Sexta-feira Santa de sangue, com tiros, mortos, feridos e show musical da PM sob a regência do comandante geral
Foi uma sexta-feira Santa sangrenta essa de 2020, mais terrificante ainda pelos efeitos do coronavirus, que não permitiu que as tradições religiosas acontecessem para evitar as aglomerações.
A violência explodiu em bairros da periferia com tiroteios entre facções, deixando mortos e feridos numa demonstração de que o Governo perdeu o controle da situação e os índices de homicídios voltaram a crescer de forma exponencial nos três primeiros meses do ano derrubando a versão anterior de que, tudo estava sobre controle vendida à exaustão como forma de exaltar uma eficiência que na verdade nunca existiu mantida apenas pela maquiagem carregada que emoldura os objetivos dos farsantes.
O coronavírus mudou a realidade do país e a do estado, mas não mudou a compulsiva vocação para a pirotecnia que caracterizou e ainda caracteriza certos setores e certas figuras de um Governo, supunha-se encerrado, mas que persiste pelo modus operandi de falsear a realidade brutal com retoques de ficção frascária bem ao gosto dos folhetins televisivos que obcecam a plebe ignara.
Sem o menor pudor, esses resquícios do crime organizado, desbaratado pela Operação Calvário, aproveitam-se da situação de medo e aflição de uma população desassistida em termos de tudo, para vender seu peixe podre da Semana Santa numa exibição de cinismo e despudor que afronta e desmerece a imagem de um Governo já cambaleante herdeiro de um lodaçal onde ainda habitam esses tipos asquerosos da raça humana.
Enquanto na periferia a realidade brutal desmonta o cenário de ficção abatendo vidas, em conflitos que as forças de segurança não conseguem mais conter, um pequeno grupo de fantoches se exibe nos bairros mais sofisticados da cidade na desesperada tentativa de angariar aplausos de uma parcela de privilegiados poderosos a imitar os vaga-lumes piscando as luzes de suas gaiolas douradas como prova de reconhecimento a uma Polícia que lhes garante a tranquilidade embalando suas noites com os sucessos da música nacional e internacional.
Tem causado furor nas redes sociais a clara tentativa de angariar o aplauso dos poderosos como meio de manter no cargo quem chegou a ele por manobras espúrias e que precisa com urgência explicar com clareza que tipo de relações manteve com o chefe da organização criminosa atualmente portando tornozeleiras, como também oferecer explicações para o aumento vertiginoso dos homicídios e do roubo ao patrimônio como consequência da ausência de policiamento ostensivo e preventivo na cidade notadamente nos bairros mais pobres da capital.
A bandinha alegre e saltitante formada por músicos que tocam nas noites pessoenses e, eventualmente vestem farda, e jamais escalada para o enfrentamento com bandidos, não pode reclamar da vida como fazem outros policiais, indignados com a politica de favorecimento para quem se presta aos propósitos pessoais do comandante, alguns inconfessáveis notadamente aqueles que abrangem o período do ex-governador.
Igual a bandinha, a turma da P2 também leva a vida na flauta, vasculhando segredos horripilantes dos poderosos e influentes como receita para segurar no Poder quem lhes garante privilégios como os de não usar fardas e não se submeter a estafante escala de serviço, regalias que contemplam um pequeno exercito de 174 homens e mulheres.
Da mesma forma aquela turma de 412 militares espalhados pelos poderes servindo como cães de guarda, estafetas, motoristas e outras atividades que os assemelha ao bombril – provavelmente a serviço daquelas luzes que piscavam entusiasticamente das janelas dos recintos de luxo tão atraente para a libélula fardada que os comanda.
Uma instituição secular – a mais antiga do estado – longe e distante das ruas, onde um efetivo defasado e exaurido se desdobra para compensar essa ausência inexplicável que revela a total falta de planejamento e de compromisso com a segurança de todos, evidenciando uma polícia usada para atender interesses pessoais e de esquemas, cuja maquiagem grotesca esconde a face tenebrosa dos que a manipulam.
Essa, a polícia dos poderosos, ” em simbiose e cumplicidade” com as classes dominantes, mas de costas para a violência que assola os bairros, onde os acertos de contas aumentam os índices de homicídios e abre espaço para a Justiça do crime organizado, impondo regras e limites na ausência do poder público entretido em tocar modinhas, repetindo a orquestra do Titanic, embalando a tragédia, ao som de salmos e cânticos, enquanto à tripulação se consumava nas águas gélidas do Atlântico Norte.
Foi uma sexta-feira Santa de contrastes, mostrando de que é feito a segurança pública na Paraíba: de um lado a ficção frascária de um obcecado pelo poder e de outro a realidade selvagem das ruas, onde a bala e o ódio ditam as regras na ausência de um Governo submetido ao delírio do que resta de mais comprometedor de uma organização que fazia uso da Polícia para escoltar dinheiro roubado ao povo.
Até quando abusaras da paciência nossa?