Polícia Federal encontra documentos de operação da Abin com Ramagem
A Polícia Federal (PF) encontrou documentos sobre uma operação da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em comunidades do Rio de Janeiro (RJ) na residência de Alexandre Ramagem, alvo de busca e apreensão.
O ex-diretor da Abin durante o governo Jair Bolsonaro, hoje deputado federal do PL no Rio de Janeiro, é alvo de uma investigação da PF que apura como a agência foi usada contra adversários de Bolsonaro em ações de inteligência clandestinas. Policiais federais próximos de Ramagem, equipe conhecida como “Abin paralela”, são suspeitos de executar essas operações, segundo a PF.
Na busca, em 25 de janeiro, foram encontrados também na casa de Ramagem um celular e um notebook que que pertencem à Abin. Após sair da agência em março de 2022, Ramagem não poderia manter consigo nenhum documento ou equipamento da agência, segundo uma norma da Abin.
Além de poder responder por infração administrativa por ter continuado com material da Abin, Ramagem pode responder por crime de violação de sigilo profissional, se for comprovado que houve algum vazamento das informações de inteligência da agência para terceiros.
Procurada pelo UOL, a Abin afirmou que “indivíduos que não mais exerçam atribuições funcionais compatíveis com determinado dado não devem mais exercer qualquer tipo de tratamento sobre ele, como utilização, acesso, reprodução, transmissão, distribuição, arquivamento, armazenamento, entre outros”.
A Abin usou verba secreta para pagar informantes em comunidades do Rio de Janeiro dominadas pelo tráfico, onde as milícias têm interesse de entrar, como revelou o site Metrópoles.
A ação se chamava “Plano de Operações 06/2021” e foi uma das maiores prioridades de Ramagem durante sua gestão, segundo fontes da agência, apesar de a área de segurança pública não fazer parte das atribuições da Abin. A agência deve atuar só quando há risco à segurança nacional.
A PF apura se houve algum desvio de finalidade nessa operação, executada por policiais federais aliados a Ramagem. Segundo o Metrópoles, houve um gasto de R$ 1,5 milhão com informantes.
Os papéis encontrados na casa de Ramagem estavam descaracterizados, sem logo ou identificação da Abin, e sem data. A PF vai questionar a agência para verificar de onde veio o documento e quando ele foi produzido.
Procurado pelo UOL para comentar o documento encontrado em sua casa, Ramagem não respondeu.
Natália Portinari/UOL
Foto: Gilmar Félix/Câmara dos Deputados