há indícios de fraudes em oito contratos, e a estimativa é que os prejuízos aos cofres públicos alcancem quase R$ 150 milhões.
Em manifestações anteriores sobre o caso, a defesa do governador afirmou que ele “não cometeu qualquer ilegalidade e o inquérito servirá para comprovar sua inocência, deixando claro que sua gestão sempre foi pautada pela ética e eficiência”.
“Desde o início do inquérito, o governador já prestou os devidos esclarecimentos, colocou-se à disposição das autoridades e assim permanece”, diz a nota assinada pelos advogados Ticiano Figueiredo, Pedro Ivo Velloso, Tarcísio Vieira de Carvalho Neto e Telson Ferreira.
FOLHA/UOL
FOTO: Reprodução Gladson Cameli no Facebook